A recente decisão da Disney de entrar em um acordo de $15 milhões com o presidente eleito Donald Trump tem gerado repercussões significativas dentro da indústria da mídia. Essa movimentação não apenas alterou o panorama do relacionamento entre a Disney e a nova administração, mas também levantou questionamentos sobre a coragem das corporações em enfrentar potenciais conflitos relacionados à liberdade de expressão. Bob Iger, CEO da The Walt Disney Company e figura central nesse acordo, parece ter decidido recuar de um confronto direto com Trump antes mesmo de ele assumir o cargo, gerando críticas e preocupações entre os jornalistas e profissionais da mídia.
De acordo com reportagens da New York Times e do The Wall Street Journal, a base de funcionários da ABC expressou sua indignação frente ao acordo, que foi recomendado pelo departamento jurídico da rede e apoiado por Iger. Curiosamente, esse assunto não foi levado ao conselho da Disney para votação, o que levanta dúvidas sobre a transparência da decisão. O que fica claro é que as repercussões dessa escolha ecoam não apenas dentro da Disney, mas por toda a indústria de mídia, deixando um rastro de insatisfação e questionamentos sobre até onde as corporações estão dispostas a ir em defesa da liberdade de expressão.
O consenso em muitos círculos é que, embora o caso parecesse extremamente favorável para a Disney, a companhia poderia estar evitando depoimentos que revelariam comunicações internas potencialmente embaraçosas. Essa estratégia de evitar exposição pode ser vista como uma tentativa de proteger a reputação da empresa em um ambiente político cada vez mais polarizado. Contudo, o fato de a Disney ter optado por não enfrentar um conflito ligado à liberdade de expressão, especialmente considerando sua influência e recursos robustos, sugere que a resistência diante da administração Trump não será uma prioridade para a companhia.
O que também se destaca nessa narrativa é a nova dinâmica entre Trump e os líderes do setor tecnológico e midiático. Desde sua reeleição, diversos CEOs têm se reunido com Trump, demonstrando um claro interesse em estabelecer relações amigáveis. Figuras proeminentes como Mark Zuckerberg e Tim Cook não hesitaram em se reunir com o ex-presidente, e alguns até contribuíram com doações substanciais para seus fundos. Com isso, a pergunta que fica é: será que estes líderes realmente buscam amizade, ou estão apenas tentando evitar a fúria de um empresário que já teve a capacidade de afetar o valor de mercado de grandes corporações com um único tweet?
Bob Iger, como qualquer executivo que tem responsabilidades fiduciárias com os acionistas, não está disposto a correr riscos desnecessários em sua posição. Com a proximidade do término de seu contrato e uma série de desafios preexistentes — como a revitalização de suas divisões de streaming e a busca por um sucessor — ele parece optar por um acordo que proteja a empresa e maximize suas chances de navegar pelas incertezas políticas dos próximos anos.
Embora não esteja imerso nas reuniões sociais de Palm Beach como outros executives, Iger tem suas próprias maneiras de se proteger na nova era Trump. O acordo de $15 milhões representa uma forma de “apólice de seguro”, ao financiar um museu presidencial onde a administração de Trump será destacada. Assim, enquanto outros CEOs se mostram cada vez mais próximos do ex-presidente, Iger adota uma abordagem mais cautelosa, evitando compromissos públicos, embora por trás das cortinas esteja envolvido em negociações que podem assegurar a continuidade da Disney em um mercado volátil.
Recentemente, surgiram notícias que a Disney editou um enredo com temática transgênero de sua nova série da Pixar, “Win or Lose”, o que levanta especulações sobre se a Disney está se distanciando de suas iniciativas de diversidade em antecipação a uma nova presidência sob Trump. Embora a personagem trans continue na série, a remoção do enredo relacionado foi uma decisão tomada antes do acordo firmando um novo padrão para a Disney. Nesse contexto, a mensagem se torna clara: é necessário navegar com cuidado nas águas perigosas da política contemporânea.
Considerações Finais: Diante de um ambiente tão imprevisível, a decisão de Iger de trilhar um caminho mais cauteloso e evitar confrontos desnecessários pode ser vista como uma estratégia para preservar a integridade e a valorização da Disney em meio às incertezas que se aproximam. Afinal, em um cenário onde tudo pode mudar com um único tuíte, a prudência pode ser uma virtude inestimável.