O senador Mitt Romney, conhecido por ser um crítico consistente de Donald Trump, expressou suas impressões sobre o atual estado do Partido Republicano em uma entrevista ao programa “State of the Union”, exibido no último domingo. Com sua aposentadoria se aproximando, Romney sublinhou que, apesar de suas reservas sobre o caráter do presidente eleito, ele reconhece que o movimento MAGA (Make America Great Again) se tornou uma definição fundamental do partido que um dia liderou. Portanto, o que isso significa para o futuro da política republicana e para o próprio Romney, que já foi o candidato republicano à presidência em 2012?
Romney, um republicano de Utah, deixou claro que não é um apoiador de Trump e que suas críticas ao presidente são baseadas em sua percepção de caráter. Durante a entrevista, ele reafirmou: “Eu não apoiei o presidente Trump na eleição passada. Não o apoiei na eleição anterior, também, principalmente por questões de caráter.” Essa declaração não é novidade para os seguidores da política americana, já que as preocupações de Romney sobre Trump remontam à primeira candidatura presidencial deste último em 2016.
Apesar de seu histórico de oposição, Romney fez uma análise do domínio que Trump e seu movimento exercem atualmente sobre o Partido Republicano. Ele afirmou categoricamente: “MAGA é o Partido Republicano e Donald Trump é o Partido Republicano hoje.” Essa afirmação revela não apenas um reconhecimento da realidade política, mas também um ponto de convergência entre os membros do partido, que, até pouco tempo atrás, eram mais críticos em relação a Trump.
Ao ser questionado sobre suas constantes críticas a Trump, Romney admitiu que, em retrospecto, algumas de suas previsões não se concretizaram, dizendo: “Eu achava que ele estava errado para o país, errado para nosso partido, que ele não ganharia. Mas notei, ‘Eu estava errado sobre isso.’” Isso demonstra uma reflexão honesta e um reconhecimento de que a dinâmica política pode ser imprevisível.
No entanto, Romney não hesitou em dizer que Trump merece uma chance, considerando a promissora agenda política que o presidente eleito apresenta. Ele mencionou: “Concordo com ele em muitos aspectos, discordei em algumas coisas. Mas é como, ok, dê-lhe uma chance de fazer o que disse que vai fazer e veja como funciona.” Essa disposição para conceder uma possibilidade ao novo governo indica um desejo de unidade, mesmo entre divisões pessoais.
Durante a entrevista, Romney também abordou a questão da escolha de membros do Gabinete por Trump, referindo-se a elas como “uma coleção incomum de indivíduos, não eram as pessoas que eu teria escolhido”. No entanto, ele enfatizou que Trump, como vencedor da eleição, tem o direito de fazer suas seleções. “O Senado tem a responsabilidade de se certificar de que essas pessoas são legítimas, que não há esqueletos no armário que poderiam envergonhá-los ou ao país,” acrescentou Romney.
Com a crescente polarização na política americana, Romney, como um dos poucos republicanos dispostos a confrontar Trump, já foi visto como uma voz distinta no Senado. Em 2020, durante o primeiro julgamento de impeachment de Trump, ele foi o único senador republicano a considerar o presidente culpado de abuso de poder, refletindo sobre a coragem que ele teve para agir de acordo com suas convicções, mesmo diante de uma oposição feroz no interior de seu próprio partido.
Observando o legado do ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, Romney expressou seu pesar, considerando-o “um dia muito sombrio na história americana”. Ele afirmou que, apesar de alguns tentarem minimizar o evento, não acreditava que fosse possível fazê-lo, reforçando sua crença na importância da verdade histórica e do reconhecimento dos fatos. No entanto, ele também demonstrou otimismo ao afirmar que as instituições americanas resistiriam a desafios futuros, pois os cidadãos, quando confrontados com a gravidade do que está em jogo, querem proteger as raízes da liberdade.
No contexto da próxima administração, Romney também se mostrou cauteloso em relação à possibilidade de Trump usar o Departamento de Justiça contra seus opositores políticos. Em relação a sua própria segurança, o senador declarou: “Não, na verdade, sou uma pessoa bastante limpa ao longo da minha vida. Não estou particularmente preocupado com investigações criminais.” Isso mostra uma confiança resiliência em sua trajetória política.
Romney se pronunciou com encorajamento ao novo vice-presidente eleito, JD Vance, que considerou “inteligente” e previu ser uma forte opção para o nominato da GOP em 2028. A visão de Romney sobre Vance apresenta uma nuance em sua crítica, indicando que, apesar das discordâncias passadas, ele acredita no potencial de liderança de Vance no futuro.
Refletindo sobre o impacto de Trump junto ao eleitorado da classe trabalhadora, Romney reconheceu a habilidade do ex-presidente em atrair essa demografia anteriormente leal aos democratas. Ele afirmou, “O Partido Republicano se tornou o partido do trabalhador da classe média, e você tem que dar crédito a Donald Trump por ter feito isso.” Essa mudança de paradigma pode resultar em revisões significativas dentro do partido republicano nos próximos anos, já que os líderes buscam alinhar suas plataformas às novas realidades políticas.
Fechando a entrevista, Romney refletiu sobre sua longa carreira política, desde sua candidatura em 2012, as interações com colegas democratas, até sua transformação em um parlamentar que é elogiado por quebrar com a linha do partido. “Olhando para campanhas e pensando sobre a angústia que cercava qualquer erro que eu ou um membro da campanha cometesse, algumas pequenas coisas se tornaram enormes,” destacou, expressando uma perspectiva de leveza e humor sobre os desafios enfrentados.
Romney, que se despede da política ativa, finalizou com um lembrete de suas aspirações pessoais e familiares, afirmando o desejo de ser lembrado como alguém que se posicionou por suas crenças e amou seu país. “Quero que minha família se lembre de mim como alguém que defendeu os valores que acreditava, que não se envergonhou de sua fé fundamental, e que fez o que acreditava ser certo para preservar a maior nação da Terra,” concluiu.
Este artigo é uma contribuição de Clare Foran e Morgan Rimmer para a CNN.