No dia 23 de outubro de 2023, a plataforma de vídeos YouTube anunciou uma inovação significativa para seus criadores de conteúdo, permitindo que eles tenham uma maior liberdade de escolha em relação a como terceiros poderão utilizar seus vídeos para treinar modelos de Inteligência Artificial (IA). A partir de hoje, criadores e detentores de direitos poderão sinalizar para o YouTube se estão permitindo que empresas específicas de IA utilizem o conteúdo do criador para a construção de seus modelos de aprendizado.
Essa nova configuração será acessível a partir do painel do criador, conhecido como YouTube Studio. Nesse espaço, os criadores terão a oportunidade de optar por essa funcionalidade, caso assim decidam. Eles poderão visualizar uma lista inicial com 18 empresas que podem ser escolhidas para ter autorização para treinar seus modelos a partir dos vídeos dos criadores. Entre as companhias citadas estão nomes de peso como AI21 Labs, Adobe, Amazon, Anthropic, Apple, ByteDance, Cohere, IBM, Meta, Microsoft, Nvidia, OpenAI, Perplexity, Pika Labs, Runway, Stability AI e xAI.
Essas empresas foram selecionadas com base em sua atuação na construção de modelos de IA generativa e são consideradas escolhas sensíveis para uma parceria com os criadores. Contudo, a plataforma também permite que os criadores selecionem uma configuração de “Todas as empresas terceirizadas”, o que implica que estão autorizando qualquer terceiro a treinar em seus dados, mesmo que essa empresa não esteja listada.
Os criadores que podem usufruir dessa nova funcionalidade são aqueles que têm acesso ao Gerenciador de Conteúdo do YouTube Studio com a função de administrador. Esses usuários também conseguirão visualizar ou alterar suas configurações de treinamento de terceiros dentro das definições de seu canal no YouTube a qualquer momento. Esta novidade surge em resposta a um contexto crescente, onde criadores têm se queixado do uso não autorizado de seus conteúdos por grandes empresas de tecnologia, como Apple, Nvidia, Anthropic, OpenAI e Google.
Essas empresas foram acusadas de treinar modelos de IA utilizando o material dos criadores sem consentimento ou compensação. Em resposta a essas preocupações, o YouTube havia revelado no outono que trabalharia para abordar essa questão em um futuro próximo, levando agora a cabo uma proposta que busca realinhar a relação entre criadores e tecnologias de IA.
No entanto, mesmo com a adição dessa nova função, o YouTube esclarece que o Google continuará a treinar seus próprios modelos de IA a partir de certos conteúdos do YouTube de acordo com os acordos existentes com os criadores. É importante destacar que essa nova configuração não altera os Termos de Serviço da plataforma, que já proíbe o acesso não autorizado ao conteúdo dos criadores por terceiros, prática conhecida como scraping.
O YouTube enxerga essa nova opção como um passo inicial para facilitar a vida dos criadores que desejam permitir que empresas treinem suas IAs a partir de seus vídeos, além de ser uma possível via de compensação para esse treinamento. Em um futuro próximo, a plataforma poderá evoluir essa funcionalidade, permitindo que as empresas autorizadas pelos criadores acessem downloads diretos de seus vídeos, ampliando ainda mais as perspectivas de colaboração.
Inicialmente, a configuração padrão para todos os criadores será de não permitir que terceiros treinem em seus vídeos, deixando mais explícito para as empresas que já o fizeram que sua ação foi realizada sem o consentimento dos criadores. O YouTube não conseguiu determinar se essa nova configuração teria algum impacto retroativo sobre o treinamento de modelos de IA realizado por terceiros no passado. Contudo, a empresa reafirma que seus Termos de Serviço indicam que terceiros não podem acessar o conteúdo dos criadores sem autorização.
Além disso, cabe mencionar que o YouTube havia anunciado seus planos para oferecer controles aos criadores em relação ao treinamento de IA em setembro deste ano. Na mesma ocasião, a plataforma revelou novas ferramentas de detecção de IA que visam ajudar criadores, artistas, músicos, atores e atletas a protegerem suas imagens e vozes contra cópias e usos não autorizados em outros vídeos. A tecnologia de detecção pretende expandir o atual sistema de Content ID do YouTube, que tradicionalmente se concentra apenas em material protegido por direitos autorais.
Nos próximos dias, os criadores globais receberão notificações por meio de banners no YouTube Studio, tanto na versão desktop quanto na mobile, informando sobre essa nova funcionalidade. Essa mudança promete proporcionar um controle mais assertivo por parte dos criadores sobre como seu conteúdo é utilizado em um contexto de rápida evolução da tecnologia de IA, sinalizando um passo importante em direção à valorização e proteção do trabalho criativo na era digital.