Islamabad, Paquistão
AP
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Na quinta-feira, o Paquistão denunciou as recentes sanções impostas pelos Estados Unidos ao seu programa de mísseis balísticos, classificando-as como “discriminatórias” e ressaltando que essas medidas representam um risco à paz e segurança da região. A declaração, emitida pelo ministério das Relações Exteriores do país, expressou a preocupação de que tais sanções possam ter “implicações perigosas para a estabilidade estratégica de nossa região e além”. Este embate diplomático revive tensões históricas entre as duas nações, que frequentemente se atritam por questões de segurança e armamento.
O ministério também levantou dúvidas sobre as alegações dos Estados Unidos de que as empresas afetadas estariam envolvidas na proliferação de armas, ressaltando que sanções anteriores foram baseadas em meras suposições e sem provas concretas. Ademais, o Paquistão acusou o governo dos Estados Unidos de adotar “padrões duplos” ao isentar de requisitos de licenciamento tecnologias militares avançadas destinadas a outros países, enquanto impõe restrições severas ao seu próprio programa de mísseis.
Essas sanções resultaram em um congelamento de quaisquer propriedades nos Estados Unidos pertencentes às empresas alvos e proíbem americanos de fazer negócios com elas. Com isso, o impacto econômico e diplomático das sanções pode ter repercussões de longo prazo na relação bilateral.
O Departamento de Estado dos EUA informou que uma das entidades sancionadas, o Complexo Nacional de Desenvolvimento, localizado em Islamabad, estaria trabalhando para adquirir itens para desenvolver o programa de mísseis balísticos de longo alcance do Paquistão, que inclui a série de mísseis SHAHEEN. Entre as outras entidades mencionadas nas sanções estão a Akhtar and Sons Private Limited, Affiliates International e Rockside Enterprise, demonstrando a abrangência das medidas tomadas por Washington.
O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, declarou na rede social X que os Estados Unidos “foram claros e consistentes sobre nossas preocupações” em relação à proliferação de tais armas e que continuarão a dialogar de forma construtiva com o Paquistão sobre essas questões. Essa afirmação é um indicativo do desejo dos EUA de manter um canal aberto de comunicação, apesar das tensões existentes.
Não obstante, as sanções foram contestadas pelo partido do ex-primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, que se encontra atualmente preso. Zulfiqar Bukhari, porta-voz de Khan, utilizou a plataforma X para criticar a administração do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmando que a oposição às sanções é forte e que são injustas para o Complexo Nacional de Desenvolvimento e três empresas comerciais. A pressão interna sobre o governo paquistanês aumenta à medida que a situação política no país se torna cada vez mais instável.
Essas sanções mais recentes ocorreram meses depois de medidas semelhantes terem sido impostas sobre outras entidades estrangeiras, incluindo um instituto de pesquisa chinês, após o Departamento de Estado dos EUA acusá-las de colaborar com o Complexo Nacional de Desenvolvimento, que segundo os EUA está envolvido no desenvolvimento e produção de mísseis balísticos de longo alcance do Paquistão. Este contexto revela um cenário geopolítico complexo onde os interesses estratégicos se sobrepõem a considerações diplomáticas.
Analistas afirmam que o programa nuclear e de mísseis do Paquistão é principalmente orientado para contrabalançar as ameaças do vizinho Índia. O especialista em segurança, Syed Muhammad Ali, descreveu as sanções como “de visão curta, desestabilizadoras e desconectadas das realidades estratégicas regionais da Ásia do Sul”, evidenciando a necessidade de um entendimento mais profundo das relações de poder na região para evitar escaladas de tensão.
O Paquistão se tornou uma potência nuclear declarada em 1998, quando realizou testes nucleares subterrâneos em resposta aos testes realizados por seu rival histórico, a Índia. Desde então, as duas nações têm testado regularmente seus mísseis de curto, médio e longo alcance, exacerbando ainda mais a corrida armamentista na região.
As duas potências, Índia e Paquistão, já travaram duas das suas três guerras sobre a disputa da Caxemira desde que ganharam a independência do Reino Unido em 1947. A região montanhosa, considerada estratégica, está dividida entre ambos, sendo reivindicada na totalidade por ambos, o que contribui para o aumento das tensões geopolíticas entre eles.