A NASA, em um esforço incansável para desvendar os mistérios que cercam a Lua, está prestes a realizar uma nova missão que promete fornecer dados cruciais sobre a interação entre o propulsor de um módulo lunar e a superfície do nosso satélite natural. Após um intervalo de menos de um ano, a missão contará com a tecnologia inovadora de câmeras da NASA, projetadas para capturar imagens detalhadas durante o processo de descida e pouso do módulo lunar Blue Ghost, desenvolvido pela Firefly Aerospace. Com esta nova abordagem, o objetivo é não apenas observar, mas também analisar o impacto que um pouso pode ter na superfície lunar.
Localizado no Centro de Pesquisa Langley, em Hampton, Virgínia, o sistema Stereo Cameras for Lunar Plume-Surface Studies (SCALPSS) é composto por uma série de seis câmeras estrategicamente posicionadas ao redor da base do Blue Ghost. Essas câmeras realizarão captações fotográficas durante e após a descida, utilizando uma técnica avançada conhecida como fotogrametria estereoscópica. Os pesquisadores poderão empregar as imagens sobrepostas do SCALPSS 1.1 para criar uma representação tridimensional da superfície lunar, alimentando assim um banco de dados que, sem dúvida, será valioso para futuras explorações.
Vale ressaltar que a primeira versão do SCALPSS, chamada SCALPSS 1.0, estava instalada na espaçonave Odysseus, da Intuitive Machines, e tentou capturar dados durante sua aterrissagem na superfície lunar em fevereiro deste ano. Porém, devido a contingências imprevistas durante o pouso, a missão não conseguiu obter as imagens esperadas. Apesar disso, os operadores do SCALPSS 1.0 conseguiram validar o funcionamento do equipamento tanto durante a fase de trânsito quanto após a chegada à Lua, o que trouxe confiança suficiente para prosseguir com a missão SCALPSS 1.1.
O novo sistema, que agora conta com duas câmeras adicionais em relação à versão anterior, começará a capturar imagens em altitudes mais elevadas, antes do início da interação do jato com a superfície. Isso permitirá uma comparação mais precisa entre o que foi registrado antes e depois do pouso. No entanto, as imagens não serão apenas uma atração tecnológica; elas desempenharão um papel crucial na meta de garantir que as futuras missões lunares, com um número crescente de módulos e equipamentos pousando nas proximidades, possam prever e mitigar os impactos causados pelo pouso.
Mas qual será a certa alteração na superfície lunar? Como o solo lunar, conhecido como regolito, se comporta durante a descida de um módulo espacial? Até o momento, temos dados limitados sobre as mudanças ocorridas durante esses momentos críticos, e é essa questão que o SCALPSS se propõe a desvendar, consolidando-se como o primeiro instrumento dedicado a medir, em tempo real, os efeitos da interação do jato com a superfície lunar.
Michelle Munk, investigadora principal do SCALPSS e arquiteta-chefe do Escritório de Missões de Tecnologia Espacial da NASA, fez questão de explicar que os dados coletados não são apenas acadêmicos, mas têm implicações diretas para a engenharia das missões futuras. “Quando estamos posicionando equipamentos como módulos e habitats próximos uns dos outros, podemos acabar ‘areando’ o que está próximo, o que apresentará desafios adicionais para proteger esses ativos, aumentando o peso total das missões”, esclareceu Munk. Essa dinâmica é parte de um complexo problema de integração que deve ser cuidadosamente gerenciado.
A missão SCALPSS 1.1 está integrada na campanha Artemis, a abordagem atual da NASA para a exploração lunar, que envolve alianças com parceiros comerciais e internacionais, visando estabelecer uma presença sustentável na Lua. Com a iniciativa chamada Commercial Lunar Payload Services (CLPS), a NASA está enviando mais de 90 quilos de experimentos científicos e demonstrações tecnológicas para a superfície lunar, permitindo que a comunidade científica amealhe dados essenciais que apoiarão esforços de pesquisa futuros.
Após a captura das imagens, elas serão armazenadas em uma unidade de dados embarcada na nave antes de serem enviadas de volta à Terra para processamento. Os especialistas esperam que o trabalho de processamento leve cerca de alguns meses, tempo necessário para validar os dados e gerar mapas de elevação digital tridimensionais da superfície lunar. Embora o nível de erosão causados pelo pouso não deva ser muito profundo, esse estudo é fundamental para o entendimento do comportamento do solo lunar sob diferentes condições de pouso.
Rob Maddock, gerente do projeto SCALPSS, fez uma analogia interessante, lembrando que até mesmo nas antigas imagens da missão Apollo, que utilizavam módulos muito maiores do que os robóticos atuais, era preciso um olhar atento para identificar onde ocorreu a erosão. Enquanto se prepara para a coleta de dados da SCALPSS 1.1, Maddock observa que a profundidade da erosão esperada deve variar entre centímetros e uma polegada, dependendo da localização da aterrissagem e das características do regolito. Com os planos da NASA para avançar em sistemas de pouso humano, estas informações se tornam ainda mais relevantes, pois dispositivos de exploração futuros poderão ser ainda maiores e, portanto, mais impactantes em termos de modificações do terreno lunar.
Finalmente, a missão SCALPSS 1.1 é impulsionada pelo Programa de Desenvolvimento Inovador da Direção de Missões de Tecnologia Espacial da NASA, que tem como objetivo apoiar a carga científica e tecnológica na Lua, através da colaboração com diversas empresas americanas seleccionadas para entregar seus experimentos e inovações de maneira eficaz. Neste contexto, as expectativas são elevadas, e a curiosidade da humanidade sobre a Lua continua a ser alimentada por estas iniciativas audaciosas.