Durante uma histórica visita a Córsega no domingo, Papa Francisco exortou os padres católicos a se manterem atentos contra grupos espirituais que alimentam divisões políticas. Esta viagem é a primeira de um papa à ilha francesa do Mediterrâneo e ocorreu no contexto de uma conferência sobre religião na região. O papa fez questão de alertar para as armadilhas de várias formas de espiritualidade que buscam, segundo ele, a auto-aggrandização através da criação de polêmicas, mentalidade estreita, divisões e atitudes exclusivistas.

Ao abordar a congregação, Francisco enfatizou que “os pastores da Igreja são chamados à vigilância, ao discernimento e a estarem constantemente atentos a essas formas populares de religiosidade”. Em um mundo onde a polarização política tem se intensificado, a mensagem do papa vem como um importante lembrete da necessidade de unidade e compreensão entre as comunidades.

Embora tenha feito críticas contundentes, o papa não mencionou grupos religiosos específicos, o que deixou muitos a especular sobre quais associações ele poderia estar se referindo. A Córsega, assim como outras partes da França, possui uma rica tradição de associações leigas católicas chamadas de confraternidades, que atuam em assuntos espirituais, mas que em alguns casos também interfiram na política local. Esse contexto torna a fala do papa ainda mais relevante.

A visita de Francisco a Ajaccio, a capital da Córsega, durou cerca de nove horas. Após a conferência, ele celebrou uma missa ao ar livre com os católicos locais e teve um breve encontro com o presidente francês Emmanuel Macron, que havia o convidado para a reabertura da Catedral de Notre Dame, marcada para 7 de dezembro. No entanto, o papa optou por não comparecer ao evento, preferindo se encontrar com Macron no aeroporto antes de retornar a Roma.

O foco do papa em lugares muitas vezes negligenciados pela mídia internacional faz parte de sua política de chamar atenção para pessoas e problemas que ele considera estar nas “periferias” do mundo. Desde que assumiu o papado em 2013, Francisco já visitou diversas ilhas do Mediterrâneo, incluindo Malta e Lesbos, mas ainda não esteve em várias capitais da Europa Ocidental, como Paris. Esse modo de atuar demonstra seu compromisso em escutar e reconhecer as realidades de comunidades menos favorecidas.

Córsega é famosa por sua geografia montanhosa e por ser o berço de Napoleão Bonaparte, e, além disso, é uma das regiões mais pobres da França, onde cerca de 20% da população vive abaixo da linha da pobreza, segundo dados do governo. Essa é uma realidade dura que o papa parece ter em mente durante sua visita. Vale destacar que, segundo estimativas do Vaticano, aproximadamente 81% da população de Córsega, que conta com cerca de 356 mil habitantes, é católica. Atualmente, há apenas 83 padres na ilha, e aproximadamente 30 freiras católicas, o que levanta questões sobre a disponibilidade de apoio espiritual para uma população tão significativa de fiéis.

Além das questões espirituais e sociais, a saúde do papa também foi objeto de atenção durante a visita. Completando 88 anos nesta terça-feira, Francisco chegou a Córsega utilizando uma cadeira de rodas ao saudar os oficiais no aeroporto. Durante um passeio em um papamóvel aberto, ele acenou para as multidões nas ruas, demonstrando um bom estado de espírito, apesar de ainda apresentar um pequeno hematoma no queixo, resultado de uma queda que, segundo o Vaticano, foi leve.

Essa visita intensa e significante reforça o papel de liderança que o papa Francisco assume, não apenas em questões espirituais, mas também em um contexto social e político amplamente fragmentado. Ao trazer à tona as questões de divisão e exclusão, ele está comprometido em promover um diálogo construtivo e a unidade da Igreja, um apelo que ecoa longe daquelas montanhas de Córsega e ressoa em comunidades ao redor do mundo, que buscam diretrizes e conforto em tempos desafiadores.

Papa Francisco é recebido no aeroporto de Ajaccio durante sua jornada apostólica em Ajaccio, Córsega, domingo.

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