Na atualidade, o cenário político e tecnológico dos Estados Unidos se entrelaça de maneira intrigante, especialmente com a ascensão de Donald Trump no cenário da tecnologia. O presidente eleito tem se cercado de **empresários visionários** de Silicon Valley, entre eles Elon Musk, Marc Andreessen e David Sacks, que estão aconselhando essa nova administração em questões que vão além da tecnologia. Um dos temas que ganhou destaque é o debate sobre a **censura em inteligência artificial**, um fenômeno que, segundo esses conselheiros, pode representar uma ameaça significativa à liberdade de expressão.

Os recém-apontados conselheiros de Trump têm uma visão comum sobre a necessidade de um desenvolvimento e uma adoção rápidos da Inteligência Artificial (IA) nos Estados Unidos. Entretanto, uma questão de segurança relacionada à IA, que tem sido constantemente debatida entre eles, é a possibilidade de censura promovida por grandes empresas de tecnologia. Essa ideia começou a ser considerada um novo campo de batalha na guerra cultural entre conservadores e empresas de tecnologia.

A expressão “censura em IA” refere-se a como as empresas de tecnologia têm moldado as respostas de seus chatbots de IA para alinhar suas informações com certas agendas políticas, além de promover suas próprias narrativas. Um conceito similar, conhecido como moderação de conteúdo, tenta mesmo abordar a mesma questão, mas com uma conotação bastante distinta. Assim como ocorre com algoritmos de busca e redes sociais, a tarefa de fornecer respostas precisas por parte da IA em tópicos complexos e controversos é um alvo em constante movimento.

Nos últimos dez anos, a crítica dos conservadores sobre as empresas de grande tecnologia em relação à censura que elas exercem tem se intensificado. Mas, de maneira surpreendente, alguns executivos do setor de tecnologia começaram a amenizar suas posturas publicamente. Um exemplo notável desse fenômeno ocorreu quando o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, se desculpou diante do Congresso por ceder à pressão da administração Biden para moderar de maneira agressiva conteúdos relacionados ao COVID-19. Na sequência, Zuckerberg reconheceu que havia cometido um “erro político de 20 anos”, atribuindo a responsabilidade por problemas fora do controle de sua empresa.

No entanto, as novas vozes que cercam Trump argumentam que os chatbots de IA apresentam um risco ainda maior à liberdade de expressão. De acordo com eles, ao invés de apenas manipular um algoritmo de pesquisa, as empresas agora podem simplesmente fornecer uma resposta única e clara que não inclua outras perspectivas. Recentemente, os conselheiros Musk, Andreessen e Sacks têm levantado a voz contra essa suposta censura em IA em podcasts, entrevistas e redes sociais.

Marc Andreessen, cofundador da a16z, compartilhou em uma entrevista recente que “se você achou que a censura nas redes sociais era ruim, [a IA] pode ser mil vezes pior.” Ele também declarou que, na configuração atual, seria possível criar um mundo distópico onde tudo é controlado por uma IA programada para mentir. Andreessen também mencionou em conversas que tem dedicado uma parte significativa de seu tempo para aconselhar a equipe de Trump sobre tecnologia e negócios.

David Sacks, cofundador da Craft Ventures e ex-COO do PayPal, ecoou preocupações semelhantes, alegando que a IA pode transformar-se em uma ferramenta de controle, se não for cuidadosamente monitorada. Durante um episódio do podcast “All In”, Sacks criticou abertamente Google e OpenAI por, nas palavras da equipe do programa, forçarem seus chatbots a manter uma correção política. Joe Rogan também se tornou um canal para que Andreessen e Sacks exponham seus argumentos sobre a censura em IA, discutindo os impactos negativos dessas práticas para a sociedade.

Um exemplo frequentemente citado de censura em IA ocorreu quando o gerador de imagens do Google Gemini produziu representações multirraciais para consultas como “fundadores dos EUA” e “soldados alemães na Segunda Guerra Mundial”, algo que foi considerado claramente impreciso. Situações em que sistemas de IA, como o ChatGPT, se abstiveram de responder a perguntas sobre eventos políticos, como as eleições de 2020, também têm alimentado as críticas. Para muitos, as empresas argumentam que tais decisões decorrem de escolhas prudentes em prol da segurança dos usuários. Porém, para os críticos, essas ações refletem um enviesamento intencional em direções ideológicas.

Andreessen e Sacks se mostraram altamente críticos em relação a Google, afirmando que a empresa não errou, mas sim demonstrou sua viés de maneira muito óbvia durante o incidente com o Google Gemini. Sacks alegou que “os responsáveis pela IA no Google estão disfarçando suas preferências, que são extremamente liberais.” Para ele, o desafio não é eliminar esse viés, mas torná-lo mais sutil nas respostas das IAs. Vestígios dessa influência já são visíveis, e a preocupação de que a IA possa controlar o discurso público está levando a uma reavaliação das interações entre política e tecnologia.

A ambição de Elon Musk, que vem se opõe à ideologia que permeia a IA desenvolvida por empresas como OpenAI, culminou na criação da xAI, com o foco em um chatbot menos restritivo, chamado Grok. Musk anunciou que sua visão é criar uma inteligência artificial em busca da verdade, nomeando-a de TruthGPT. Para muitos, essa é uma tentativa de oferecer uma alternativa à crescente correção política imposta pelas empresas de tecnologia, abrindo um espaço para que uma nova narrativa seja construída ao redor da IA e sua influência na liberdade de expressão.

À medida que se aproxima a eleição de 2024, o espaço entre política, tecnologia e a percepção pública da IA continuará a ser um tema de intenso debate. Com a crescente influência de Trump e seus conselheiros provenientes de Silicon Valley, fica claro que a narrativa em torno da censura em IA não apenas refletirá as divisões existentes sobre questões culturais, mas também poderá moldar o futuro da própria tecnologia em uma sociedade que busca a liberdade de expressão. Assim, a questão permanece: qual será o destino da verdade em um universo dominado pela inteligência artificial?

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