No último final de semana, enquanto a maioria dos alunos se recuperava de uma longa noite nas festas, Songyee Yoon, uma estudante da renomada KAIST, estava em ritmo acelerado pelo campus sul-coreano. Por volta da hora do jantar, ela se dirigia ao supercomputador da universidade para realizar seus experimentos. Enquanto aguardava os resultados de suas programações, Yoon enfrentava noites em claro, movida pela curiosidade. “Acordava por volta de 2 ou 3 da manhã para descer ao campus, pois estava ansiosa para ver o resultado”, compartilhou. Tal dedicação fez de Yoon uma figura singular em seu ambiente acadêmico, a ponto de inspirar a criação de uma personagem em uma série de TV sul-coreana.
O conceito inicial da série não era retratar figuras reais, conforme Yoon esclareceu. Entretanto, a escritora, ao conversar com os estudantes, frequentemente ouvia sobre a “menina estranha” que era Yoon. Assim, surgia a personagem “Genius Girl” na série “KAIST”. Hoje, se um roteirista decidisse contar a história da vida de Yoon, o enredo lembraria mais a famosa série da HBO, “Silicon Valley”. Após obter seu doutorado no MIT, Yoon ascendeu a uma das posições de liderança no setor de tecnologia, tornando-se presidente da desenvolvedora de jogos sul-coreana NCSoft. E agora, ela anuncia o lançamento da Principle Venture Partners (PVP), um fundo de investimento de US$ 100 milhões destinado a apoiar startups de inteligência artificial.
O PVP tem um diferencial notável no mercado, pois conta com uma equipe de sócios composta por renomados acadêmicos, como Daniela Rus, reconhecida pesquisadora que Yoon conheceu através de seu trabalho no conselho do MIT; Dawn Song, uma Fellow MacArthur amplamente publicada na área de segurança cibernética; e Jeremy Nixon, fundador da AGI House, um espaço de inovação em IA que atrai jovens fundadores com talento excepcional. Esse alinhamento de mentes brilhantes e especializadas em IA é uma vantagem para o fundo, especialmente na hora de conquistar novos investimentos.
Yoon acredita que a diversidade de conhecimentos e experiências de seus parceiros proporciona uma compreensão profunda da evolução da inteligência artificial, o que, segundo ela, é essencial no atual cenário tecnológico. “Os fundadores gostariam de ter uma gama diversificada de conselheiros que possam trazer diferentes perspectivas”, argumentou. A equipe aposta que a próxima geração de “unicórnios” será composta por empresas nativas de IA, aquelas que foram concebidas desde o início com a inteligência artificial em mente, deixando de lado a ideia de aplicações adicionadas posteriormente.
Em relação às suas estratégias de investimento, Yoon afirmou que o fundo atuará em diversos setores, demonstrando especial entusiasmo pelo potencial transformador da IA na indústria de seguros. Sejam ações que ajudem as pessoas a compreenderem melhor suas coberturas ou seguradoras que especializem em underwriting de robôs autônomos. Contudo, a visão de Yoon não se restringe apenas às oportunidades; ela também se preocupa com a possibilidade de que a inteligência artificial contribua para exacerbar o que chamou de “colonialismo cultural”. Este assunto, segundo Yoon, já havia sido objeto de suas reflexões no ano passado.
“Se você pensar bem, 35% da população mundial não tem acesso à internet de banda larga”, observou Yoon. “E elas não podem ser autoras dos dados utilizados para treinar essa inteligência artificial. Portanto, é inevitável que essas culturas e pontos de vista não sejam refletidos.” A complexidade dessa questão, segundo Yoon, exige um diálogo constante e uma representação mais ampla dentro da indústria, um princípio que está presente na própria composição do fundo, que tem três sócias mulheres. “Nós não dizemos que é um fundo feminino, mas acredito que muitas fundadoras se voltam a nós porque sabem que teremos mais empatia. Elas percebem a força real e o superpoder que possuem”, comentou.
A trajetória de Songyee Yoon é um exemplo claro de como a determinação e a visão podem se entrelaçar para criar um impacto significativo no mundo das tecnologias emergentes. À medida que avança em sua carreira, agora com um fundo de investimento robusto em mãos, Yoon se posiciona como uma líder que não apenas investe, mas também aborda questões sociais relevantes. Ao integrar essas duas vertentes, ela pode muito bem se tornar uma das figuras mais influentes na forma como a inteligência artificial será desenvolvida e aplicada nos próximos anos.