Empresas encontram alternativas diante das queixas dos consumidores sobre redução de tamanhos e qualidade
Nos últimos anos, as empresas de alimentos têm sido frequentemente acusadas de praticar estratégias enganosas, conhecidas como shrinkflation e skimpflation. Essas táticas se tornaram evidentes quando os consumidores notaram alterações no tamanho das porções ou uma mudança no sabor de produtos que costumavam adorar. Essa sensação de engano não é à toa: devido ao aumento substancial nas despesas, as empresas optaram por estratégias que envolvem a redução do volume ou da qualidade dos produtos sem alteração significativa nos preços. Isso levanta uma discussão importante sobre a ética das práticas comerciais das empresas alimentícias e a percepção dos consumidores em relação a essas mudanças.
Shrinkflation, como é conhecida, ocorre quando um produto é reduzido em tamanho ou volume, enquanto seu preço permanece inalterado ou, em alguns casos, até aumenta. Por outro lado, o skimpflation se refere a alterações mais sutis, como a substituição de ingredientes por opções mais baratas para reduzir custos. Essas práticas, que podem parecer apenas uma adaptação empresarial, têm gerado uma forte reação nas redes sociais, onde consumidores expressam sua indignação e sensação de serem enganados. Além disso, quando as empresas repassam diretamente os aumentos de preço ao consumidor, as reclamações não tardam a surgir, como evidenciado pelo mau momento enfrentado por algumas gigantes do fast food como o McDonald’s.
As grandes marcas alimentícias, que até recentemente se mostravam indiferentes às queixas dos consumidores, começaram a sentir os efeitos da insatisfação generalizada. A resposta habitual a essa frustração era um silêncio eloquente ou declarações cuidadosamente elaboradas, que, na maioria das vezes, minimizavam as preocupações dos clientes. Entretanto, com a queda nas receitas de empresas como McDonald’s, Wendy’s e Burger King, várias delas se viram forçadas a adotar medidas, como a introdução de cardápios com preços acessíveis e promoções, além de prometerem ser mais cautelosas ao aumentarem os preços.
Ainda assim, a insatisfação em relação às práticas de shrinkflation e skimpflation parecia ser ignorada por essas empresas, mas essa postura parece estar mudando. Um exemplo notável ocorreu quando os fãs do famoso Bolo de Chantilly de Frutas Vermelhas da Whole Foods desabafaram nas redes sociais sobre as alterações nos ingredientes. Em uma resposta surpreendentemente rápida, a rede de supermercados, que pertence à Amazon, anunciou que retornaria à receita original do bolo.
Outro grande exemplo de reavaliação da estratégia empresarial pode ser observado na PepsiCo, proprietária das marcas de salgadinhos Lay’s, Doritos, Tostitos e Ruffles. Em recente declaração, a empresa anunciou que aumentará a quantidade de salgadinhos em algumas embalagens que anteriormente estavam diminuídas. Segundo um porta-voz da PepsiCo, os pacotes “bônus” de Tostitos e Ruffles terão 20% a mais de chips pelo mesmo preço das embalagens padrão em locais selecionados. Além disso, será adicionado dois pacotes menores de salgadinhos ao seu pacote de variedade de 18 unidades, indicando uma intenção clara de resposta às queixas dos consumidores.
A decisão da PepsiCo, à primeira vista, parece estranha, uma vez que os usuários vêm reclamando sobre shrinkflation há anos. No entanto, se os consumidores continuarem a comprar os produtos, mesmo insatisfeitos, as empresas não sentirão necessidade de revisar essas estratégias. O que impulsionou a PepsiCo a mudar seu curso, conforme relatado no último relatório de ganhos da empresa, foi a queda nas vendas e no volume dos salgadinhos no último trimestre.
Um questionamento pertinente que surge é: como a empresa conseguirá manter os preços inalterados ao adicionar mais chips? Segundo Chris Hydock, professor de marketing da Universidade Tulane, é plausível que as margens de lucro nos salgadinhos sejam suficientes para que a inclusão de alguns chips extras seja um custo relativamente baixo. Essa hipótese se fortalece, especialmente, considerando que muitos dos próprios custos de insumos da empresa diminuíram após os picos ocasionados pela pandemia. Dessa maneira, essa atitude pode ser vista como uma tentativa de oferecer mais valor ao cliente.
Embora a PepsiCo poderia ter optado pela redução de preços, o que poderia desencadear uma expectativa de descontos constantes entre os consumidores, essa estratégia pode levar a uma situação de desgaste para a marca, onde os consumidores exigiriam cada vez mais promoções e ofertas. Este movimento da PepsiCo pode encorajar outros fabricantes de salgadinhos a adotarem táticas semelhantes, sinalizando um possível fim para a era de shrinkflation, especialmente no setor alimentício. Contudo, não se pode esperar que as práticas enganosas cessem completamente. As empresas de alimentos, conforme observou Hydock, provavelmente mudarão suas estratégias e buscarão novas maneiras de influenciar os consumidores de forma que ainda não são percebidas.