Na última terça-feira, a Commonwealth Fusion Systems (CFS) anunciou um marco significativo em sua busca pela energia de fusão. A empresa revelou que começará a construção de sua primeira usina de energia de fusão em escala comercial, localizada nos arredores de Richmond, Virginia, com a ambição de que esta usina esteja conectada à rede elétrica até o início da década de 2030. A energia de fusão, que por décadas foi considerada como uma promessa distante, agora parece mais próxima do que muitos esperavam, especialmente após os avanços realizados pelo National Ignition Facility, que há dois anos demonstrou que reações de fusão controladas podem gerar mais energia do que consomem para serem iniciadas.

A CFS, que tem se destacado por sua capacidade de levantar mais recursos financeiros do que seus concorrentes, é amplamente considerada como a empresa com maiores chances de tornar a energia de fusão comercial uma realidade na próxima década. O projeto da usina, conhecido como Arc, tem a previsão de gerar 400 megawatts de eletricidade. Em contraste com muitos projetos de usinas que estão sendo projetados especificamente para atender a centros de dados em grande escala, a CFS está colaborando com a Dominion Energy para integrar a Arc à rede elétrica, refletindo uma abordagem mais tradicional e estratégica para a implementação da energia de fusão.

De acordo com Kristen Cullen, vice-presidente de políticas globais e assuntos públicos da CFS, o objetivo de conectar a usina à rede elétrica era prioritário. Ela explicou: “Para a nossa primeira usina de energia, era importante para nós introduzir energia na rede elétrica”. A decisão de escolher o local na Virgínia não foi feita aleatoriamente, mas foi o resultado de uma análise cuidadosa de várias opções, considerando as características de transporte e a proximidade com uma usina elétrica existente, o que facilitaria a conexão à rede e garantiria acesso a um pool de mão de obra qualificada no setor.

Um aspecto que favoreceu a escolha da Virgínia sobre outros locais foi sua proximidade com Washington, D.C. Cullen destacou que a usina Arc não é apenas uma nova instalação, mas sim a primeira usina de energia de fusão do mundo. O interesse em receber visitas de diferentes países e mostrar as inovações da fusão para líderes e ministros de energia de todo o mundo também foi um fator determinante na escolha desse local. “Nós realmente vamos querer mostrar o que a fusão é capaz de realizar”, afirmou Cullen.

A CFS está alugando o terreno para a usina Arc da Dominion, mas, além disso, não haverá troca financeira entre as duas partes. A expectativa é que a Dominion ajude a startup a garantir os alvarás necessários e realizar a conexão da usina com a rede, enquanto a Dominion se tornará uma das primeiras empresas a ganhar experiência com uma usina de energia de fusão. Rick Needham, executivo comercial da CFS, ressaltou que a Dominion está animada para explorar what it means to bring fusion power to the grid.

A CFS está se dedicando a um tipo de fusão conhecido como “contenção magnética”, onde imãs poderosos comprimem e confinam plasma superaquecido. Esta tecnologia envolve o uso de um tokamak, uma estrutura em forma de rosquinha que é um dos métodos mais estudados para amplo confinamento magnético. Dentro do tokamak, à medida que o plasma é comprimido, as partículas supercarregadas tornam-se mais predispostas a colidir com força suficiente para que os núcleos atômicos se fundam, liberando enormes quantidades de energia.

A parede do tokamak será composta por sal fundente, projetado para capturar calor e transferi-lo para uma turbina a vapor, que será responsável pela geração de eletricidade. Além disso, essa camada de sal fundente terá a função de absorver nêutrons prejudiciais e usá-los para gerar trítio, um dos dois isótopos de hidrogênio que o reator utilizará, sendo o outro o deutério, que pode ser extraído da água do mar.

Vale ressaltar que a Arc não será a primeira instalação da CFS. Atualmente, a empresa está construindo o Sparc, uma planta de demonstração em Devens, Massachusetts. A previsão é que o Sparc comece a entrar em operação no final de 2025, com a expectativa de que em 2026 ocorra o que é conhecido na indústria como “primeiro plasma”, ou seja, quando um reator de fusão é ativado pela primeira vez. Needham assegurou que a equipe da CFS espera alcançar a “ganho energético líquido” em um tempo relativamente curto após essa fase inicial.

Para que a construção da Arc se concretize, a empresa precisará levantar novos fundos. Embora a CFS esteja atualmente no processo de levantar uma nova rodada de investimentos, Needham mencionou que estão avaliando também “outras fontes de capital”, que incluem empréstimos e subsídios governamentais. Em um movimento positivo, em junho, a CFS recebeu 15 milhões de dólares do Departamento de Energia dos Estados Unidos, como parte do Programa de Desenvolvimento de Fusões Baseadas em Marcos.

Enquanto a atenção da CFS está voltada para os projetos Sparc e Arc, Needham enfatizou que a empresa está, desde já, planejando o que vem depois. “Devido ao trabalho que realizamos, encontramos muitos sites promissores”, afirmou ele. “O nosso objetivo como empresa não é apenas construir uma usina de energia de fusão; queremos construir milhares delas”. Com esse espírito visionário, a CFS não apenas visa revolucionar o setor energético, mas também transformar o futuro da energia global.

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