O que ocorre quando um engenheiro químico, que anteriormente construiu um drone movido a hidrogênio, decide se tornar um investidor de risco? A resposta é a Energy Revolution Ventures (ERV). Recentemente, este fundo de capital de risco anunciou o fechamento de um fundo de 18 milhões de dólares, com o objetivo de investir em tecnologias profundas (deeptech), incluindo armazenamento de energia, captura de carbono e, obviamente, tecnologias relacionadas ao hidrogênio.
Marcus Clover, cofundador e parceiro da ERV, compartilhou sua trajetória durante uma entrevista ao TechCrunch. Ele começou seus estudos em Cambridge, inicialmente com a intenção de seguir carreira na indústria de petróleo e gás, mas acabou se tornando o primeiro funcionário de uma startup de aeroespacial. Nessa nova função, ele participou do desenvolvimento de um drone movido a hidrogênio para aplicações em telecomunicações. “Após cinco anos nessa área, me juntei a outra empresa focada em células de combustível de hidrogênio para veículos pesados e percebi, como engenheiro, o quanto a inovação estava se consolidando no setor de energia. Com isso, percebi que precisava entrar neste mercado pelo lado do investimento. Foi quando me associei a dois parceiros”, afirmou Clover.
O fundo de 2023 agrega investidores qualificados provenientes de escritórios familiares envolvidos nos setores de metais e energia, além de indivíduos de alta renda e da Bidra Innovation Ventures, a divisão de capital de risco da OCP Group, de Marrocos. Até o momento, a ERV já contabiliza um portfólio diversificado com nove empresas, entre elas a Green Li-ion, que se dedica ao reciclo de baterias de íon de lítio, a Anthro, que inova com baterias estruturais seguras, e a Oort Energy, especializada em soluções de hidrogênio renovável a baixo custo.
Além de seu fundo, a ERV opera uma incubadora de startups chamada Prosemino, com a visão de que o fundo não só deve investir em startups independentes, mas também criar novas iniciativas, utilizando o conhecimento técnico de sua equipe interna. A ERV conta com uma rede de consultores vinculados a instituições renomadas, como a Universidade de Oxford e o University College London, e tem estabelecido laboratórios especializados para apoiar suas startups. Segundo Clover, “dispomos de 4.000 pés quadrados de espaço para química úmida e laboratórios secos aqui em Londres. Acreditamos que seja o único laboratório desse tipo fora da Europa, desvinculado de alguma universidade.”
A estratégia da ERV é fundamentada na crença de que uma nova onda de inovações químicas está prestes a transformar a área de energia. Clover recordou que, quando trabalhava com hidrogênio entre 2015 e 2016, antes do recente boom da tecnologia, as inovações mais avançadas aconteciam no setor aeroespacial, onde tentavam adaptar essas tecnologias para aviação. “Esse trabalho me ensinou muito sobre como reimaginar sistemas a partir dos princípios básicos e como operar com orçamentos reduzidos em pequenas equipes. Essa vivência me permite me identificar com muitas das empresas nas quais agora investimos”, comentou Clover.
Ele também ressaltou que a tese da empresa vai além da descarbonização, abraçando a eletrificação. “Estamos literalmente reestruturando a economia, e precisamos de uma quantidade enorme de tecnologia para atingir esse objetivo. Vimos como o software ajudou a tornar o lançamento de foguetes mais acessível e eficiente. Acredito que o mesmo estará prestes a acontecer com a energia, e isso é realmente empolgante”, concluiu Clover.
O TechCrunch já cobriu duas das empresas investidas no portfólio da ERV. A Anthro Energy teve seu financiamento de 7,2 milhões de dólares parcialmente liderado pela ERV. Além disso, a Divigas também integra o portfólio da empresa. Clover destacou que, embora alguns investidores estejam focados exclusivamente na descarbonização, o crescimento proporcionado pela eletrificação é ainda mais excitante sob a perspectiva de mercado.
Atualmente, o Fundo 1 da ERV já concretizou nove investimentos, incluindo:
Blixt – Desenvolvedores de eletrônicos de potência com suporte de software. O startup foi selecionado para participar do programa DIANA (Defence Innovation Accelerator for the North Atlantic) da OTAN.
Ecolectro – Inovadores que criam novos polímeros para a próxima geração de eletrólitos na indústria de hidrogênio.
Immaterial – Criadores de estruturas metálicas orgânicas baratas e duráveis (MOFs), desenvolvidas para captura de carbono, separação e purificação de gases.
À medida que novas tecnologias e inovações surgem, a relação entre engenharia química, investimentos e crescimento sustentável se consolidam como um pilar essencial para um futuro energético mais inteligente e eficiente.