Nos últimos dias, a Síria viu a ascensão de um novo regime liderado por uma facção com raízes no extremismo jihadista, e essa mudança de poder trouxe à tona a busca por reconhecimento no cenário internacional. Tal movimento se dá em um contexto de sanções severas e designações de grupos terroristas que dificultam uma transição pacífica e uma eventual normalização das relações diplomáticas com outros países. A nova administração liderada por Abu Mohammed al-Jolani, ex-integrante de grupos relacionados à al-Qaeda, já começou a fazer movimentos estratégicos para conseguir a aceitação global que tanto almeja.

Logo após a derrubada do regime de Bashar al-Assad, na semana passada, al-Jolani e sua organização Hayat Tahrir al-Sham (HTS) começaram a consolidar sua presença no cenário governamental sírio. Recentemente, al-Jolani teve a oportunidade de se reunir com o enviado especial da ONU para a Síria, Geir Otto Pedersen, em Damasco. Durante o encontro, Pedersen expressou a esperança de um “rápido fim das sanções, para que possamos ver realmente uma união em torno da reconstrução da Síria.” No entanto, o enviado fez um apelo por justiça e responsabilização por crimes anteriores, enfatizando a necessidade de um sistema judicial crível para tratar tais questões.

A busca pela legitimidade internacional não é fácil, principalmente para um grupo que, até pouco tempo, era visto como uma organização terrorista. A designação como Organização Terrorista Estrangeira pelo governo dos EUA em 2018 impôs um estigma difícil de remover. Com a captura de Damasco e de Aleppo, a HTS, que agora é chefiada por al-Jolani sob seu verdadeiro nome, Ahmad al-Sharaa, tenta se distanciar das suas associações anteriores, argumentando que mudanças em sua liderança e nas práticas do grupo foram significativas. Al-Jolani se descreveu em sua primeira entrevista com a mídia, como alguém que defendia um movimento mais moderado e inclusivo.

Ao longo da semana, a União Europeia também mostrou disposição de engajar-se com o novo governo sírio. Kaja Kallas, chefe da política externa da UE, revelou que deu instruções a um diplomata sênior da região para entrar em contato com as novas autoridades. Kallas indicou que a União estaria aberta a considerar mais ações “se virmos que a Síria segue na direção certa.” Tal movimento de reconhecimento pelo ocidente é significativo, sendo as primeiras interações diplomáticas concretizadas desde a ascenção do novo governo.

Entretanto, os especialistas alertam para os riscos associados a este novo governo e a forma como a comunidade internacional deve proceder. Cada passo dado em direção à legitimização do regime deve ser bem pensado, já que muitos de seus líderes carregam um histórico complicado. A entrada de al-Jolani na cena política levanta preocupações sobre a continuidade das práticas extremistas, mesmo que ele esteja tentando se distanciar de sua imagem anterior. O analista Qutaiba Idlbi mencionou que o desafio de lidar com um grupo que foi designado como terrorista é substancial, pois esse rótulo pode ser utilizado como uma alavanca por países como os EUA ao negociarem futuros entendimentos e acordos.

Asegunda as últimas atualizações, os EUA e o Reino Unido começaram a estabelecer contato com as forças rebeldes que governam a Síria, incluindo interações com a HTS. O Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, confirmou que foram feitas comunicações diretas com o grupo, marcando a primeira vez que tal fato foi reconhecido publicamente. Blinken não entrou em detalhes sobre a natureza destas conversas, mas afirmou que não existem barreiras legais para o diálogo com grupos designados como terroristas.

A condição econômica da Síria complicou ainda mais a situação. O país já enfrentava uma crise prolongada e severa, acentuada pelas sanções internacionais, incluindo a Lei Caesar de 2019, que impôs restrições severas na economia síria, praticamente paralisando o setor. Segundo o Banco Mundial, a economia da Síria encolheu mais da metade entre 2010 e 2020, e atualmente cerca de 69% da população vive em condição de pobreza.

À medida que o novo regime busca solidificar sua posição internacional, a pergunta permanece: será que conseguirão se distanciar rapidamente do passado e ser aceitos por uma comunidade internacional que hesita em fornecer legitimidade a grupos que têm um histórico violento? O caminho é longo e repleto de desafios, e os próximos passos serão cruciais não apenas para o futuro imediato da Síria, mas também para a estabilidade da região como um todo.

Por fim, essa reviravolta no cenário sírio requer atenção e uma análise cuidadosa tanto das políticas dentro do país quanto das reações internacionais. Oportunidades de diálogo e potencial para um futuro melhor existem, mas a comunidade internacional deve abordar essa nova realidade com cautela e um plano claro para assegurar que os erros do passado não sejam repetidos.

Fontes: Este artigo foi redigido com base em informações coletadas de reportagens da CNN, do Banco Mundial e do Atlantic Council, assim como outros relatos de agências de notícias.

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