O presidente francês Emmanuel Macron chegou ao arquipélago de Mayotte, localizado no Oceano Índico, poucos dias após a devastação causada pelo ciclone Chido, que resultou em uma tragédia humanitária sem precedentes na região. A visita do líder francês ocorre em um momento crítico, uma vez que o território ultramarino francês foi severamente atingido, resultando em um número alarmante de mortos e desaparecidos, além de danos estruturais massivos.
Até o momento, pelo menos 31 pessoas foram confirmadas como mortas, embora as autoridades locais temam que o número real possa ser muito maior, possivelmente alcançando centenas ou até milhares de vítimas. O ciclone Chido, que superou as expectativas ao se intensificar rapidamente, foi classificado como uma tempestade de Categoria 4 e atingiu a Mayotte com ventos que superaram 220 km/h. Testemunhas relatam que a destruição em áreas como a capital Mamoudzou foi tão intensa que muitos descreveram a cena como “catastrófica” e “apocalíptica”. Bruno Garcia, um residente local, disse que o local parece ter sofrido os efeitos de uma bomba atômica, afirmando que “não sobrou nada”.
Ao aterrissar em Mayotte na quinta-feira, Macron expressou sua gratidão aos oficiais do aeroporto que têm contribuído para facilitar a chegada de ajuda humanitária proveniente da Ilha da Reunião, outro território ultramarino francês. Em seguida, ele se dirigiu de helicóptero para uma visão mais ampla das áreas afetadas pelo ciclone, umas das quais permanecem inacessíveis devido à severidade do desastre. O ciclone Chido foi o mais poderoso a atingir Mayotte em pelo menos 90 anos, deixando bairros inteiros devastados, comunidades sem energia elétrica e instalações de saúde e escolares destruídas.
A ilha de Mayotte, que abriga cerca de 300 mil habitantes, apresenta um desafio adicional em termos de avaliação da extensão dos danos, principalmente pela presença significativa de migrantes indocumentados que vivem em habitações informais. Estima-se que cerca de 100 mil migrantes, muitos deles provenientes das ilhas Comores e Madagascar, residam em Mayotte, segundo dados do ministério do Interior da França.
O governo francês declarou um estado de “catástrofe natural excepcional”, um passo que nunca havia sido adotado antes, a fim de gerenciar a crise. Os responsáveis locais também tomaram medidas para congelar os preços de produtos de primeira necessidade, tornando-se essencial em meio a escassez desses itens. A falta de água potável e as precárias condições de saneamento geraram alertas sobre a possibilidade de um surto de doenças nas comunidades afetadas pelo ciclone, o que intensifica ainda mais a urgência de assistência humanitária e medidas de saúde pública.
Com a situação se agravando, a Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (IFRC) relatou que perdeu contato com 200 de seus voluntários em Mayotte e está em uma corrida contra o tempo para entregar ajuda, incluindo água e suprimentos médicos, às comunidades impactadas. Em uma resposta rápida à crise, as autoridades francesas já enviaram 120 toneladas de alimentos, e Macron anunciou que seu avião também transportou mais de quatro toneladas de ajuda alimentar e de saúde durante sua visita.
A situação se torna ainda mais complexa, pois Mayotte já vinha lutando contra questões de pobreza, violência e uma crise de migração que o governo francês tem tentado controlar com ações que incluem operações policiais e deportações em massa. Contudo, diante da magnitude da catástrofe provocada pelo ciclone, discussões sobre alternativas para uma resposta mais robusta à crise humanitária em Mayotte devem prevalecer, com um chamado urgente para ações coordenadas que garantam a segurança e o bem-estar de todos os residentes, incluindo os muitos migrantes vulneráveis que também foram afetados por este desastre.
À medida que as operações de recuperação e ajuda humanitária se intensificam, a necessidade de um plano de longo prazo para enfrentar os desafios sociais, econômicos e humanitários na região de Mayotte se torna cada vez mais clara. A resiliência da população e a solidariedade internacional serão cruciais para que a ilha se recupere deste desastre e consiga, finalmente, criar um futuro mais seguro e estável para todos os seus habitantes.