Atualmente, a indústria enfrenta um desafio crescente com o uso de baterias de lítio, que se tornam cada vez mais caras, demandam muito espaço e, em diversas aplicações, são desnecessárias. Uma alternativa promissora que está ganhando espaço é a chamada bateria térmica, que armazena energia na forma de calor por longos períodos. Além de muitas vezes serem mais baratas para investimento e implementação, essas baterias se adequam a uma variedade de aplicações industriais. A recente parceria entre a dinamarquesa Hyme Energy e a Arla, uma das maiores cooperativas lácteas do mundo, pode ser um marco importante na escalabilidade dessa tecnologia.
A Hyme Energy, conhecida por suas baterias térmicas que utilizam sal derretido, acaba de assinar um acordo revolucionário com a multinacional dinamarquesa-sueca Arla, visando desenvolver um sistema de armazenamento térmico em grande escala. O projeto inicial será implementado na instalação de pó de leite da Arla em Holstebro, Dinamarca. Além disso, as duas empresas vão buscar financiamento da União Europeia para apoiar o projeto, ampliando assim as possibilidades de inovação e redução de impactos ambientais relevantes.
O sistema proposto pela Hyme utilizará tecnologia de sal fundido projetada para indústrias que consomem muita energia, como a produção de alimentos e bebidas, químicos e metais. Com uma capacidade planejada de 200 MWh, a instalação convertendo eletricidade de fontes renováveis em calor, que será armazenado em tanques de sal fundido a mais de 500° Celsius. O objetivo é substituir completamente a energia proveniente de combustíveis fósseis na produção de pó de leite da Arla, almejando a redução total das emissões de dióxido de carbono, estabelecendo um padrão elevado para práticas sustentáveis no setor.
Ask Emil Løvschall-Jensen, cofundador e CEO da Hyme, expressou otimismo em relação à adequação das soluções da empresa aos processos da Arla, especialmente pela demanda contínua por vapor nas operações. Segundo ele, a Hyme se concentra em segmentos industriais que exigem uma grande demanda por vapor, particularmente nas faixas de temperatura entre 200° C e 500° C. “Existem muitas tecnologias emergentes nesse espaço. Uma é o sal fundido, e a outra é o meio de armazenamento sólido, como grafite e cerâmica”, comentou Løvschall-Jensen, ressaltando que a principal diferença se encontra nas descargas de vapor de longa duração.
A velocidade com que essa tecnologia pode ser escalonada pela Europa para atender à demanda industrial é uma questão crucial. Løvschall-Jensen argumenta que é factível. Uns dos seus argumentos evidenciam que “não há limitação para o meio de armazenamento produzido… Portanto, isso pode ser escalado em qualquer ritmo. Adotamos uma estratégia que envolve não ser um fabricante dos componentes, mas sim colaborar com fornecedores reconhecidos e parceiros EPC (Engenharia, Procurement e Construção) para garantir que possamos escalar rapidamente”.
O papel do capital de risco neste espaço também é um tema discutido. Løvschall-Jensen afirma que a situação é mista. Embora seja mais simples levantar fundos para software, existem investidores que reconhecem a necessidade de captar tecnologias mais cedo para se tornarem parceiros de crescimento apropriados posteriormente. “Estamos vendo indícios disso”, acrescentou o CEO.
Nas últimas rodadas de captação de recursos, a Brightfolk liderou a primeira captação da Hyme, que arrecadou €10,4 milhões (equivalente a US$10,8 milhões). Em adição, a empresa levantou €8,4 milhões (cerca de US$8,7 milhões) em notas conversíveis e, juntamente com subsídios, o total chega a impressionantes €25 milhões (aproximadamente US$26 milhões). Com foco na expansão, a startup deve buscar entre €20 milhões e €30 milhões (entre US$20,8 milhões e US$31,2 milhões) na sua próxima rodada de investimentos, a Série A.
De acordo com dados da PitchBook, startups de baterias térmicas, como a Hyme, levantaram mais de US$170 milhões em financiamento de risco em 2023 e estão projetadas para arrecadar o dobro desse valor em 2024. Em um cenário onde a inovação se torna cada vez mais crucial, a competição também se intensifica. A Hyme enfrenta concorrentes como a Electrified Thermal Solutions, que transforma tijolos em armazenadores de calor, e a Fourth Power, que usa blocos de grafite para armazenar energia a altas temperaturas, além da MGA Thermal, que visa apoiar a transição das empresas de serviços públicos para fontes de energia renováveis.
No contexto atual, a parceria entre Hyme Energy e Arla não só promete trazer inovações significativas no setor de armazenamento de energia térmica, mas também reforça a união entre tecnologia e sustentabilidade, elementos essenciais para um futuro mais verde e ético na indústria. Fica a expectativa sobre os próximos passos dessa colaboração e o impacto que ela pode ter na luta contra as emissões de carbono e na transição energética necessária no mundo contemporâneo.