Wellington, Nova Zelândia (AP) — O cenário em Vanuatu é desolador após um potente terremoto de magnitude 7,3 que atingiu a nação insular do Pacífico Sul, deixando centenas de pessoas necessitando de ajuda urgente. Nesta quarta-feira, a capital, Port Vila, enfrenta uma crise de abastecimento de água, um dia após os reservatórios terem sido devastados pelo tremor, enquanto as autoridades temem que o número de mortos e feridos continue a crescer.

Na manhã de quarta-feira, o escritório de gerenciamento de desastres do governo confirmou 14 mortes, embora horas depois uma atualização do hospital principal da capital tenha indicado que apenas nove mortes foram verificadas até o momento. Um porta-voz da instituição enfatizou que o número de vítimas “deve aumentar”, dada a quantidade de pessoas que ainda permanecem presas sob os escombros dos edifícios colapsados. Aproximadamente 200 pessoas estão sendo tratadas por ferimentos, refletindo a extensão devastadora da tragédia.

Entre as vítimas, dois cidadãos chineses foram identificados, conforme reportado pela agência estatal Xinhua, citando um oficial da embaixada da China em Vanuatu. Os esforços de resgate, que começaram de maneira frenética e contínua desde o momento em que o terremoto atingiu, não só têm se deparado com a busca por sobreviventes em meio aos escombros, mas também com o calor intenso e a escassez de água.

Trabalhadores e voluntários estão utilizando pás e as mãos nuas para cavar entre os destroços em busca de vidas ainda soterradas. A comunicação foi severamente afetada, uma vez que uma queda quase total da infraestrutura de telecomunicações está dificultando que muitos confirmem a segurança de seus entes queridos. Embora alguns provedores tenham iniciado a reestabelecer os serviços de telefonia, a conectividade permanece errática, o que só agrava a situação de angústia familiar.

Para piorar a situação, o serviço de internet ainda não foi restabelecido, pois o cabo submarino que provê a conexão foi danificado. Segundo dados do Centro de Estudos Geológicos dos EUA, o terremoto ocorreu a uma profundidade de 57 quilômetros, a cerca de 30 quilômetros a oeste da capital. Após o tremor, um alerta de tsunami foi rapidamente cancelado, mas a população continua a lidar com os abalos sísmicos secundários que têm ocorrido desde então, gerando um ambiente de estresse contínuo.

Katie Greenwood, chefe da Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho na região da Ásia-Pacífico, expressou preocupação sobre a situação, dizendo que não se sabe quantas pessoas ainda estão desaparecidas ou feridas. “Recebemos informações anecdóticas de pessoas no local de busca e resgate que mostram confiança de que, infelizmente, esses números vão aumentar”, comentou ela, ressaltando a fragilidade da situação.

O principal hospital da capital, o Vila Central, também foi severamente danificado, levando ao deslocamento de pacientes para um acampamento militar. Clement Chipokolo, diretor da World Vision em Vanuatu, destacou que os serviços de saúde, que já enfrentavam dificuldades antes do terremoto, agora estão completamente sobrecarregados. O cenário é crítico e exige uma mobilização significativa de ajuda humanitária, algo que está começando a ocorrer.

Escombros ao redor de um prédio colapsado após um forte terremoto em Port Vila, Vanuatu, 17 de dezembro de 2024.

Crise hídrica em meio ao caos

Com a energia elétrica cortada em várias partes de Port Vila, a principal preocupação entre as agências de ajuda é a falta de água. O Escritório Nacional de Gerenciamento de Desastres informou que dois grandes reservatórios que abasteciam a capital foram totalmente destruídos, complicando ainda mais a situação emergencial.

Moradores, como Milroy Cainton, relatam que as pessoas estão enfrentando longas filas para adquirir água em lojas, tendo como limite a compra de apenas duas ou quatro garrafas por vez. “As pessoas não estão preocupadas com a eletricidade, estão apenas preocupadas com a água”, afirmou Cainton. Essa crise hídrica já se reflete na saúde da população, com o UNICEF reportando um aumento de casos de diarreia entre crianças, o que indica que algumas delas começaram a consumir água contaminada.

Eric Durpaire, responsável pelo escritório da UNICEF em Vanuatu, destacou que as autoridades têm recomendando a fervura da água, sempre que possível, em áreas onde o abastecimento foi restaurado. Ao mesmo tempo, as autoridades de saúde estão em estado de alerta, dada a rápida deterioração das condições sanitárias e de saúde pública.

Embora a capital tenha sido a mais atingida, as consequências do terremoto podem ser vistas em diversas localidades vizinhas. De acordo com informações oficiais, ao menos dez edificações no centro comercial da cidade sofreram danos severos, e um número indeterminado de pessoas foi deixado sob os escombros. Esperamos que os esforços de resgate continuem a se intensificar, já que as equipes enfrentam o desafio de direcionar suas ações para as áreas onde acreditam que ainda existem sobreviventes.

Michael Thompson, que gerencia um negócio de turismo em Vanuatu, esteve entre os resgatadores e compartilhou um vídeo no Facebook mostrando os esforços em meio ao caos, com sobreviventes cobertos de poeira sendo levados em macas. Suas postagens são um apelo para que as pessoas contribuam com ferramentas e água nos locais da tragédia.

A destruição da embaixada dos Estados Unidos, que foi inaugurada recentemente como parte dos esforços americanos para expandir sua presença no Pacífico, ficou clara visualmente com a seção do prédio que colapsou, atingindo o primeiro andar. O Departamento de Estado dos EUA confirmou que os funcionários da embaixada estão seguros, mas o edifício não é mais funcional. Expectativa agora é que os sistemas de ajuda humanitária possam ser restabelecidos o mais rápido possível, pois o país depende fortemente de exportações agrícolas e turismo, ambos severamente afetados.

Com o aeroporto fechado para voos comerciais por mais 72 horas, operadoras estão trabalhando para garantir que as necessidades emergenciais sejam atendidas. No entanto, especialistas franceses que chegaram por helicóptero afirmaram que a pista é utilizável para voos humanitários, o que poderá permitir a entrada de socorros. As operações de resgate e recuperação continuaram, ressaltando a resiliência e a determinação da comunidade em reconstruir suas vidas.

A posição geográfica de Vanuatu em uma zona de subducção, onde a placa tectônica Indo-Australiana se apoia sob a placa do Pacífico, torna terremotos de grande magnitude uma ocorrência recorrente. A infraestrutura de Vanuatu sempre foi projetada para suportar danos causados por esses eventos, mas os desafios atuais exigem uma resposta internacional robusta e rápida para ajudar o país a se recuperar dessa tragédia devastadora.

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