Nova Iorque
CNN
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Após um período de desafios jurídicos contra a mídia, o ex-presidente Donald Trump parece ter encontrado um novo fôlego para suas investidas legais. Neste último fim de semana, uma recente concordância de indenização de US$ 16 milhões com a ABC News em um caso de difamação deu a Trump uma razão extra para aumentar suas ameaças judiciais direcionadas a outros veículos de comunicação. Ele declarou publicamente que deseja “endireitar a imprensa” à medida que se prepara para seu retorno à Casa Branca, levantando questões sobre liberdade de imprensa e a responsabilidade do noticiário.
Durante uma conferência de imprensa realizada no seu resort em Mar-a-Lago, na Flórida, Trump atacou especificamente o jornal Des Moines Register, anunciando sua intenção de entrar com uma ação judicial “hoje ou amanhã”. Este movimento surge em resposta a uma recente pesquisa publicada pelo jornal, que mostrou Trump perdendo nas eleições de novembro para a vice-presidente Kamala Harris. Afirmações de Trump de que os resultados da pesquisa eram fraudulentos foram acompanhadas de suas convicções de que a pesquisa constituía uma intervenção eleitoral, levando o ex-presidente a uma nova linha de ataque contra um dos órgãos de mídia mais respeitados dos Estados Unidos.
A pesquisa final do Des Moines Register, conduzida pelo renomado pesquisador J. Ann Selzer, indicava que Harris liderava Trump por 47% a 44% entre os eleitores prováveis do estado de Iowa. Esse resultado surpreendente gerou uma onda de especulações sobre a possibilidade de uma reviravolta em um estado que Trump havia conquistado nas eleições de 2016 e 2020. Por outro lado, outras pesquisas realizadas anteriormente mostraram Trump confortável à frente de Harris, fomentando dúvidas sobre a precisão dessa última pesquisa.
Trump, fiel ao seu estilo confrontador, elogiou Selzer, descrevendo-a como uma “ótima pesquisadora”, mas se recusou a aceitar os resultados que a colocavam em desvantagem. Enquanto isso, o jornal Des Moines Register lançou um comunicado defensivo, afirmando que havia divulgado os dados completos da pesquisa e a metodologia utilizada, além de um esclarecimento técnico de Selzer sobre os resultados, reafirmando a robustez de sua pesquisa. Lark-Marie Anton, porta-voz da empresa-mãe do jornal, Gannett, declarou que a publicação se manteve firme em sua cobertura e que um processo judicial seria infundado.
Em uma entrevista subsequente ao programa “Iowa Press” da PBS, Selzer expressou sua confusão sobre as alegações de Trump, negando qualquer motivação política nas suas ações e levando a sério as acusações de interferência eleitoral. “É difícil prestar atenção nisso, a não ser que eles estejam me acusando de um crime. Nunca fiz isso antes”, afirmou Selzer.
Os comentários de Trump não se limitaram ao Des Moines Register. Ele ampliou seu espectro de litígios, mencionando ações anteriores contra jornalistas renomados e órgãos de notícias como CBS News e o Bob Woodward, revelando um padrão de hostilidade que pode ser visto como uma tentativa de silenciamento da imprensa. Este tipo de comportamento levanta questões sérias sobre a liberdade de expressão e os limites do debate democrático, especialmente em um momento em que a confiança pública nos meios de comunicação enfrenta desafios significativos.
Apesar de todo o alvoroço, como observou um comentarista, o padrão jurídico para provar difamação é bastante elevado, exigindo evidências de que os veículos publicaram informações sabidamente falsas. Mesmo assim, as ações judiciais por si só podem causar um tremendo peso financeiro e emocional, levando anos para serem resolvidas e exigindo recursos consideráveis dos envolvidos. Algumas organizações de notícias, como o Axios, já emitiram alertas a seus repórteres sobre a possibilidade de um aumento nas ações judiciais durante a nova administração de Trump.
Trump, ao final de suas declarações, sugeriu que o governo dos Estados Unidos deveria ser o responsável por esses processos contra a mídia, embora muitos deles sejam de natureza pessoal. “Sinto que tenho que fazer isso. Não deveria, realmente. Isso deveria ter sido o Departamento de Justiça”, enfatizou, enquanto ressaltava a necessidade de ‘endireitar a imprensa’ e a responsabilidade das grandes instituições de mídia. Tal debate não só coloca em risco a relação entre o governo e a mídia, mas também a própria essência do que significa um jornalismo livre em um país democrático.
Em síntese, a escalada de ameaças judiciais de Trump acende uma luz de alerta sobre o futuro do jornalismo e das liberdades civis nos Estados Unidos. À medida que a mídia se prepara para enfrentar uma nova onda de desafios, a pergunta permanece: como o país pode equilibrar o direito à liberdade de expressão com o respeito pelas instituições e a verdade?