O renomado diretor libanês Raed Rafei está prestes a apresentar sua mais recente obra, intitulada “Tripoli/A Tale of Three Cities”, em sua cidade natal, Tripoli, durante a 35ª edição do Festival Internacional de Documentários de Amsterdã (IDFA), que ocorre entre os dias 14 e 24 de novembro de 2023. Esta estreia mundial será dentro da seção Frontlight do festival, e o trailer oficial do documentário foi revelado, proporcionando uma visão intrigante sobre a vida na cidade que Rafei não apenas chama de lar, mas também onde enfrentou desafios significativos devido à sua identidade queer e às normas culturais que a cercam.
um retrato pessoal e social em tempos de crise
O documentário “Tripoli/A Tale of Three Cities” é uma exploração profunda de Tripoli, apresentando a cidade através da lente sensível e crítica de Rafei. O filme faz um convite ao espectador para refletir sobre questões culturais e sociais, abordando a relação da população local com novas ideias em um contexto de crise econômica severa e revoltas que abalam a nação. Com uma análise clara e penetrante, Rafei procura entender como os cidadãos lidam com as suas crenças e a maneira como o passado ainda ressoa em suas vidas cotidianas. A sinopse do documentário afirma que ele é uma “sinfônica urbana contemplativa” que retrata uma cidade aprisionada em uma teia complexa de desafios, marcada não só por sua luta por mudança, mas também por um futuro incerto.
O diretor, que anteriormente conquistou o Prêmio Teddy no Festival de Cinema de Berlim por seu filme “Miguel’s War”, descreve “Tripoli” como uma obra essencial que utiliza sua visão queer para mergulhar nas profundezas da experiência libanesa contemporânea. “Através da estética do cinema, consegui reorientar minha relação com a cidade”, afirmou Rafei. Nesse sentido, o filme não apenas desconstrói discursos homofóbicos historicamente enraizados, mas também explora as complexidades de pertencer à sua terra natal, um aspecto crucial para compreender a experiência que muitos libaneses vivem em um ambiente socioeconômico tão volátil.
O trailer do filme apresenta trechos de entrevistas que revelam uma diversidade de opiniões e sentimentos dentro da comunidade de Tripoli. Através de questões provocativas, como “Por que é importante se sou menina ou menino?”, o filme busca promover um diálogo sobre identidade, gênero e as várias facetas da experiência humana em uma sociedade predominantemente conservadora. Em uma das partes mais impactantes do teaser, são apresentadas frases que evocam uma sensação de apocalipse, fazendo alusão à “doomsday”, e referências à cultura contemporânea, como “tacones altos” e “ovelha negra”, sugere uma intersecção entre tradição e inovação.
a busca por identidade e pertencimento
Raed Rafei compartilha sua jornada pessoal em relação a sua cidade natal e como sua identidade queer sempre o deixou à margem da cultura hegemônica que a domina. “Tripoli é a cidade onde cresci, onde estão minhas raízes, mas sempre me senti alienado por conta da cultura heteronormativa predominante”, diz Rafei, explicando sua necessidade de se reconectar com o lugar que, ao mesmo tempo, o rejeitou. Sua narrativa revela um paradoxo constante, uma luta interna entre pertencimento e exclusão, marcada pela complexidade das emoções que surgem quando se retorna a um lar que se sente distante.
O diretor conclui afirmando que a produção valoriza as vozes muitas vezes silenciadas da sociedade libanesa, mostrando uma Tripoli vibrante e multifacetada. Para ele, o filme não é apenas uma representação de sua experiência pessoal, mas uma janela para o que significa ser parte de uma cidade em transformação, lutando por um futuro melhor em meio ao colapso e à turbulência. Essa jornada representa, portanto, não apenas uma busca por entendimento e reconciliação, mas também um chamado à ação, promovendo diálogo e aceitação em um mundo que frequentemente ignora a pluralidade das identidades que o compõem.