Taipei, Taiwan
CNN
A relação entre Taiwan e os Estados Unidos passa por um momento crucial com a ascensão do ex-presidente Donald Trump. Durante seu primeiro mandato, Trump foi amplamente percebido como um aliado da ilha, fornecendo suporte através da venda de armamentos e visitas diplomáticas em nível elevado. Contudo, à medida que se prepara para uma nova corrida presidencial, sua retórica e postura podem indicar uma mudança drástica, deixando Taiwan em um estado de incerteza e preocupação quanto ao futuro de sua segurança e suas relações internacionais.
A última campanha de Trump foi marcada por declarações controversas, incluindo a afirmação de que Taiwan deveria pagar mais pelos serviços de “proteção” oferecidos pelos Estados Unidos. Além disso, Trump acusou a ilha de ter “roubado” negócios do setor de semicondutores dos EUA, gerando preocupações sobre como essa dinâmica afetará a economia taiwanesa, que é fortemente dependente da indústria de chips. O cenário apresenta-se cada vez mais volátil, à medida que a perspectiva de um novo governo Trump em um segundo mandato se torna iminente, levando especialistas a questionar se a segurança de Taiwan será reforçada ou ameaçada.
“A maioria das pessoas está ansiosa”, afirmou o professor Chen Ming-chi, ex-assessor do Conselho de Segurança Nacional de Taiwan, em entrevista à CNN. “Devido à imprevisibilidade de Trump, não sabemos se Taiwan estará mais seguro ou se enfrentará mais perigos durante seu segundo mandato.” Observadores concordam que, independentemente dos sentimentos, Taiwan precisará aumentar significativamente seus investimentos em defesa e manter um diálogo ativo com a administração de Trump para garantir apoio contínuo dos Estados Unidos.
O papel dos Estados Unidos na proteção de Taiwan é respaldado pela Lei de Relações de Taiwan, que obriga Washington a garantir que a ilha tenha os meios necessários para se defender, fornecendo armamentos defensivos. Os laços diplomáticos entre Taiwan e os Estados Unidos, embora não oficiais, permanecem sólidos, com dirigentes veteranos do governo de Taiwan expressando confiança em que, apesar das mudanças políticas nos EUA, os canais de comunicação, especialmente em termos militares, continuam a prosperar.
Recentemente, o presidente taiwanês Lai Ching-te, em declarações após as eleições de novembro, ressaltou a importância da amizade entre Taiwan e os Estados Unidos, afirmando que a ilha se mostra disposta a ser “o parceiro mais confiável”. No entanto, especialistas ressaltam que Taiwan deve observar atentamente como Trump articula sua política externa, nomeia líderes para a defesa e responde a crises internacionais, como o conflito na Ucrânia, para entender melhor o que o futuro poderá trazer para a relação bilateral.
Um fator que pesa muito nesse cenário é o aumento da intimidação militar por parte da China, que considera Taiwan parte de seu território. Nos últimos meses, a China intensificou suas atividades militares, enviando aeronaves e navios de guerra perto de Taiwan quase diariamente. A situação se torna ainda mais tensa quando se considera que, recentemente, o Ministério da Defesa de Taiwan relatou que a China promoveu sua maior mobilização marítima na região em décadas, preparando-se para exercícios militares em resposta a visitas não oficiais de líderes taiwaneses a locais como o Havai e Guam.
Embora as ameaças a Taiwan se intensifiquem, Trump, diferente de seu antecessor Joe Biden, tende a adotar uma abordagem menos direta em relação à defesa da ilha. Enquanto Biden manifestou claramente que os Estados Unidos poderiam intervir militarmente caso a China atacasse Taiwan, a postura de Trump é mais ambígua. “A política de ambiguidade estratégica dos EUA em relação a Taiwan provavelmente será mantida, mas Trump pode levar isso a um novo patamar de incerteza”, sustentou um ex-oficial da administração que trabalhou tanto sob Trump quanto Biden.
As declarações de Trump, como quando sugeriu que Xi Jinping, o presidente da China, o respeitava e que ele é “louco”, indicam uma visão que mistura bravata com pragmatismo. A proposta de impor tarifas massivas sobre produtos chineses, em vez de uma resposta militar direta, poderia ter implicações significativas para a economia taiwanesa e global.
Especialistas acreditam que Taiwan deve não apenas aumentar seus gastos em defesa, mas também prestar mais atenção às suas cadeias de suprimento, especialmente no campo de semicondutores. Trump frequentemente acusa Taiwan de “roubar” a indústria de chips dos EUA, o que gera preocupações sobre imensas tarifas sobre as exportações de chips da ilha, vitais em produtos de tecnologia de ponta. Um movimento nesse sentido poderia desfazer o que é conhecido como o “escudo de silício” que, segundo alguns, protege Taiwan das ameaças da China.
Essas considerações são amplificadas pela realidade de que Taiwan tem um histórico de aquisição de armamentos e equipamentos militares dos Estados Unidos, com uma demanda pendente de mais de 20 bilhões de dólares em pedidos não entregues. A proposta de um orçamento militar recorde este ano representa 2,5% do PIB da ilha, ainda longe da proposta de Trump de 10%, que colocaria Taiwan entre os maiores gastadores militares do mundo.
O cenário econômico de Taiwan se entrelaça de forma crítica com suas relações militares e é financeiro com os Estados Unidos. O recente compromisso de Trump com um gabinete repleto de “duras penas” para a China sugere que Taiwan pode enfrentar mais pressão para atender a essa expectativa. Em resposta, a indústria de semicondutores de Taiwan, que constitui uma parte vital da economia global, necessita demonstrar por que é uma parceira confiável e como sua tecnologia é superior à dos concorrentes da China.
A contagem de 2024 se aproxima rapidamente, e com isso surgem ciclos eleitorais e tensões geopolíticas que moldarão o futuro de Taiwan na arena internacional. O pequeno estado insular, uma joia no coração da Ásia, precisa se preparar e adaptar-se a um cenário em constante evolução, enquanto a balança do poder global é cada vez mais incerta.