Em um quadro preocupante para a empresa de mobilidade urbana Fluid Truck, menos de dois meses após a demissão de seus cofundadores, a companhia anunciou uma série de medidas drásticas que incluem a demissão de 30% de seu quadro de funcionários, o pedido de proteção contra falência sob o Capítulo 11, e a identificação de um comprador em potencial para o negócio, pendente da aprovação do tribunal. Essas ações foram confirmadas por documentos judiciais e informações provenientes de um ex-funcionário da empresa. Para viabilizar a continuidade de suas operações e o processo de reestruturação e venda até o final do ano, a Fluid Truck recebeu a aprovação temporária para um empréstimo de $7 milhões, uma tentativa de estabilizar sua situação financeira em meio a uma crescente crise.

A declaração de falência foi protocolada em um tribunal de Delaware e é resultado de um cenário financeiro insustentável que se agravou após a acumulação de perdas e o surgimento de múltiplas ações judiciais contra a empresa. Uma dessas ações é uma class action introduzida no dia 10 de outubro no Colorado, na qual a Fluid Truck é acusada de não honrar pagamentos devidos a membros de seu programa Fluid Vehicle Investor Program (FVIP). Este programa, que permitia a indivíduos e pequenas empresas adquirir frotas de vans e caminhões para aluguel sob a gestão da Fluid, agora enfrenta um total estimado de 5.500 credores que aguardam pagamentos. O montante total devido àqueles que participaram do programa FVIP é de $12 milhões, enquanto as dívidas com fornecedores somam $26 milhões. Além disso, a Fluid Truck informou ter registrado um prejuízo em caixa de $20,6 milhões somente em 2023.

A Fluid Truck foi fundada em 2016 por James Eberhard e Jenifer Snyder, e ao longo de sua história, a startup conseguiu arrecadar mais de $80 milhões em investimentos de risco, expandindo suas operações para 400 cidades em 32 estados dos Estados Unidos. Contudo, as dificuldades financeiras começaram a se intensificar sob a liderança de Eberhard, que enfrentou um complexo conjunto de fatores macroeconômicos e reclamações de seguros mal geridas. As tensões aumentaram no ambiente corporativo, levando à fricção entre Eberhard e dois acionistas minoritários do conselho – Bison Capital e Ingka Investments. Incapaz de levantar mais capital para mitigar as perdas da empresa, o conselho decidiu pela destituição de Eberhard e Snyder em julho deste ano.

A partir de agosto, Scott Avila, escolhido para substituir Eberhard e representante da Paladin Management, começou a investigar opções de liquidação. Entretanto, a Fluid Truck recebeu uma grande quantia do pagamento de um cliente que, por um breve momento, revigorou a esperança de uma possível venda da empresa. Neste cenário, Kingbee Rentals, uma empresa de aluguel de vans localizada em West Valley City, Utah, apresentou-se como uma opção de comprador. Porém, Kingbee se deparou com o obstáculo de não ter capacidade financeira para adquirir todos os ativos da Fluid Truck de maneira independente, enquanto a própria Fluid Truck lutava para manter suas operações em funcionamento.

No processo de falência, a Fluid Truck solicitou ao tribunal a aprovação de um financiamento emergencial na forma de um empréstimo de $7 milhões, conhecido como debtor-in-possession (DIP), oriundo de Kingbee e de investidores já existentes. Em um despacho feito na última sexta-feira, o tribunal aprovou a solicitação em caráter provisório. De acordo com Adam Stein-Sapir, especialista em falências da Pioneer Funding Group, a estrutura do empréstimo inclui uma condição rigorosa: “Os credores do DIP basicamente disseram: ‘Vamos emprestar esse dinheiro a vocês, mas se a venda não for finalizada até 31 de dezembro, vocês estão inadimplentes, e podemos liquidar os negócios'”. Isso confere aos credores um poder significativo para reagir caso a Fluid Truck não cumpra o prazo estabelecido.

Ainda não está claro qual o montante que a Fluid Truck poderá arrecadar com a venda de seus ativos, mas estima-se que isso possa girar em torno do valor do empréstimo, em torno de $7 milhões. Essa situação é preocupante para credores não garantidos, como os membros do FVIP, que poderão estar entre os últimos a receber quaisquer pagamentos. Stein-Sapir alertou que, “Para as pessoas que estão aqui como credores não garantidos, a perspectiva de recuperação é bastante sombria”. Caso não tenham registrado alguma garantia ou lien sobre os fundos, esses credores enfrentarão dificuldades adicionais em recuperar suas perdas financeiras. A Fluid Truck, por sua vez, não comentou prontamente sobre as solicitações de esclarecimento sobre a situação.

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