Recentemente, o universo dos X-Men, um dos pilares da Marvel Comics, tem presenciado uma nova onda de conflitos internos que reascende debates sobre a essência das histórias dos super-heróis. O mais recente número da série Uncanny X-Men #7, de Gail Simone e uma equipe criativa de talentos como Edgar Salazar e David Marquez, desencadeou uma batalha entre as equipes lideradas por Rogue e Ciclope. No entanto, essa disputa parece estar envolta em um manto de inconsistências e questões sobre as motivações dos personagens, levando muitos fãs a se perguntarem: realmente precisamos ver os X-Men lutando entre si novamente?
Esta nova intriga se insere em um contexto mais amplo, que envolve não apenas a narrativa atual mas também a rica história da continuidade da franquia. O evento, denominado Raid on Graymalkin, é uma minissérie em quatro partes que se alterna entre Uncanny e o título X-Men, e se intensifica em Graymalkin Prison, uma antiga mansão que agora abriga mutantes. Contudo, a forma como essa disputa foi construída deixa a desejar, fazendo com que muitos críticos sintam que a tensão não foi suficientemente explorada antes do confronto.
Em um clímax inesperado, a briga se inicia devido a um mal-entendido típico de histórias de super-heróis: Ransom, um jovem membro da nova equipe de Rogue chamada ‘Outliers’, confunde uma ação de Ciclope como uma agressão iminente, ao mesmo tempo que as emoções estão elevadas por conta da presença de um telepata no local. Embora mal-entendidos sejam uma pedra angular das histórias em quadrinhos, a prontidão de Rogue para a batalha parece forçada e não condizente com o desenvolvimento lógico de seu personagem.
É importante destacar que essa rivalidade parece uma sequência de tensões mal exploradas até o momento. Enquanto houve algumas interações passivas entre as equipes, a profundidade da deterioração em sua relação não foi claramente apresentada, deixando os leitores confusos quanto à verdadeira natureza do desentendimento. Após os eventos da era Krakoan, que está em incessante transformação na narrativa dos X-Men, a desilusão de Ciclope é um tema central. Rogue o confronta diretamente sobre sua falta de ação, afirmando: “Todos nós esperávamos que você tomasse uma atitude.” É aqui que a narrativa tropeça, pois os leitores não estão imersos em um contexto que explique plenamente esta dinâmica, tendo apenas trocas de mensagens frias entre os personagens.
Por outro lado, Rogue está passando por suas próprias crises de identidade à frente de sua equipe. Embora suas motivações sejam transparentes, a conexão entre sua luta interna e a agressividade que ela demonstra em relação a Ciclope não é totalmente acessível ao leitor. E, conforme já discutido em outros enredos que envolvem os X-Men, as conexões entre os personagens e suas histórias são fundamentais para dar peso a qualquer conflito. De acordo com as declarações do escritor da série, Jed MacKay, o desejo desses dois líderes de serem reconhecidos e a luta pela definição de suas identidades é um ponto central. Mas, na prática, essa diferença não se reflete sutilmente nas suas interações.
Um aspecto problemático dessa narrativa é a maneira como a nova era dos X-Men parece desconectada e fragmentada. O editor Tom Brevoort já mencionou como cada título estava evitando cruzamentos significativos para definir sua própria identidade, mas essa abordagem levou a uma sensação de que os universos estão operando de maneira isolada. Para um leitor, isso se traduz na frustração em não perceber um laço claro que justifique as separações e tensões. Se a lógica do enredo nos leva a crer que diversos times operam em submundos diferentes simplesmente porque os escritores disseram que sim, perde-se o sentido de coesão que um universo compartilhado deveria proporcionar.
Ao observar a relação entre Ciclope e Rogue, fica claro que ambas as figuras estão lutando com suas vulnerabilidades e semelhanças. Enquanto as interações delas não estabelecem um debate ideológico robusto que impulsione o enredo, as motivações parecem basear-se nas falhas criativas da narrativa que prejudica seu desenvolvimento. Para o leitor mais atento, a introdução de um mutante antagonista – Scurvy – parece um artifício para dar ressonância a um conflito que, de outra forma, não teria impulso suficiente. Se essa figura polarizadora não estivesse presente, as equipes estariam em total desarmonia?
Dessa forma, a expectativa é que, ao final desse arco, as equipes se unam sob um comprensible entendimento de que nem tudo está de acordo com suas emoções, resultando em um retorno à camaradagem. Embora essa conclusão seja aceitável, a falta de tensão real para chegarem a esse ponto torna sua inevitabilidade um motivo de desânimo. À medida que o crossover avança, fica restando aos investidores desta rica mitologia apenas a espera do momento em que o conflito será solucionado e os X-Men voltarão a se unir, como uma verdadeira família que são.
Por fim, Uncanny X-Men #7 se encontra disponível nas lojas de quadrinhos e continua a causar debates e reflexões sobre as direções narrativas que o universo dos X-Men poderia explorar de forma mais satisfatória. Seria muito mais interessante vasculhar nas complexidades das relações e dramas emocionais que envolvem esses super-heróis, em vez de simplesmente colocá-los em rota de colisão um com o outro.