Londres
CNN
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Uma garfada perfeitamente enrolada de espaguete paira no ar. Ao seu lado, uma tigela de ramen e um katsudon – ovo fresco e cortes de carne suina – caem fresquinhos na pan. Pratos empilhados com sashimi colorido e elaborados parfaits compõem uma verdadeira festa para os olhos — e somente para os olhos.
Estas são as “shokuhin sampuru” — as réplicas de comida altamente realistas comumente expostas na frente de restaurantes no Japão, destinadas a atrair clientes para dentro. Uma visão familiar no Japão, uma vasta gama dessas réplicas agora se encontra em exibição em Londres, numa exposição que é a primeira do seu tipo, segundo Simon Wright, curador da mostra e diretor de programação na Japan House London.
“Looks Delicious!” apresenta réplicas feitas pelo Iwasaki Group, a primeira empresa dedicada à produção dessas comidas falsas e que continua a ser a maior produtora do Japão. (A empresa precisa criar em média uma réplica a cada 40 minutos para manter o negócio viável, segundo Wright.) O fundador da empresa, Takizo Iwasaki, foi supostamente inspirado a criar modelos de cera de alimentos a partir de uma lembrança da infância, quando viu a cera derretendo e formando a forma de uma flor em uma poça.
Uma versão da primeira réplica de Iwasaki — modelada de uma omelete feita por sua esposa — está em exibição na exposição, chamada “kinen omu,” (omelete de celebração). Com o passar do tempo, Iwasaki desenvolveu um método de produção utilizando moldes de cera e gelatina de agar, embora atualmente a empresa utilize principalmente PVC.
Entretanto, a história de origem das réplicas de comida é bastante “confusa”, segundo Nathan Hopson, professor de japonês da Universidade de Bergen, que estudou o assunto em profundidade. Hopson disse à CNN em uma videochamada que existem uma infinidade de teorias sobre como as réplicas foram introduzidas na cultura japonesa.
Uma explicação popular, de acordo com a Japan House, é que elas foram feitas para familiarizar os pratos ocidentais a um público japonês “curioso, porém cauteloso” que, de outra forma, não saberia o que esperar ao fazer um pedido. Entre as diversas comidas tradicionais japonesas, a exposição também apresenta representações surpreendentemente realistas de bacon, ovos e queijo grelhado.
O ponto central da exposição é um mapa do Japão composto por réplicas de comida representando cada uma das 47 prefeituras do país. Cada réplica foi especialmente encomendada e feita pelo Iwasaki Group, que criou réplicas de alguns pratos pela primeira vez.
Não foi fácil escolher apenas um prato por prefeitura para a equipe de Wright, que começou consultando uma lista criada pelo Ministério da Agricultura e Pescas do Japão, antes de também entrar em contato com pessoas das regiões. “Você começa a descobrir que muitas pessoas têm muitas opiniões sobre isso,” disse Wright.
Uma exceção foi feita para a prefeitura mais ao norte, Hokkaido, a única que é representada por dois pratos: “kaisen-don”, uma tigela de arroz coberta com frutos do mar, e “ohaw”, uma sopa da comunidade indígena Ainu. O Iwasaki Group nunca havia feito uma réplica de ohaw antes, então a equipe da exposição teve que pedir à comunidade que fizesse o prato, que foi enviado para Osaka durante a noite, fotografado e transformado em uma réplica no dia seguinte.
Criar a impressão de líquidos realistas é uma das técnicas mais difíceis de se dominar na fabricação de réplicas. Feito corretamente, o resultado são tigelas de sopa e copos de vinho que dão a sensação de que podem derramar sobre a mesa se forem mal acariciados por um visitante curioso.
Existe um ‘hiper-realismo’ nessas comidas, explicou Wright, que visa desencadear a memória e a imaginação do cliente em potencial — e, com sorte, capturar seu olhar. “Estão ali para atrair as pessoas instantaneamente,” disse. “Para tentar convencê-las a almoçar ou jantar ali.”
E, o mais importante, as pessoas confiam que a comida que vêem exposta irá corresponder à comida que recebem na vida real, com Hopson chamando-as de uma “promessa.” “Posso ir a qualquer lugar no Japão, em qualquer cidade e saber exatamente o que vou receber,” disse.
Mas as réplicas são mais do que marketing feito para agradar aos olhos. Elas cumprem uma função prática, datando de quando foram introduzidas pela Shirokiya, uma importante loja de departamentos, após um devastador terremoto na ilha principal do Japão em 1923.
A loja foi um dos primeiros locais a abrir em Tóquio após o terremoto e atendeu as massas de pessoas que não podiam mais cozinhar por conta própria em casa, explicou Hopson, que estudou a história da empresa. Em vez de decidir o pedido ao chegar ao andar superior do refeitório, um novo sistema foi projetado: as vitrines podiam dar aos clientes a oportunidade de olhar a comida em oferta enquanto esperavam na fila.
“É realmente sobre este lado de gerenciamento, uma racionalização do lado da oferta que faz parte da criação de uma nova história de sucesso capitalista moderna,” disse Hopson, que acrescentou que realmente começaram a ganhar força na década de 1970, ou o ‘ano zero’ do fast food no Japão.
Embora continuem a ser uma visão comum nas vitrines dos restaurantes no Japão, as réplicas estão também evoluindo em sua função. A exposição mostra como as réplicas de comida podem ser usadas para controle de qualidade na agricultura, na fabricação de alimentos e para propósitos nutricionais, exibindo a dieta ideal para uma pessoa com diabetes.
A exposição também oferece aos visitantes a chance de arranjar sua própria caixa bento com as guloseimas em réplica. Quem disse que você não deve brincar com a comida?
“Looks Delicious!” está em exibição até 15 de fevereiro. Veja mais imagens da exposição abaixo.