A recente decisão do Primeiro-Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de manter as forças militares em Monte Hermon, na Síria, pelo menos até o final de 2025, reflete não apenas a complexidade da atual situação política na região, mas também as preocupações de segurança que a Israel enfrenta nesse contexto. As palavras do líder israelense, comunicadas a uma fonte que teve conhecimento da questão, ecoam a determinação de assegurar um controle substancial sobre um território que se tornou estratégico após a recente instabilidade no país vizinho. O Monte Hermon, o pico mais alto da Síria, não apenas carrega uma importância geográfica, mas é uma posição crucial que se não é observada, pode ter implicações sérias para a segurança de Israel e a estabilidade da região como um todo.
A ocupação do Monte Hermon foi resultado do colapso do regime de Bashar al-Assad, que foi expulso por uma coalizão liderada por rebeldes há poucas semanas. A princípio, as autoridades israelenses, incluindo Netanyahu, classificaram a presença militar como uma medida temporária de segurança. Essa mudança de postura reflete um reconhecimento da fragilidade da situação em território sírio e uma tentativa de responder ativa e rapidamente a essas mudanças.
Segundo informações obtidas, a ordem de Netanyahu visa manter as tropas israelenses na área até que a situação política e de segurança na Síria se estabilize. Além disso, o Primeiro-Ministro está aguardando um posicionamento claro sobre as intenções dos novos líderes sírios em respeitar um acordo de 1974 que estabeleceu uma zona de buffer ao longo da fronteira compartilhada entre Israel e a Síria, onde se localiza o pico do Monte Hermon. Até a recente tomada do local, essa área era desmilitarizada e mantida sob a supervisão de forças de paz da ONU, as quais ocupavam a posição permanente mais elevada em todo o mundo.
O novo líder sírio, Ahmed al-Sharaa, amplamente conhecido por seu nome de guerra, Abu Mohammad al-Jolani, falou diretamente sobre os atos de Israel, acusando o país de ultrapassar “as linhas de engajamento” com suas ações na Síria. Várias nações árabes também expressaram preocupações, alegando que Israel estaria se aproveitando da instabilidade para realizar uma “apropriação de terras”, expandindo suas fronteiras e ocupando mais territórios sírios. Em resposta a essas críticas, Netanyahu reafirmou a necessidade de controle territorial, afirmando que “Israel não permitirá que grupos jihadistas preencham esse vácuo e ameacem as comunidades israelenses” nas Colinas de Golã, região da Síria que também foi ocupada e anexada por Israel em 1981. Essa região é conhecida por sua relevância estratégica, atuando como um ponto de observação sobre a Síria e Líbano.
Além deste cenário, é importante destacar que, recentemente, o governo israelense aprovou um plano de Netanyahu que visa a expansão dos assentamentos nas Colinas de Golã. O escritório do Primeiro-Ministro informou que essa decisão partiu do “desejo de dobrar a população” na área, mostrando um comprometimento estratégico a longo prazo na região.
Controlando a posição do Monte Hermon, Israel não apenas ganha uma vantagem geográfica, mas também coloca a capital síria, Damasco, a apenas 35 quilômetros de distância, o que a torna vulnerável em um possível confronto militar. Controlar as colinas sírias também coloca as forças israelenses em uma posição ofensiva, aumentando ainda mais a complexidade do já frágil equilíbrio de poder na região do Oriente Médio. Além disso, informações de grupos de ativistas sírios indicam que o exército israelense está avançando além do cume do Monte Hermon, chegando até Beqaasem, a cerca de 25 km de Damasco, embora essas alegações ainda necessitem de confirmação independente.
A continuidade dessa dinâmica entre Israel e Síria é uma questão complexa e multifacetada, que não se limita apenas a decisões territoriais, mas se entrelaça com franjas etno-religiosas, tensões históricas e um contexto geopoliticamente instável. O futuro das relações entre os dois países e de toda a região depende de como essas questões evoluirão nos próximos anos. O que resta agora é observar como a situação se desenrolará e quais serão as repercussões dessa decisão estratégica de Netanyahu.
Mostafa Salem e Nadeen Ebrahim contribuíram para esta reportagem.