No mundo dinâmico das startups de tecnologia, os movimentos de empresas como a Databricks atraem olhares atentos dos investidores e do mercado. Recentemente, a companhia anunciou uma impressionante rodada de financiamento, arrecadando nada menos que US$ 10 bilhões. Esse feito colocou a Databricks em destaque, especialmente em um momento em que muitos questionam os impactos das incertezas econômicas e políticas que permeiam o horizonte empresarial. Durante um evento realizado em São Francisco, o CEO da Databricks, Ali Ghodsi, fez considerações intrigantes sobre a estratégia da empresa em relação ao seu tão aguardado IPO.
Na noite de terça-feira, Ghodsi participou de uma entrevista com Dan Primack durante a Axios AI Summit, onde discorreu sobre os motivos pelos quais a Databricks optou por adiar sua abertura de capital. “Este ano foi um ano eleitoral. Queríamos obter alguma estabilidade – as pessoas estão preocupadas com as taxas de juros, a inflação… Então dissemos: olha, é uma decisão imprudente fazer um IPO este ano, então definitivamente vamos esperar”, explicou Ghodsi. Ele enfatizou que a primeira possibilidade teórica de um IPO poderia ocorrer no próximo ano, mas que os períodos de bloqueio tornariam esse processo excessivamente longo para que os colaboradores conseguissem obter liquidez.
A abertura de capital é um passo significativo para empresas de tecnologia, mas a Databricks até agora tem navegado por águas calmas, conseguindo financiar-se de maneira robusta através de sua “Série J”. Essa rodada de financiamento não apenas permitirá que os funcionários mais antigos realizem seus investimentos, mas também possibilitará que a companhia continue sua trajetória de crescimento. Apesar de 2024 parecer incerto, Ghodsi destacou que as ofertas de IPO de empresas como ServiceTitan e Reddit ocorreram de forma bem-sucedida, levando a questionamentos sobre por que a Databricks deveria arriscar-se nesse cenário, quando poderia levantar quantias tão expressivas.
Conforme Ghodsi relatou, a mais recente rodada de financiamento poderia ter quase duplicado a quantia arrecadada. Com os investidores demonstrando grande interesse, a pressão de mercado levou a Databricks a aumentar o preço de suas ações. A empresa buscava inicialmente levantar entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões, mas a demanda fez com que esse número saltasse. Ghodsi compartilhou que um relatório interno indicou um interesse total de US$ 19 bilhões, levando-o a ficar surpreso ao enxergar a magnitude desse número. “Foi algo de cair a cadeira”, comentou.
Embora Ghodsi não esteja descartando a possibilidade de um IPO da Databricks em 2025, ele também sugeriu que isso poderia se estender para 2026. Ele enfatizou que hoje em dia, a abertura de capital é menos crucial do que era há uma década ou 15 anos, um ponto que a recente arrecadação de fundos comprova. A afirmação de Ghodsi é que, nesse cenário temporal, o foco não deve ser apressar um IPO antes que a “bolha de IA”, como ele a nomeou, estoure.
Ele expressou preocupações sobre a atual situação do mercado, mencionando que “estamos no pico da bolha de IA”. Segundo Ghodsi, “não é necessário ser um gênio para perceber que uma empresa com cinco pessoas, sem produto, sem inovação, sem propriedade intelectual – apenas recém-formados – não é algo que vale centenas de milhões, às vezes bilhões.” Essa avaliação crítica surgiu em um contexto onde startups de IA vêm sendo avaliadas em cifras exorbitantes, sem fundamentos sólidos.
Embora ele não tenha mencionado diretamente quais startups estavam em sua linha de pensamento, é inegável que o ecossistema de IA gerou diversas empresas unicórnio em um curto espaço de tempo. Entretanto, esse cenário não parece incomodar Ghodsi. Ele acredita que a Databricks e sua avaliação estão preparadas para resistir ao tempo, reforçando que a empresa já passou pela sua primeira grande batalha competindo com outra startup de análise de dados, a Snowflake.
“Tivemos um programa chamado ‘SnowMelt’”, disse Ghodsi, confirmando relatos sobre uma iniciativa da Databricks que visava atrair negócios da Snowflake. Ele também fez alusão a um elevado custo associado a essa rivalidade, indicando que a Databricks desembolsou cerca de US$ 2 bilhões para adquirir uma pequena startup chamada Tabular. Esse movimento foi particularmente interessante, já que a Snowflake também havia demonstrado interesse em adquirir a Tabular, que na época tinha uma receita recorrente anual de apenas US$ 1 milhão.
Atualmente, a Databricks está focada em desafiar concorrentes maiores, desenvolvendo produtos que rivalizam com gigantes corporativos como Salesforce e Microsoft. Ghodsi acredita firmemente que os dados e a IA assumirão um papel cada vez mais importante na vida das pessoas a cada ano que passa, e se vê sua empresa bem posicionada para atender a essa crescente demanda.