Transformações na Biodiversidade e a Preocupante Realidade do Mar Cáspio

A história de Khashayar Javanmardi, fotógrafo que cresceu nas margens do Mar Cáspio, é marcada por lembranças nostálgicas de uma infância repleta de momentos mágicos em praias iranianas. Nascido em Tehran, Javanmardi passou seus finais de semana na cidade litorânea de Rasht, onde se sentia em um verdadeiro paraíso. Contudo, à medida que os anos passaram e as delicadas mudanças ambientais se tornaram perceptíveis, seu lugar dos sonhos começou a se transformar em um cenário de preocupação e desolação. A ausência do crustáceo gammarus, que antes o incomodava durante os banhos, foi o primeiro sinal alarmante de que algo estava errado. Ao descobrir que essa espécie tinha desaparecido em decorrência da poluição, Javanmardi tornou-se ainda mais consciente da devastação ambiental que assolava a região.

O Mar Cáspio, o maior lago do mundo, situado entre a Europa e a Ásia, é cercado por cinco países: Irã, Rússia, Azerbaijão, Cazaquistão e Turcomenistão. Este imenso lago tem sido objeto de crescente preocupação devido à sua degradação ambiental. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o Mar Cáspio enfrenta “um enorme fardo de poluição oriundo da extração de petróleo e do refino, campos de petróleo offshore, resíduos radioativos de usinas nucleares e enormes volumes de esgoto e resíduos industriais não tratados, principalmente introduzidos pelo rio Volga, que flui pela Rússia e deságua no Cáspio”.

Projeto Fotográfico como um Grito de Alerta

As inquietações relacionadas à biodiversidade do Mar Cáspio motivaram Javanmardi a empreender um projeto fotográfico que se estende ao longo de uma década. Intitulado “Caspian: A Southern Reflection”, sua obra não é somente um registro da deterioração ambiental, mas também um convite à reflexão sobre as questões sociais e ambientais da região. O livro, publicado pela editora Loose Joints, se transforma em um documento que alerta sobre os perigos que ameaçam o futuro da região. Para o fotógrafo, esta é a essência de sua carreira, refletindo seu desejo de ser um testemunha honesta do impacto humano no meio ambiente.

Os habitantes locais, que chamam o Mar Cáspio de “Mãe Cáspia”, compartilham histórias de um passado vívido e próspero. Um dos pastores entrevistados expressou um sentimento de culpa em relação à natureza, afirmando: “É como se não tivéssemos sido bons para nossa mãe. Agora, ela está triste e não vai compartilhar seu amor conosco novamente.” Esse sentimento de perda e remorso permeia o trabalho de Javanmardi, que apresenta uma série de retratos e paisagens melancólicas. Imagens de barcos abandonados e objetos descartados evidenciam a devastação, enquanto expressões de solidão e tristeza são palpáveis nas faces retratadas.

Reconhecido no último Prêmio Elysée, uma das mais prestigiadas competições fotográficas do mundo, a primeira versão do projeto recebeu menção especial do júri. Nathalie Herschdorfer, diretora do Museu Elysée, contribuiu com a introdução do livro, onde descreve as cenas que transmitem um “sabor de desolação” e menciona que aqueles que cruzam essas paisagens frequentemente refletem a solidão mesclada a uma sensação de tristeza.

Desafios e Crises Ambientais Afligindo a Região

O aumento da poluição nas águas do Mar Cáspio, provocada pelo despejo ilegal de resíduos, tem contaminado o lençol freático e o próprio lago. Estima-se que mais de 120.000 toneladas de poluentes, tanto domésticos quanto industriais, sejam despejadas anualmente nas águas do Cáspio. A pesca, fonte de sustento para muitos habitantes, diminuiu alarmantemente em até 70%, enquanto estatísticas projetam que os níveis da água poderão cair entre nove e dezoito metros até o final do século. Além disso, a invasão da Rússia à Ucrânia é identificada como um agravante adicional, especialmente com a utilização da Flotilha do Cáspio para ataques militares.

Javanmardi também destaca o papel da linguagem na negligência ambiental que aflige a região. Embora seja comumente denominado de “mar”, o Cáspio é tecnicamente um lago. Tal categorização implica em regulamentos mais rigorosos sobre resíduos e poluição, que não estão sendo devidamente aplicados. O fotógrafo argumenta que essa omissão se deve ao receio de que o reconhecimento do Cáspio como um lago altere a conversa sobre a regulação de suas águas e contaminantes.

Esperança em Meio à Desolação

Apesar das calamidades geradas por decisões políticas irresponsáveis, Javanmardi também encontrou um sentido de comunidade e amor pelo Mar Cáspio nas pessoas. “A maneira como prestam atenção ao meio ambiente e se preocupam com ele me traz esperança. Esse sentimento espiritual de valorização pela natureza é algo que não vai se esfumar”, disse. Para ele, essa conexão entre os habitantes locais e o lago é um sinal de que não permitirão que sua fonte de vida se degrade.

“Caspian: A Southern Reflection”, de Khashayar Javanmardi, é uma obra que não apenas documenta a realidade do maior lago do mundo, mas também se torna um alerta para as gerações futuras sobre a importância da preservação de ecossistemas e da necessidade urgente de uma gestão ambiental responsável. Enquanto a crise ambiental persiste, o trabalho do fotógrafo fornece um espaço para que todos nós possamos refletir sobre nossa relação com a natureza e o impacto que nossas ações têm sobre o mundo ao nosso redor.

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