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Nova Iorque
CNN
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Não faz muito tempo que a China era de longe o maior e mais lucrativo mercado para a General Motors (GM). Enquanto a empresa estava perdendo dinheiro em sua operação na América do Norte e na Europa, rumando para a falência e para um resgate financeiro, as vendas e os lucros na China permitiam que a empresa mantivesse as portas abertas. Contudo, a maré começou a mudar

Atualmente, a situação é oposta. A GM está registrando lucros recordes nos Estados Unidos, mas está perdendo tanto dinheiro na China que as dúvidas sobre sua permanência nesse mercado começam a surgir. Ao mesmo tempo, montadoras chinesas inundaram seu mercado interno com os tipos de veículos elétricos que os compradores do país desejam e que anteriormente eram desconsiderados pelos fabricantes americanos.

Esse cenário provocou consequências desastrosas para as montadoras estrangeiras na China.

As vendas da GM na China caíram 19% nos primeiros nove meses do ano, e a empresa perdeu 347 milhões de dólares em suas joint ventures no país nesse mesmo período. No início deste mês, a montadora anunciou que sua receita líquida sofrerá uma redução de mais de 5 bilhões de dólares em decorrência dos problemas enfrentados na China.

Desse total, cerca da metade se refere a custos para reestruturar – e possivelmente encolher – suas operações no país. A outra parte reflete o fato de que o valor de suas operações na China já não é mais justificado pela realidade econômica atual.

“Você pode olhar para os últimos 15, 20 anos, quando as operações da GM na China eram seu salva-vidas. Não é mais. É um buraco financeiro”, afirmou Jeff Schuster, vice-presidente global de pesquisa automotiva da firma GlobalData. “Todas as marcas internacionais estão sofrendo na China.”

Embora a GM ainda não tenha anunciado os detalhes de sua reestruturação na China, Schuster e outros especialistas afirmam que a maioria das montadoras ocidentais, incluindo a GM, está analisando por quanto tempo podem permanecer no maior mercado automotivo do mundo.

A CEO da GM, Mary Barra, disse a investidores em outubro que as montadoras ocidentais enfrentam “um ambiente muito desafiador” na China, mas que a GM está convencida de que pode reverter a situação e continuar no país. Outros, no entanto, não estão tão certos.

“Houve anos dourados para a GM na China, mas esses tempos acabaram, e eles nunca conseguirão fazer um retorno completo”, comentou Michael Dunne, consultor da indústria automobilística que está envolvido nos esforços das montadoras ocidentais na China desde os anos 1990, inclusive na entrada da GM no mercado.

E não é apenas a GM que está enfrentando problemas na China. A maioria das montadoras ocidentais que correram para construir e vender veículos no país no final dos anos 1990 e no início dos anos 2000 estão agora lutando.

Os consumidores chineses que antes preferiam marcas ocidentais agora acreditam que as marcas locais oferecem melhor valor. Essa nova preferência é impulsionada, em grande parte, pela política do governo chinês e pelos incentivos para encorajar a mudança de carros convencionais movidos a gasolina para veículos elétricos e híbridos.

“Se você vende marcas tradicionais, está altamente vulnerável na China”, disse Dunne. “A maioria (das montadoras ocidentais) será forçada a sair do mercado nos próximos cinco anos, se não antes.”

Visitantes observam o Cadillac Escalade IQ, um SUV elétrico, na Exposição Internacional de Automóveis de Pequim, na China, em 25 de abril.

As montadoras chinesas vendem cerca de 70% dos carros no país, segundo dados da Associação de Carros de Passageiros da China. Há cinco anos, essa porcentagem era de apenas 38%, com as marcas estrangeiras capturando o restante do mercado.

Quando a GM entrou no país, a China essencialmente exigiu que as montadoras ocidentais se associavam a fabricantes chineses que tivessem pelo menos 50% de participação na joint venture. Mas Dunne afirma que vê pouco chance de a GM renovar sua joint venture com a SAIC, cuja validade expira em 2027, ou com outros fabricantes chineses menores. Ele acredita que a maioria das outras montadoras ocidentais também irá descontinuar suas operações.

