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Avignon, França
CNN
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Na última quinta-feira, um julgamento horripilante que durou meses e envolveu casos de mass rape e drogas foi concluído na França, resultando na condenação de Dominique Pelicot, um homem de 72 anos, e outros 50 homens, todos encontrados culpados pela violação ou assédio sexual de sua ex-esposa, Gisèle Pelicot. Este caso não causou apenas choque, mas também uma onda de indignação em um país que luta contra uma cultura de misoginia arraigada e agressões sexuais sistemáticas.
Dominique Pelicot, que solicitou dezenas de estranhos para estuprar Gisèle enquanto ela estava inconsciente, recebeu a pena máxima de 20 anos por violação agravada. Entre os demais, 48 homens foram condenados por violação, enquanto dois foram considerados culpados por assédio sexual. As sentenças, no entanto, deixaram muitos em estado de choque, uma vez que alguns dos réus receberam penas muito mais brandas, inclusive suspensas, gerando um sentimento de injustiça.
Este julgamento se tornou um momento de reflexão para a sociedade francesa, impulsionando muitas mulheres a exigir mudanças drásticas nas abordagens em relação à violência baseada em gênero. Uma parte significativa da atenção se concentrou na decisão corajosa de Gisèle em renunciar ao seu anonimato, tornando o julgamento público – uma ação vista por muitos como heroica. Por meses, ela enfrentou seus agressores no tribunal, permitindo que o mundo visse os horrores que sofreu não apenas de seu marido, mas de dezenas de outros homens ao longo de mais de uma década.
Submetida a um sofrimento inimaginável, Gisèle desafiou a norma ao pedir que o julgamento fosse realizado de forma transparente, com a esperança de encorajar outras mulheres a se manifestarem e a mostrar que não há vergonha em se tornar uma vítima. “Eu penso em todas as vítimas desconhecidas de histórias que geralmente acontecem nas sombras. Quero que vocês saibam que compartilhamos a mesma luta”, declarou Gisèle. Ela enfatizou que nunca se arrependeu da escolha de ir a público, afirmando que as mensagens de apoio que recebeu a fortaleceram em sua jornada de cura.
Embora Dominique tenha recebido a pena máxima permitida na França para violação agravada, muitos outros réus que frequentaram a casa Pelicot várias vezes receberam penas inferiores ao esperado pelos promotores, o que gerou tumulto e descrença na sala do tribunal. Uma mulher local, Nedeljka Macan, se manifestou dizendo que as sentenças eram um “insulto”, ecoando um sentimento geral de descontentamento com as falhas no sistema judiciário francês.
A defesa de Pelicot, liderada pela advogada Beatrice Zavarro, já cogita apelar, alegando que seu cliente se tornou um bode expiatório. No entanto, as evidências mostraram que Pelicot estava no centro da organização dos crimes. Ele recrutou os homens para estuprar sua esposa através de uma “rede de encontros” online, utilizando um chat com a descrição “sem o conhecimento dela”, onde compartilhava fotos dela inconsciente e organizava encontros por Skype e mensagens de texto.
O teste de Gisèle ao tribunal incluiu questionamentos aos seus agressores, muitos dos quais afirmaram acreditarem que o consentimento do marido era suficiente. Em um momento emocionante, ela disse no tribunal: “Estupro é estupro. Quando você entra em um quarto e vê um corpo imóvel, em que momento você decide não reagir… por que não saiu imediatamente para relatar isso à polícia?” Sua declaração deixou claro que, por mais que o caso tenha se encerrado, a batalha por justiça e uma mudança significativa no tratamento de vítimas de violência sexual está longe de acabar.
O desfecho deste julgamento trouxe à tona a insatisfação generalizada em torno da forma como os casos de violência sexual são tratados no país. Olympe Desanges, ativista pelos direitos das mulheres, expressou sua profunda decepção com os veredictos, enquanto Sarah McGrath, CEO da Women for Women France, destacou que a França é “notória por suas sentenças muito brandas em casos desse tipo”, ressaltando as deficiências do sistema de justiça. Com apenas 10% das vítimas de estupro relatando os crimes, a necessidade de uma reforma no sistema judicial se torna mais urgente do que nunca.
À medida que a sociedade francesa se agita em resposta a esses veredictos, fica clara uma verdade: a luta por justiça verdadeiramente eficaz e a proteção dos direitos das mulheres continua. A esperança é que o sonho de um futuro mais seguro e justo se traduza em ações concretas que possam mudar a cultura de impunidade que tem permeado a abordagem da violência sexual na França.
CNN’s Caroline Baum, Antoinette Radford, e Kathy Rose O’Brien contribuíram para este relato.
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