A recente declaração do novo promotor do condado de Los Angeles, Nathan Hochman, trouxe novas luzes sobre o complexo caso dos irmãos Menendez, Lyle e Erik, cujas alegações de abuso sexual por parte de seu pai, Jose Menendez, nunca estiveram longe dos holofotes. A afirmação de que os irmãos não tiveram um julgamento justo devido à suposta falta de reconhecimento da sociedade sobre abusos sexuais na década de 1990 foi contestada por Hochman, que defende que a realidade era muito mais complexa e que muitos casos foram, sim, levados à justiça naquela época.
“É um pouco simplista dizer que a sociedade na década de 90 não reconheceu o abuso sexual de meninos jovens ou homens”, afirmou Hochman em entrevista ao Deadline. De acordo com ele, a confiança na palavra de Mark Geragos, advogado que representa os irmãos após a condenação, tem sido amplamente difundida sem a devida consideração das evidências. “O que estou dizendo é que, independentemente de o mantra ser verdade ou não, até onde eu sei, ninguém realmente olhou os tipos de casos, na quantidade de casos, que foram levados onde as vítimas eram meninos jovens ou homens jovens”, acrescentou Hochman, ressaltando que o discurso de que não houve reconhecimento do abuso é enganoso.
A trajetória judicial dos irmãos Menendez é marcada por reviravoltas. O primeiro julgamento, sobre o assassinato dos pais em 1989, culminou em um júri inconclusivo. Porém, em 1996, numa segunda tentativa, os dois irmãos, que não contestam o fato de que dispararam contra os pais, foram condenados por homicídio em primeiro grau e sentenciados a prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional. Eles alegam que os crimes foram em legítima defesa após anos de abuso.
Hochman também refutou a ideia errônea de que durante o segundo julgamento, as alegações de abuso sexual não foram apresentadas. “Provavelmente, se eu tivesse que adivinhar, foram cerca de 40 horas de depoimento em que ele (Erik) entrou em grandes detalhes, como fez no primeiro julgamento”, afirmou o promotor. Segundo ele, Erik citou incidentes específicos, entre os 6 e 18 anos, sobre as ações de seu pai.
Hochman enfatizou que a narrativa estabelecida pela mídia, que se concentrou apenas nas alegações de abuso sexual, era criada para simplificar uma história muito mais intrincada. “A mídia está em busca de narrativas simples, narrativas conflitantes, e, portanto, adotou a narrativa de Geragos”, comentou. Essa complexidade é fundamental para entender as nuances do caso e as razões que levaram os irmãos a ações extremas.
Recentemente, os advogados dos irmãos apresentaram um pedido ao tribunal superior do condado de Los Angeles em maio de 2023, citando novas evidências que poderiam reverter as condenações. Os advogados mencionaram a alegação de abuso sexual feita por Roy Rosselló, um ex-integrante da boy band Menudo, que afirmou ter sido estuprado por Jose Menendez na década de 1980. Além disso, um novo documento foi descoberto, onde Erik descreve em uma carta para seu primo a suposta história de abuso por parte do pai, meses antes dos assassinatos.
Com a revisão das evidências em mãos, Hochman está determinado a apresentar todos os fatores relevantes ao juiz. “Estamos analisando os testemunhos, em vez dos destaques dos depoimentos que as pessoas ficaram felizes em compartilhar”, explicou. Ele frisou que uma nova audiência sobre a possibilidade de reavaliação das sentenças está marcadas para o dia 30 de janeiro, um momento que pode ser crucial não apenas para a vida dos irmãos Menendez, mas também para a forma como a sociedade aborda e compreende casos de abuso sexual e suas repercussões.
O caso dos irmãos Menendez continua a levantar questões essenciais sobre a justiça, a verdade e a complexidade das histórias de abuso que muitas vezes ficam ocultas no silêncio. A sociedade, e especialmente o sistema judicial, tem um papel fundamental em ouvir e compreender essas histórias, garantindo que o passado não seja apenas uma lembrança, mas uma oportunidade para mudar a narrativa e buscar a verdade.