A Stellantis – montadora europeia que fabrica carros sob as marcas Jeep, Ram, Dodge e Chrysler na América do Norte – viu sua joint venture que produzia Jeeps na China pedir falência em 2022, após anos de prejuízos. A Ford afirma que ainda é lucrativa na China, mas a maior parte dos lucros de suas joint ventures no país vêm da exportação para outros mercados asiáticos, assim como da América do Sul.

A GM já havia se retirado de um mercado grande anteriormente. A montadora deixou o mercado europeu completamente em 2017, após retirar sua marca Chevrolet apenas três anos antes.

Mudança da China para veículos elétricos

O maior problema é a mudança da China de carros tradicionais movidos a gasolina nos últimos anos para veículos elétricos ou híbridos, que agora representam a maioria de seu mercado. O país implementou políticas e incentivos que direcionaram os compradores em direção a veículos elétricos, onde descobriram carros de melhor qualidade e valores mais baixos nas marcas chinesas.

“Dez anos atrás, o presidente Xi Jinping e as montadoras chinesas decidiram: ‘Estamos perseguiêndo as montadoras globais em veículos com motores de combustão interna, e não estamos conseguindo alcançar. Vamos nos dedicar totalmente aos elétricos’”, explicou Dunne.

As montadoras ocidentais tentaram manter o curso com carros movidos a gasolina, e por sua maior parte, fizeram o mesmo seus parceiros de joint venture. Agora, essas companhias – exceto a Tesla, que possui uma fábrica em Xangai – estão muito atrás na corrida para alcançar os veículos elétricos e híbridos de baixo custo oferecidos pelos fabricantes chineses, como a BYD.

Foi um erro colossal de cálculo por parte dos fabricantes ocidentais, segundo Bill Russo, chefe da empresa de consultoria de investimentos Automobility, com sede em Xangai, e que teve cargos de liderança nas operações da Chrysler na Ásia Oriental de 2004 a 2008.

Carros elétricos da BYD aguardam exportação em um porto em Yantai, na província de Shandong, na China oriental, em 18 de abril.

“As marcas estrangeiras não priorizaram essa mudança. Não viram isso chegando”, lamentou ele.

Ele afirma que grande parte dessa transformação no mercado ocorreu durante 2020 e o início de 2021. A pandemia de Covid-19 dificultou as viagens dos principais executivos das montadoras ocidentais para a China, o que facilitou para estes dirigentes perder a oportunidade de perceber as mudanças sociais e econômicas em curso. Enquanto isso, apesar das montadoras ocidentais terem anunciado planos para vender mais carros elétricos, elas continuarão vendendo veículos movidos a gasolina por pelo menos os próximos dez anos.

Além disso, continuam a perder dinheiro na produção de veículos elétricos, mesmo enquanto a concorrência chinesa abocanha participação de mercado.

“Eles acharam que tinham tempo que na verdade não tinham”, reiterou Russo.

Russo destacou que seria um grande erro por parte das montadoras ocidentais abandonar a China apenas por não estarem competitivas atualmente.

Mesmo que a nova administração de Trump revise regras e incentivos para compradores de veículos elétricos nos Estados Unidos, as montadoras americanas, com exceção da Tesla, ainda terão que cumprir normas rigorosas sobre emissões e restrições sobre carros movidos a gasolina em outros lugares. Também precisarão aprender a competir com os fabricantes chineses e seus veículos elétricos acessíveis no futuro, segundo ele.

“Perder a China seria catastrófico para qualquer empresa automotiva”, disse Russo. “Mas nunca subestime a capacidade de uma corporação em priorizar a rentabilidade de curto prazo em detrimento da viabilidade a longo prazo.”

A CNN e Hassan Tayir contribuíram para este relatório.

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