A cerimônia de premiação de jogos, como a The Game Awards, frequentemente provoca uma avalanche de emoções e ações exacerbadas entre desenvolvedores e jogadores. Um dos temas mais debatidos após a última edição do evento tem sido a derrota de Black Myth: Wukong na disputa pelo cobiçado título de Jogo do Ano (GOTY). Mesmo com o jogo conquistando reconhecimentos significativos, como o prêmio Players’ Voice e o melhor jogo de ação, muitos se perguntam por que a obra, que gera tanto fervor e paixão entre sua base de fãs, não leva para casa o prêmio principal.
Desde que foi anunciado, Black Myth: Wukong, desenvolvido pela Game Science, acumulou um número impressionante de seguidores entusiasmados – o que é uma façanha que poucos títulos conseguem. Descrito como um jogo que mescla elementos do folclore chinês com jogabilidade de ação intensa, ele rapidamente se tornou um assunto popular nas redes sociais e plataformas de jogos, especialmente entre os jogadores chineses. Seu potencial comercial parece evidente; no entanto, a expectativa em torno dos prêmios levou a uma resposta emocional desproporcional após a derrota.
O CEO da Game Science, Feng Ji, expressou sua desilusão em uma publicação na plataforma de redes sociais chinesa Weibo. Em uma declaração traduzida por meio de redes sociais, Ji manifestou que, apesar do evento em si ser um marco importante, ele foi tomado por uma sensação de perda e arrependimento. Ele mencionou: “More than anything, though, there’s a letting go of illusions.” Essa frase, que foi interpretada por muitos, retrata não apenas a frustração do desenvolvedor, mas também um sentimento compartilhado por muitos na sua equipe. Ji admitiu que mesmo tendo confiança na vitória, a derrota o deixou perplexo, questionando os critérios que definem o Jogo do Ano. Ele se perguntou se sua ida aos Estados Unidos foi em vão, o que gerou uma série de reações emocionais entre os desenvolvedores presentes na cerimônia.
É importante entender que em uma cerimônia de premiação como a The Game Awards, as regras e critérios para escolher os vencedores são muitas vezes subjetivos e baseados no gosto pessoal de um seleto grupo de representantes da indústria de jogos. Com a sua diversidade e variedade, a indústria torna o ato de escolher um “melhor jogo” uma tarefa complicada, repleta de opiniões divergentes. Enquanto Black Myth: Wukong era aclamado por seu design e jogabilidade, outros títulos como Astro Bot, Baldur’s Gate 3 e Shadow of the Erdtree também se destacaram em suas respectivas categorias, cada um com suas singularidades e apelos ao público. A frustração de perder para um jogo de plataforma em 3D, por exemplo, pode parecer ilógica não apenas para desenvolvedores, mas para muitos fãs que esperavam ver seu título predileto derrotando todas as barreiras.
A reação dos fãs também não ficou atrás. Um grupo expressivo de admiradores decidiu retaliar de uma maneira um tanto quanto inusitada: realizando “review-bombing” no jogo Baldur’s Gate 3, após um discurso reconhecedor do chefe da Larian Studios, Swen Vincke, em defesa de que a indústria deveria priorizar o bem-estar de seus desenvolvedores. O gesto, embora compreensível sob um contexto emocional, gerou discussões acerca da falta de reconhecimento da natureza da competição que as premiações representam. Enquanto para alguns o respeito e a expressão artística são de suma importância, outros se deixaram levar pelo vício da competição e da comparação.
Portanto, a indústria de jogos, que por vezes se considera imune à subjetividade humana, é incessantemente marcada por estas emoções fortes e polarizadas. Os fãs de Black Myth: Wukong podem não precisar de um troféu feito de papel alumínio para validar suas experiências com o jogo; seu apelo e sucesso entre os jogadores falam por si. No mundo dos jogos, a validação nunca deve ser uma competição superficial, mas antes uma celebração do que cada título pode proporcionar a seus jogadores. Neste sentido, a derrota de Black Myth: Wukong pode não ser uma reflexão de sua qualidade, mas sim uma ilustração da complexidade e subjetividade do amor que temos por aquilo que jogamos.