Washington
CNN
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A promessa do presidente eleito Donald Trump de implementar novas tarifas sobre produtos estrangeiros tem sido muito comentada, mas outra importante proposta do líder republicano passou relativamente despercebida antes da eleição de novembro. Trump anunciou seu desejo de renegociar o Acordo EUA-México-Canadá (USMCA), uma reestruturação que pode impactar significativamente o cenário econômico da América do Norte.
O USMCA, que substituiu o antigo Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) em 2020, foi imenso em sua abrangência e potencial de transformação econômica. A expectativa de uma revisão do acordo estava prevista para 2026, independente das promessas de Trump, uma vez que essa revisão é um requisito do próprio USMCA. Contudo, o alerta de Trump às nações vizinhas, Canadá e México, como seus principais parceiros comerciais, significa que ele poderia buscar alterações substanciais.
Essa renegociação pode influenciar outras prioridades políticas de Trump, como segurança nacional, imigração e criminalidade. Embora o USMCA não trate diretamente desses tópicos, o pacto comercial pode ser utilizado como uma ferramenta de alavancagem para o presidente eleito. “É uma ferramenta muito funcional para Trump alcançar o que ele deseja”, comentou Francisco Sanchez, ex-subsecretário de Comércio para Comércio Internacional sob a presidência de Barack Obama.
Desde a vitória nas eleições, Trump deixou claro que pretende impor tarifas sobre todos os produtos que entram dos países vizinhos no primeiro dia de seu mandato, a menos que o Canadá e o México consigam conter a entrada de imigrantes e drogas ilegalmente. Este ultimato já resultou em uma conversa telefônica entre Trump e a presidente do México, Claudia Sheinbaum, além de uma visita do primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, à sua propriedade Mar-a-Lago, que pode ser interpretada como um esforço para dialogar sobre as ameaças comerciais e manter as relações comerciais estáveis.
O que o USMCA prevê e como ele se diferencia do NAFTA?
O NAFTA, implementado em 1994, criou uma zona de livre comércio na América do Norte, eliminando tarifas sobre a maioria dos bens comerciados entre os três países. OUSMCA continuou essa perspectiva de livre comércio, e, conforme os dados mostram, o comércio regional floresceu, apoiando cerca de 17 milhões de empregos na América do Norte, fruto da cooperatividade econômica.
Embora o USMCA tenha mantido muitos dos elementos centrais do NAFTA, ele também introduziu novas diretrizes, como um capítulo sobre comércio digital e o reforço das normas trabalhistas no México, além de abrir ainda mais o mercado canadense de laticínios para os agricultores dos EUA. O foco do acordo no setor automobilístico é notável, pois exige que 75% das peças de um veículo sejam produzidas em uma das três nações – um aumento em relação ao requisito anterior de 62,5% – para que se mantenham isentas de tarifas ao transitar dentro da região.
“Acredito que isso certamente preserva nossa capacidade de manter uma indústria automobilística relativamente robusta”, disse Sanchez, reforçando a importância dessas normas. Contudo, ainda há discussões sobre os impactos do NAFTA e do USMCA. Economistas geralmente concordam que o comércio livre contribui para o crescimento econômico a longo prazo, mas apontam a presença de vencedores e perdedores neste cenário.
O que os acordos comerciais significaram para o mercado de trabalho?
Os impactos dos acordos comerciais são complexos e estimularam debates divisivos nos setores trabalhistas americanos. A percepção negativa do NAFTA, por exemplo, o levou a se tornar um “termo de ódio” durante a campanha de Trump. Gary Hufbauer, do Instituto Peterson de Economia Internacional, ressalta que a principal mudança até agora com o USMCA foi apenas a troca de nome.
Os dados mostram que o comércio entre os três países continuou a aumentar desde que o USMCA entrou em vigor em julho de 2020. No entanto, a efetividade das novas regras de conteúdo automotivo só será plenamente conhecida em 2027, quando as normas estiverem totalmente implementadas. Antes disso, a Comissão de Comércio Internacional dos EUA observou que, com as novas exigências, as importações de componentes automotivos diminuíram, o que ajudou a aumentar a receita, o emprego e os salários na indústria automobilística dos EUA.
Possíveis implicações de uma nova renegociação do USMCA
Observando a trajetória de Trump, suas declarações anteriores indicam que ele pode estar buscando ajudar a impulsionar a indústria automobilística dos EUA, uma vez que sugeriu, durante a campanha, a imposição de uma tarifa de 100% sobre carros importados. O USMCA já tem regras que requerem uma parte significativa das peças dos veículos fabricadas em uma das três nações. Portanto, uma renegociação poderia reforçar uma forma mais acentuada de incentivar a manufatura em solo americano.
Além disso, os desafios atuais das fábricas de automóveis podem encontrar no aumento dos salários no México uma oportunidade para revitalizar a produção em solo americano, uma vez que produzir no México geralmente implica custos menores devido à diferença salarial. Há também uma expectativa de que Trump busque a cooperação do México para lidar com a China, especificamente em relação às práticas de evasão e tarifas.
O presidente eleito também pode se concentrar em maneiras de reduzir o déficit comercial, um indicador econômico que o preocupa. Contudo, essa métrica é influenciada por diversos fatores econômicos e não foi reduzida com a implementação do USMCA, conforme demonstram os dados mais recentes.
Com a tensão crescente entre as nações, será intrigante observar como essa nova abordagem nos acordos comerciais pode moldar o futuro econômico da América do Norte e o impacto que terá em cidadãos e trabalhadores da região. Para onde essa história vai agora? A única certeza é que, com Trump na liderança, o cenário econômico da América do Norte pode passar por mudanças significativas.