Na segunda-feira, um navio de guerra da Marinha dos Estados Unidos, o USS Savannah, chegou ao Camboja, marcando a primeira visita dessa natureza a uma nação que é um dos principais aliados da China no sudeste asiático em quase uma década. Essa visita, comumente considerada simbólica, pode indicar um potencial aquecimento nas frequentemente tensas relações entre o Camboja e os Estados Unidos. O governo cambojano ressaltou que a chegada do navio representa um avanço nas relações diplomáticas entre os dois países.

O USS Savannah, classificado como um Navio de Combate Litorâneo, chegou ao porto de Sihanoukville, que se localiza na Baía da Tailândia, para uma visita de cinco dias. O navio é tripulado por 103 pessoas. O comandante da embarcação, Daniel A. Sledz, expressou sua satisfação com a visita, declarando em breves palavras aos jornalistas: “É ótimo estar de volta, retornando a presença dos EUA aqui após oito anos.” Durante sua chegada, Sledz recebeu um buquê de flores de um oficial cambojano e cumprimentou uma linha de colegas localmente.

Nos últimos anos, a relação entre os Estados Unidos e o Camboja tem sido marcada por tensões, onde Washington frequentemente criticou o governo cambojano por repressão política e violações dos direitos humanos. Adicionalmente, a preocupação é crescente acerca da proximidade entre o Camboja e a China, especialmente em relação à possibilidade de acesso exclusivo da China a uma base naval cambojana no Golfo da Tailândia, próxima ao local onde o Savannah atracou.


Camboja - Estados Unidos - China - Defesa
Daniel Sledz (à esquerda), comandante do navio de combate USS Savannah, cumprimenta Mean Savoeun (à direita), comandante adjunto da base naval Ream do Camboja, após a chegada do navio ao porto de Sihanoukville, no Camboja, em 16 de dezembro de 2024. 
YARN SOVEIT/AFP via Getty Images

Recentemente, houve uma movimentação para melhorar as relações. O Ministério da Defesa do Camboja informou na semana passada que a visita foi agendada após um pedido dos Estados Unidos e que serve para “fortalecer e expandir os laços de amizade, bem como promover a cooperação bilateral” entre os dois países. Dois dias antes da chegada do USS Savannah, o Ministério das Relações Exteriores do Camboja destacou o “momento positivo das relações bilaterais e cooperação” e a “revitalização da cooperação militar entre o Camboja e os EUA”.

O Secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, também visitou o Camboja em junho, mantendo diálogos com o Primeiro-Ministro Hun Manet e outros altos oficiais. Hun Manet, vale ressaltar, é um ex-aluno da Academia Militar dos EUA em West Point. Na ocasião, o Departamento de Defesa dos EUA informou que as discussões abordaram “oportunidades para fortalecer a relação bilateral de defesa entre os EUA e o Camboja em apoio à paz e segurança regional”, entre outros assuntos. Porém, os EUA ainda permanecem preocupados que a modernização da Base Naval Ream, próxima a Sihanoukville, possa servir aos interesses estratégicos de Beijing na região.

Os EUA e outros países sugerem que a China está estabelecendo uma base naval permanente em Ream, o que facilitaria o acesso ao Estreito de Malaca, uma rota de navegação crucial entre o Mar do Sul da China e o Oceano Índico. A controvérsia em torno das atividades chinesas em Ream surgiu inicialmente em 2019, quando o Wall Street Journal publicou que um rascunho preliminar de um acordo, visto por oficiais dos EUA, permitiria à China o uso da base por 30 anos, onde poderia colocar pessoal militar, armazenar armas e atracar navios de guerra. A governança cambojana negou tal acordo ou qualquer intenção de conceder privilégios especiais à China na base, embora Pequim tenha financiado sua expansão.

Washington afirmou que a base Ream poderia oferecer a Beijing uma posição estratégica crucial no Golfo da Tailândia, próximo ao disputado Mar do Sul da China, que é reivindicado quase em sua totalidade por Pequim. Em dezembro do ano passado, navios de guerra chineses foram os primeiros a atracar no píer de 1.190 pés. Além disso, dois navios foram recebidos no porto de Sihanoukville em maio durante os maiores exercícios militares conjuntos da China com o Camboja até agora, com a divulgação deste ano de “robodogs” equipados com metralhadoras, durante os exercícios conhecidos como “Drills Golden Dragon”.

O Ministério da Defesa do Camboja afirmou que 27 navios da marinha dos EUA visitaram o país desde 2007, sendo que a chegada do USS Savannah é a primeira em oito anos. Na segunda-feira, a resposta de Beijing à visita do navio de guerra dos EUA foi clara: “tais trocas e colaborações na segurança e defesa devem contribuir para promover a paz e a estabilidade regional, e não o oposto”.

Em setembro, o Ministério da Defesa do Camboja anunciou que a China está doando dois navios de guerra para sua marinha, do tipo que já está ancorado no país, sendo a doação de dois novos corvetas do Tipo 56, embarcações menores, normalmente utilizadas para patrulhamento costeiro, prevista para ocorrer no próximo ano, o quanto antes, após um pedido do Camboja para o apoio da China.

A visita do USS Savannah também inclui “uma reunião de trabalho com o comandante da Base Naval Ream”, além de reuniões com autoridades provinciais e “uma competição amistosa de esportes entre as tripulações da marinha dos EUA e a marinha cambojana”. O Capitão da Marinha do Camboja, Mean Savoeun, comandante adjunto da Base Naval Ream, estava entre as autoridades que deram as boas-vindas ao Savannah em Sihanoukville. Em suas palavras, ele expressou felicidade com o fortalecimento da relação entre Camboja e EUA, especialmente entre suas marinhas, acreditando que a visita trará um estreitamento da cooperação diplomática.

O USS Savannah, um Navio de Combate Litorâneo (LCS 28), foi comissionado em 2022 e é o sexto navio nomeado em homenagem à cidade de Savannah, como relatado pela Marinha dos EUA. Segundo a Marinha, “o LCS é uma plataforma rápida, ágil e focada em missões, projetada para operar em ambientes próximos à costa, enquanto é capaz de tarefas em alto-mar.” O LCS pode apoiar a presença avançada, segurança marítima, controle do mar e deter a agressão.

A Agence France-Presse contribuiu para este relatório.

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