Com a ascensão exponencial da inteligência artificial (IA), a segurança dos dados tornou-se uma preocupação central para empresas que procuram implementar essas novas tecnologias. Num cenário em que o cumprimento de regulamentos emergentes de privacidade de dados é exigido, como o Ato de Dados da União Europeia, os fornecedores de IA estão cada vez mais sob a pressão de seus clientes, que demonstram ceticismo em relação ao uso e processamento de seus dados. Essa nova realidade desafia inúmeras organizações, muitas das quais se descobrem mal preparadas para enfrentar as complexidades associadas àquelas regulamentações e práticas de segurança de dados necessárias para o uso eficaz da IA.
Uma pesquisa realizada pela BigID, uma plataforma de controle de dados, revelou que metade das organizações considera a segurança dos dados como a principal barreira à adoção de IA. Nesse contexto, Abhi Sharma e Leila Golchehreh, provenientes dos setores de engenharia de aplicativos e jurídico, perceberam a oportunidade de criar uma solução inovadora. A dupla fundou a Relyance AI, uma plataforma voltada para verificar se o uso de dados de uma empresa está alinhado com políticas de governança. Segundo Sharma, a ideia do que viria a ser a Relyance surgiu durante uma conversa descontraída entre amigos, onde eles discutiram a necessidade de maior visibilidade nos processos de dados nas organizações.
Sharma, que ocupou anteriormente o cargo de engenheiro de plataforma na AppDynamics e teve um papel fundamental na fundação da FogHorn, uma plataforma de IA de borda adquirida pela Johnson Controls em 2022, e Golchehreh, uma advogada que atuou como conselheira sênior na Workday e na startup de carros autônomos Cruise, compreendem bem as dificuldades enfrentadas pelas empresas. De acordo com Sharma, as organizações enfrentam três principais obstáculos à adoção da IA: a falta de visibilidade nos dados utilizados na IA, a complexidade na forma como esses dados são gerenciados e o ritmo acelerado da inovação. Esses fatores não apenas criam riscos à reputação, mas também expõem as empresas a ameaças legais em um ambiente regulatório em constante evolução.
A Relyance oferece um motor poderoso que analisa as fontes de dados de uma organização, que podem incluir aplicativos de terceiros, ambientes de nuvem, modelos de IA e repositórios de código, para assegurar que esses sistemas estejam em conformidade com as políticas estabelecidas. A plataforma gera um “inventário de dados” e um “mapa de dados”, conectando essas informações aos acordos dos clientes, regulamentações globais de privacidade e estruturas de conformidade. De acordo com Sharma, esse monitoramento permite que as organizações gerenciem os riscos associados a fornecedores externos de maneira proativa. O recurso de rastreabilidade de dados da Relyance, que traça o fluxo de dados por diferentes aplicativos, é uma ferramenta vital para identificar riscos potenciais antes que eles possam se materializar.
Embora a Relyance não esteja atuando em um conceito totalmente inédito e enfrente concorrência de empresas como OneTrust, Transcend, DataGrail e Securiti AI, que oferecem ferramentas de monitoramento de riscos automatizadas para avaliações rápidas de aplicativos de terceiros, a nova startup parece estar se destacando no mercado. Sharma afirma que a Relyance está a caminho de dobrar sua receita anual recorrente neste ano e que sua base de clientes, que inclui grandes nomes como Coinbase, Snowflake, MyFitnessPal e Plaid, cresceu 30% no primeiro semestre. Recentemente, a empresa fechou uma rodada de investimento Série B, levantando 32 milhões de dólares com a participação de Thomvest, M12 (o fundo de investimento da Microsoft), Cheyenne Ventures, Menlo Ventures e Unusual Ventures, elevando o total arrecadado para 59 milhões de dólares até o momento.
Com esses novos recursos financeiros, a Relyance planeja expandir sua equipe para 90 funcionários até o final do ano, uma estratégia pensada para aproveitar o crescente interesse por IA e o aumento da complexidade das regulamentações globais em torno da privacidade e do uso de IA. A empresa reconhece que, para continuar a sua trajetória de crescimento, é fundamental não apenas aprimorar a capacidade de desenvolvimento de produtos, mas também aumentar sua capacidade de levar suas soluções ao mercado. Sharma enfatiza a necessidade de investir na equipe de engenharia, elemento crucial para o acompanhamento das crescentes demandas por soluções de IA que atendam aos rigorosos padrões de privacidade e segurança que o futuro exige.