Com a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, sua escolha de D. John Sauer como o principal advogado do governo perante o Supremo Tribunal trouxe novos desafios e oportunidades para a administração republicana. Sauer, que anteriormente se destacou ao garantir imunidade para Trump em um processo de subversão eleitoral, já era um nome conhecido nas batalhas culturais e legais que dividem o país.

Por mais de uma década, Sauer tem se posicionado firmemente Nas principais questões de direitos civis, especialmente em relação ao aborto e direitos LGBTQ+. Nomeado para o cargo de procurador geral dos EUA, Sauer é um defensor vocal contra os direitos ao aborto, acesso a contraceptivos e casamento entre pessoas do mesmo sexo. Depois que Trump perdeu as eleições em 2020, ele também apoiou os esforços para reverter o resultado e, mais recentemente, foi um dos conservadores proeminentes que argumentou que a administração Biden censurou visões de direita em questões relacionadas à Covid-19.

Agora, ele está prestes a se tornar um dos advogados mais poderosos do país, representando a administração Trump em um tribunal que pode ser ainda mais receptivo à agenda do presidente do que antes. Durante seu primeiro mandato, Trump nomeou três dos nove juízes do Supremo, um fator determinante que pode moldar decisões em questões cruciais para a sociedade americana. A experiência de Sauer, seu vínculo pessoal com Trump e a composição transformada do tribunal podem resultar em uma defesa legal sem precedentes nas próximas décadas.

Sauer já está liderando litígios sobre os direitos dos transgêneros, um tema que foi um dos pivôs mais debatidos durante a corrida presidencial e é central em um dos casos mais observados do atual termo. Em apenas 48 horas após sua seleção para o cargo, ele participou de um painel da Federalist Society intitulado “Sexo, Gênero e a Lei”, onde discutiu um caso que ele havia recentemente apelado ao Supremo Tribunal em nome de legisladores do Arizona, que buscam impedir que garotas e mulheres trans joguem em equipes esportivas femininas. O tribunal de apelação federal bloqueou a “Lei de Salvar os Esportes Femininos” do Arizona, considerando que a proibição violava a garantia de proteção igual da Constituição.

No meio dessa disputa, o tribunal ouviu argumentos sobre a possibilidade de os estados banirem tratamentos de afirmação de gênero para crianças que experimentam disforia de gênero, ou seja, o sofrimento relacionado à identidade de gênero que não corresponde ao sexo atribuído ao nascimento. A administração Biden pediu ao tribunal que analisasse o caso depois que tribunais de apelação dos EUA mantiveram proibições em Tennessee e Kentucky, o que representa um ponto de inflexão impactante para os direitos transgêneros no país.

Um dos primeiros desafios para o novo procurador geral dos EUA será alertar os juízes sobre uma nova posição sob a administração Trump. A nova administração pode não querer retirar a petição ou reduzir a consideração do caso, uma vez que os juízes parecem prontos para manter as proibições. Sauer, no entanto, se recusou a conceder uma entrevista para discutir esses assuntos.

Formado pela Harvard Law School e bolsista Rhodes, Sauer foi um dos clerks do falecido juiz Antonin Scalia e se tornou procurador geral do estado do Missouri. Sua trajetória profissional, em contraste com muitos de seus colegas que seguem no mundo do direito corporativo, mostra um compromisso com sua ideologia conservadora e católica, que o levou a se destacar em questões polêmicas sem perder sua autenticidade. Ele permaneceu em grande parte fora do radar até sua recente representação de Trump.

A presidente do grupo de direitos reprodutivos Reproductive Equity Now, Rebecca Hart Holder, expressou preocupações sobre a direção que Sauer poderá levar o governo federal em questões de direitos reprodutivos. Ela alertou que a escolha de um advogado tão educado e conservador, que fez do ataque aos direitos ao aborto um pilar de sua carreira, é alarmante. “Ele é um advogado que irá atrás não apenas do acesso ao aborto, mas também da vigilância daqueles que possam estar buscando atendimento de aborto”, disse Holder.

Apenas neste ano, segundo dados da Comissão de Ética do Missouri, Sauer contribuiu com $ 777.000 para o comitê de ação política Missouri Right to Life e outras duas organizações que se opuseram a uma medida de ballot chamada Emenda 3, na tentativa de garantir direitos ao aborto no estado.

O reconhecimento a Sauer não veio apenas de seus aliados. Ex-juízes da corte de apelações dos EUA, como Michael Luttig, conhecido por sua crítica implacável a Trump, louvaram sua nomeação, destacando suas qualidades como um homem de fé e princípios. Ele iniciou sua carreira com um compromisso com causas conservadoras que o levaram a desenvolver um histórico de ações legais significativas em questões de aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo e política social.

Sauer foi peça chave em diversos casos importantes, como no desafio ao Affordable Care Act por conta da cobertura de contraceptivos e na defesa de legisladores que se opuseram ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, resultando em um aumento da pressão sobre direitos civis. Ele também apresentou sólidos argumentos legais em casos que levaram à reversão de Roe v. Wade no caso Dobbs v. Jackson Women’s Health Organization.

Parece que, sob a liderança de Sauer, as questões que dividem a sociedade americana só tendem a se acirrar nas cortes. A advocacia dele, combinada com a composição conservadora do tribunal, e sua familiaridade com as batalhas do governo Trump, torna-o uma figura que poderá chamar a atenção em um período de profunda polarização social.

O que esperar de Sauer? Ele está prestes a se tornar um indivíduo central em uma administração que busca reverter muitas normas estabelecidas nas últimas décadas. O futuro dos direitos reprodutivos e membros da comunidade LGBTQ+ pode depender bastante das diretrizes que Sauer irá empregar em sua função como advogado geral. A corrida está apenas começando e a resposta das cortes será crucial para moldar o futuro das legislações nos Estados Unidos.

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