Na sociedade contemporânea, a frase “uma vez criminoso, sempre criminoso” ressoa com a amarga verdade para muitos indivíduos que enfrentam a dura realidade das consequências de suas ações passadas. Para dezenas de milhares de americanos que possuem antecedentes criminais, essa frustração aumenta quando se deparam com a perspectiva de reintegração ao mercado de trabalho. Estes sentimentos vêm à tona em meio a um contexto político em que figura proeminente a recente eleição de Donald Trump, que, com suas próprias condenações, desafia a noção tradicional de que a punição é a saída para os desvios da lei.
Estima-se que cerca de 19 milhões de americanos carregam consigo um registro de condenação, e, no total, mais de 79 milhões têm alguma forma de registro criminal, como prisões ou acusações. Muitas dessas pessoas afirmam que o peso do estigma social persiste mesmo após cumprirem suas penas e tentarem reintegrar-se à sociedade. Bruce Western, professor de Sociologia e Justiça Social na Universidade de Columbia, observa que a perceção de criminalidade estimula o medo nas pessoas, levando-as a associar registros criminais a comportamentos violentos ou desonestos.
Um efeito colateral claro desse estigma é a dificuldade que muitos ex-criminosos enfrentam para conseguir emprego. Dados indicam que cerca de 30% das pessoas com antecedentes criminais estão desempregadas. Paradoxalmente, enquanto Donald Trump, menos de seis meses após ser condenado por 34 crimes relacionados a registros empresariais falsificados, deve assumir a presidência, muitos ex-infratores sentem que suas histórias não têm a mesma chance de ser ouvidas. Um levantamento realizado após o julgamento de Trump revelou que 83% dos republicanos acreditam que sua condenação foi motivada politicamente.
A disparidade entre as condenações de Trump, que são geralmente vistas como crimes de colarinho branco não violentos, e as que pesam sobre ex-criminosos em geral, é notável. Segundo Western, crimes de colarinho branco não carregam o mesmo estigma que os crimes de rua, e os infratores de alta linhagem social não enfrentam as mesmas consequências. Isso se reflete em casos como o de Jerail Smith, um ex-criminoso que houve uma série de condenações por posse de droga e que, frustrado, se vê limitado em suas opções de emprego, evidenciando uma visão em que a sociedade parece favorecer os que estão no poder.
Com restrições que variam de estado para estado, muitos ex-criminosos não podem votar, têm dificuldade de obter financiamentos e enfrentam limitações ao tentar ocupar cargos públicos. Este contexto é frustrante, pois a pesquisa de Western sugere que a estabilidade no emprego é crucial para evitar a reincidência entre esses indivíduos. Entre os ex-criminosos, alguns já mencionaram terem encontrado trabalho, porém muitas vezes nas camadas inferiores do mercado de trabalho, em cargos de baixos salários e sem perspectiva de crescimento.
Conversando com seis ex-criminosos, o que se destaca é a crescente frustração deles em relação à perceção dupla que enfrenta a sociedade, onde um ex-presidente é visto como um herói, enquanto os ex-criminosos comuns buscam reabilitação. Jeremiah Marable, de 35 anos e ex-possuidor de drogas, opina que se Trump pode receber apoio popular, outros que tentam se reabilitar também deveriam. Ele diz: “Se ele (Trump) pode ser nosso presidente com seu histórico, então deveríamos ter a mesma chance.” Já Danielle Forrest, de 34 anos, que foi condenada por robos armados, lamenta as oportunidades perdidas após a publicação de sua história criminal. “A minha vida e carreira foram paralisadas”, lamenta.
Michael Powell, de 54 anos, também aponta suas conquistas pessoais, como um terno ganhando diplomas e sua luta contínua por reconhecimento profissional, observando que a história de Trump dá esperança, mas ao mesmo tempo o enche de conflitos internos. Ele questiona a linha entre o certo e o errado quando um presidente é um criminoso, enquanto o povo comum enfrenta regras e punições severas. Ele expressa sua frustração ao ver suas conquistas não elevadas ao mesmo padrão de avaliação aplicado a Trump.
Outro aspecto importante desta discussão é a luta para superar a imagem negativa que a sociedade tem de condenados, expressa pelas palavras de Alysha Eppard, de 28 anos. Após cumprir sete anos e meio por acusações relacionadas a drogas, Alysha se viu presa em um ciclo de estigmatização. “Quando você é uma ex-criminal, as pessoas nunca te olham como um igual”, desabafa. Em um ponto semelhante, Andre Clark, um ex-felon de 49 anos, que tem tentado reentrar no mercado de trabalho, destacou que a visão negativa sobre criminosos perpetua a marginalização e a reiteração do crime. Ele, assim como muitos outros, desejam que Trump use sua posição privilegiada para ajudar a mudar essa narrativa e facilitar o acesso ao emprego.
Enquanto a era política atual se desenrola, com Donald Trump como uma figura em ascendência após suas convicções, a luta dos ex-criminosos para reintegrar-se à sociedade, deixar seu passado para trás e buscar uma vida mais digna se torna um espelho desafiador para a sociedade. A história de cada um deles não é apenas sobre condenações e desemprego; é sobre a busca por um reconhecimento que vai muito além de um rótulo que, para muitos, ainda persiste. O futuro, portanto, espera que esta mudança comece a ocorrer, e que as vozes dos que tentam recomeçar sejam ouvidas.
Jeremiah Marable
Credito: Cortesia Jeremiah Marable
Danielle Forrest
Credito: Cortesia Danielle Forrest
Michael Powell
Credito: Cortesia Michael Powell
Alysha Eppard
Credito: Cortesia Alysha Eppard
Jerail Smith
Credito: Cortesia Jerail Smith
Andre Clark
Credito: Cortesia Andre Clark