A icônica série de comédia de terror, What We Do in the Shadows, exibida pela FX, chegou ao seu desfecho com um final que, além de inesperado, reflete a encarnação de ciclos repetidos na vida de seus personagens principais. Após seis temporadas repletas de risadas, sustos e intrigantes críticas sociais, a série responde à dúvida de muitos: o que realmente mudou para Nandor (Kayvan Novak), Laszlo (Matt Berry), Nadja (Natasia Demetriou), Colin (Mark Proksch) e Guillermo (Harvey Guillén) durante todo esse tempo? A resposta encontra-se em uma trama que traz à tona a inevitabilidade do ciclo da vida e a busca pela felicidade, mesmo que em meio a um contexto absurdo.
No episódio final, somos introduzidos a uma sequência de depoimentos em que Colin e Laszlo discutem a construção de uma companheira feminina para o recém-“apimentado” Monstro Cravensworth (Andy Assaf), enquanto Guillermo e Nandor tratam da lógica por trás do esconderijo que serve como base de operações secretas para atividades ilegais. Esses momentos servem como preparativos para piadas que serão exploradas ao longo do episódio, mas logo a trama se desenrola, surpreendendo os espectadores com um desfecho inesperado.
O que deveria ser um simples documentário sobre a vida dos vampiros da Ilha Staten termina abruptamente, misturando sentimentos de perda e desamparo. Enquanto a equipe de filmagem afirma que não precisa mais de imagens, os vampiros mostram-se indiferentes a essa nova realidade, exceto Guillermo, que entra em uma espiral emocional, incapaz de aceitar que todos os seus esforços se esvaíram na bruma do passado, observados apenas pelas lentes da câmera. A sinalização de uma mudança sempre presente se torna um peso no coração de Guillermo, fazendo com que ele pense sobre seu lugar naquele mundo.
A única que percebe a angústia emocional de Guillermo é Nadja, que, após viver suas próprias experiências como funcionária da Wall Street, se torna mais sensível às condições humanas. Sabendo o quanto Nandor é importante para Guillermo, Nadja toma a iniciativa e o incentiva a confortar seu amigo. Colin, o vampiro que absorve a energia das emoções alheias, também se junta a esse momento e tenta confortar Guillermo com frases de apoio, começando com uma citação frequentemente atribuída erradamente a Dr. Seuss: “Não chore porque acabou, sorria porque aconteceu.” Através dessas interações, o tom humorístico da série persiste, mesmo quando trata de questões profundas e emocionais.
Os debates que se seguem entre os vampiros sobre a real natureza da tristeza de Guillermo culminam em um momento de autoconhecimento coletivo. Através de uma revelação surpreendente, os vampiros confessam que já fizeram um documentário anteriormente, datando a filmagem de 1958. Essa percepção leva Guillermo a buscar uma nova dimensão para a narrativa, desafiando a ideia de um final perfeito — um tema que tem atormentado muitas séries televisivas no decorrer dos anos. Na verdade, a série faz uma referência a outras produções conhecidas, como Lost e The Sopranos, perguntando como encontrar um desfecho adequado sem cair na armadilha das expectativas.
À medida que a narrativa avança, os vampiros se envolvem em reflexões sobre o que aprenderam ao longo dos anos. Cada um apresenta lições que absorveram de sua convivência, desde as surpresas da vida amorosa até dilemas existenciais. Nadja sugere hipnotizar o público, levando à paródia de Usual Suspects, fazendo uma homenagem ao clássico de cinema. Essa transição mantém o tom irreverente e o absurdo, características marcantes da série.
Entretanto, a carga emocional não se desvanece, levando Laszlo a conduzir uma canção nostálgica que entoa memórias e saudades. Em uma conversa sincera, Guillermo revela a Nandor que está prestes a partir, finalizando um ciclo que os dois compartilharam por tanto tempo. Em um momento de conexão emocional, Nandor oferece a Guillermo um assento em seu caixão, o que se revela como o acesso à entrada secreta de seu esconderijo secreto — uma grande surpresa para Guillermo, que acrescenta uma camada de humor à situação.
O último ato da série é permeado de sensação e nostalgia, com o grupo assistindo a uma prévia do documentário que produziu durante todos esses anos. A decepção do grupo em relação ao que viram ressalta uma crítica sutil sobre a natureza dos filmes e documentários que, muitas vezes, podem não capturar a essência das experiências vividas.
A jornada louca e cativante de ‘What We Do in the Shadows’ chega ao fim em alta, equilibrando comédia e tristeza, proporcionando uma reflexão inesperada sobre o que significa realmente viver e conviver. A série pode ter terminado, mas o legado dessas histórias e personagens definitivamente permanecerá nos corações de seus fãs. Afinal, daquilo que se ri, o que poderia ser melhor do que lembrar os bons momentos ao lado de amigos e seres sobrenaturais em um mundo tão impensável?