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A Ucrânia fez um anúncio que poderia mudar o cenário da guerra moderna: o desenvolvimento de uma arma a laser, chamada ‘Tryzub’, capaz de derrubar alvos a mais de 1,2 milhas de distância. O comandante das Forças Armadas da Ucrânia para Sistemas Não Tripulados, Vadym Sukharevskyi, revelou essa inovação em um recente cúpula de defesa em Kyiv, enfatizando que essa tecnologia já está operacional e pode refletir um ponto de virada significativo no combate ao uso de drones e aeronaves inimigas.
Durante sua apresentação, Sukharevskyi destacou: “Hoje, já podemos derrubar aeronaves com este laser a uma altitude de mais de 2 quilômetros”. A afirmação, sem dúvida, levanta a curiosidade e a expectativa sobre a eficácia desta tecnologia em um campo de batalha onde as armas de alta tecnologia estão se tornando cada vez mais prevalentes.
Reportagens do serviço de notícias Interfax-Ucrânia relataram que o comandante afirmou com confiança: “Ele realmente funciona, realmente existe”, enquanto discutia os esforços para ampliar as capacidades e a escala da arma. A escolha do nome ‘Tryzub’, que significa ‘tridente’ em ucraniano, é uma referência ao símbolo nacional da Ucrânia, que representa independência, força e unidade. Essa ligação simbólica não apenas destaca o orgulho nacional, mas também reforça a importância desta inovação na defesa da soberania ucraniana.
Embora Sukharevskyi não tenha fornecido detalhes adicionais sobre o sistema a laser ‘Tryzub’, especialistas consultados pela CNN afirmaram que a existência desse tipo de tecnologia é, de fato, viável. Patrick Senft, da Armament Research Services, uma consultoria especializadas em armamentos e munições, comentou que, embora pouco se saiba sobre o sistema Tryzub, “é totalmente viável para a Ucrânia desenvolver uma arma de energia direcionada funcional capaz de destruir alguns alvos aéreos”.
Senft acrescentou que a combinação de lasers de soldagem comerciais disponíveis no mercado com outras tecnologias poderia facilitar o desenvolvimento da versão ucraniana a laser. Ele fez uma referência ao Sistema de Armas a Laser (LaWS) da Marinha dos EUA, que tem operado em distâncias comparáveis desde 2014. Essa demonstração de capacidade por parte dos EUA fornece um marco de referência crucial para as tecnologias emergentes que estão sendo implantadas por países em conflito.
Os sistemas de armas a laser têm mostrado ser particularmente eficazes contra drones de baixa altitude e de voo lento, utilizados frequentemente pelas forças russas. De acordo com Senft, a fragilidade dos componentes desses drones pode torná-los vulneráveis ao calor gerado por explorações com laser. Ele explicou que a altitude e o padrão de voo cômodo das UAVs, como os drones umidadores Shahed-136/Geran-2, “os tornam particularmente suscetíveis a uma exposição sustentada ao laser”. Nesses termos, o ‘Tryzub’ pode ser uma ferramenta promissora na proteção contra essas ameaças aéreas.
No entanto, é importante ressaltar que armas a laser possuem desafios significativos. Senft destacou que a eficácia dessas armas está diretamente relacionada à velocidade dos alvos e à energia perdida à medida que os lasers se afastam. Alvos com alta velocidade ou resistência ao calor, como projéteis de artilharia ou mísseis balísticos, são muito mais desafiadores de neutralizar, exigindo sistemas muito mais avançados.
Fabien Hoffmann, do Oslo Nuclear Project, também observou que há uma série de obstáculos técnicos para implementar um sistema laser eficaz contra drones ou mísseis. Estes desafios incluem problemas relacionados à força do feixe laser, ao resfriamento do sistema, além da absorção e reflexão atmosférica do feixe (como em condições de nuvem ou chuva), conhecido como “blooming térmico”. Esse fenômeno ocorre quando o feixe laser aquece o ar circundante, fazendo com que se espalhe e reduza seu poder e eficácia na destruição do alvo.
“Para avaliar a eficácia desta tecnologia em papel de defesa contra mísseis, precisamos observar como ela se comporta na prática”, concluiu Hoffmann. Apenas alguns países ao redor do mundo, incluindo os EUA, China e Israel, têm conhecimento de que possuem armas a laser em seu arsenal. Além disso, o Reino Unido está desenvolvendo seu próprio sistema de armas a laser, chamado DragonFire, que deve estar operacional em 2027.
Em abril, o ex-ministro da Defesa do Reino Unido, Grant Shapps, mencionou que o DragonFire poderia ser utilizado na Ucrânia para neutralizar drones russos, o que levanta um debate ainda maior sobre o papel das novas tecnologias de defesa na guerra em curso. Em um ambiente onde as inovações tecnológicas estão moldando as dinâmicas do conflito, a capacidade da Ucrânia de explorar tecnologias emergentes como a laser promete não apenas aumentar sua defesa, mas também inspirar uma nova era de combate militar.