Nos últimos tempos, a Nintendo Switch eShop se tornou objeto de críticas severas, à medida que consumidores e desenvolvedores de jogos expressam sua consternação em relação ao grande volume de títulos de baixa qualidade disponíveis na loja digital da Nintendo. O fenômeno, que já vem se arrastando por alguns anos, se intensificou recentemente, levantando questões não apenas sobre o futuro da plataforma, mas também sobre a abordagem da Nintendo em lidar com a situação. Se você já se aventurou na eShop em busca de jogos de qualidade, é bem possível que tenha se deparado com uma vasta gama de conteúdos que parecem mais cópias genéricas e produtos de má qualidade do que criações legítimas e inovadoras.
O caráter problemático da loja digital foi amplamente discutido nas redes sociais, especialmente após um post no site Bluesky por Wren Brier, diretor criativo do aclamado jogo indie “Unpacking”. No final de novembro, Brier expôs a existência de vários clones óbvios de seu jogo na eShop, muitos dos quais usavam em seus próprios títulos a palavra “Unpacking” sem qualquer constrangimento. Essa revelação gerou um alvoroço sobre a proliferação de cópias desleais e práticas enganosas na plataforma da Nintendo, evidenciando um sério problema de supervisão e controle da qualidade que a empresa parece ter negligenciado. Até o momento, a Nintendo não se manifestou em resposta às queixas de Brier, levando à impressão de que a empresa estaria indiferente ao que acontece em sua própria loja.
Conforme relatado pelo Eurogamer, Brier afirmou que, mesmo após duas semanas desde sua reclamação inicial, os clones permaneciam à venda na eShop. Ele referiu-se a esses lançamentos como “escândalos abomináveis” que exploram a marca registrada de seu jogo para enganar os consumidores da Nintendo, induzindo-os a adquirir versões baratas e de qualidade inferior de um título que já foi bem recebido pela crítica e pelo público. A Kotaku também tentou obter um comentário da Nintendo sobre a presença desses jogos enganosos e de produtos gerados por inteligência artificial na eShop, mas não obteve resposta.
Embora a remoção dos clones de “Unpacking” tenha ocorrido eventualmente, isso não melhorou a percepção geral de que a eShop se tornou, nas palavras de muitos, uma “fábrica de lixo”. O estado atual da loja digital é preocupante e, por mais de um ano, usuários têm reclamado de uma experiência de frustração, seja ao navegar, ao buscar títulos, ou simplesmente ao tentar encontrar um jogo legítimo em meio a um grande mar de ofertas duvidosas. Na verdade, a questão é tão alarmante que reflete uma crise de identidade para a própria Nintendo, que sempre foi considerada sinônimo de qualidade na indústria dos videogames.
Recentemente, um usuário decidiu explorar a seção de jogos recém-lançados na eShop e ficou chocado ao descobrir pelo menos cinco novos títulos que exibiam arte gerada por inteligência artificial de maneira bastante evidente. Um dos jogos, intitulado “Bimfli & His Time Travels: Japan”, mostrava telas capturadas que pareciam ter sido produzidas exclusivamente com imagens geradas por IA. Esse game foi desenvolvido pela Aldora Games, um estúdio que lançou quase 80 jogos desde fevereiro de 2023, a maioria deles utilizando arte gerada por inteligência artificial ou reaproveitando ativos de outros projetos.
À medida que o Natal se aproxima, é notável não apenas a quantidade de jogos voltados para a temática natalina, mas também a maneira como muitos deles são precários, geralmente com preços baixos, sem conteúdo atraente e utilizando apenas arte gerada por IA na tentativa de atrair consumidores despreparados. Contudo, os fãs de videogames rapidamente perceberão que a maioria desses produtos se resume a livros interativos com histórias de domínio público ou versões miseráveis de jogos de celular. Ao mergulhar nesse oceano de lixo, é triste observar que existem desenvolvedores talentosos, com propostas genuínas, tentando emergir nesse cenário caótico, sem que a Nintendo pareça oferecer qualquer suporte ou ajuda.
Outro aspecto preocupante dessa situação é que a Nintendo logo lançará sua próxima geração de consoles, mas a promessa de compatibilidade com versões anteriores significa que todo esse conteúdo de baixa qualidade pode ser transferido para a nova plataforma. Isso levanta a questão: o que os consumidores podem esperar da Nintendo em termos de qualidade no futuro? Para muitos, a possibilidade de continuar lidando com uma loja digital tão repleta de produtos questionáveis gerou ansiedade e decepção, não apenas entre os jogadores, mas também entre os desenvolvedores que se esforçam para oferecer experiências autênticas e inovadoras.
A comunidade gamer, por sua vez, está cada vez mais agitada, exigindo uma resposta e ação da Nintendo diante desse cenário. Com a eShop apresentando uma natureza caótica, que frequentemente faz referência a um “esgoto a céu aberto”, a pressão para que a empresa tome medidas reais para reverter essa situação se torna crescente. O que poderia ser feito para restaurar a confiança dos consumidores e a credibilidade da marca? Somente o tempo dirá se a Nintendo é capaz de voltar a ser uma referência em qualidade ou se permanecerá como um mero espectador da crise que se instala em sua plataforma digital.