Quatro funcionários processaram a Rivian em ações judiciais separadas no decorrer deste ano, alegando assédio por parte de executivos, incluindo o líder de design da empresa, Jeff Hammoud, e que a liderança da companhia pouco fez para abordar suas preocupações, segundo uma revisão de registros judiciais realizada pela TechCrunch. Além disso, a Rivian chegou a acordos em outros três casos envolvendo assédio e discriminação, indicando que a empresa ainda lida com a questão de sua cultura interna, que foi intensamente discutida quando a empresa se tornou pública há três anos.

As acusações presentes nessas ações, até então não divulgadas, somam-se a um histórico preocupante que se estende além dos processos recentes. É bem conhecido que processos judiciais não são incomuns na indústria automotiva, especialmente entre grandes empresas que operam fábricas e diversas instalações. Contudo, as alegações contidas nesses novos processos contra a Rivian sugerem que a companhia ainda está em um processo de reavaliação de seus valores e comportamentos internos, o que traz à tona uma necessidade urgente de reforma.

Os dois primeiros processos, protocolados no Tribunal Superior do Condado de Orange, na Califórnia, são diretamente relacionados a Jeff Hammoud, que está na Rivian desde 2017. A ex-diretora da equipe de cores, materiais e acabamentos, Elizabeth Curran, processou a empresa em fevereiro de 2024, alegando que Hammoud era “propenso a explosões de raiva irracionais”, frequentemente direcionadas a mulheres em posições de liderança. Em um incidente relatado, Hammoud teria confrontado Curran em uma reunião, demonstrando comportamento agressivo e dando-lhe uma bronca que a fez chorar.

Em outro caso, trazido à luz pelo escultor Nathan Facciolla em outubro de 2024, alegou-se que Hammoud criou um ambiente de trabalho hostil e proferiu comentários desrespeitosos sobre a esposa de Facciolla, que trabalha no atendimento médico noturno. Ambos os funcionários relataram as ocorrências ao departamento de recursos humanos (RH), mas alegaram que não houve qualquer tipo de disciplina imposta a Hammoud.

Um terceiro caso, movido por Jeremiah Powe, um operário da linha de produção, emergiu no mês passado em um tribunal federal. Ele alega que o ex-diretor de operações, Frank Klein, o agrediu fisicamente, puxando-o para o chão quando Powe violou o código de vestimenta da empresa. Powe confirmou ter relatado o incidente à polícia, expressando suas suspeitas de que a investigação interna da Rivian não foi conduzida de maneira adequada.

Em uma nova reviravolta, a Rivian foi também processada por Nicole Hawkins, uma funcionária da fábrica localizada em Normal, Illinois. Em fevereiro de 2024, Hawkins entrou com um processo alegando que havia sido fisicamente assediada e ameaçada por um colega de trabalho e que sua reclamação ao departamento de RH resultou em nenhuma ação. Curiosamente, a documentação atual sugere que o caso pode estar se aproximando de um acordo, uma vez que o advogado de Hawkins solicitou uma dispensação.

Em resposta às alegações, Marina Hoffmann, vice-presidente de comunicações globais da Rivian, emitiu uma declaração por e-mail enfatizando que a empresa está “comprometida em proporcionar um ambiente de trabalho excepcional, livre de assédio, discriminação e retaliação.” Apesar de incidentes aparentemente recorrentes, segundo Hoffmann, a Rivian investiga a fundo quando se torna ciente de condutas que possam violar políticas corporativas ou leis, adotando as ações apropriadas necessárias.

Esses processos surgem em um momento delicado para a Rivian, que se viu sob escrutínio nos últimos anos. Laura Schwab, a ex-chefe de vendas e marketing, processou a empresa em 2021, denunciando discriminação sexual e demissão sem justa causa. Schwab alegou que o fundador e CEO da Rivian, R.J. Scaringe, havia cercado-se de um clube de homens que alimentava uma “cultura tóxica”, resultando na marginalização das mulheres dentro da empresa. Embora sua ação inicial tenha atraído bastante atenção, incluindo um post de blog sobre o assunto, Schwab eventualmente chegou a um acordo com a Rivian após seis meses, levando à sua desistência do processo.

Oscar Ramirez, advogado de Curran e Facciolla, expressou que as novas ações indicam uma continuidade nas práticas problemáticas dentro da empresa. Em suas próprias palavras, “Parece haver um padrão geral de gerentes de alto escalão se envolvendo em comportamentos completamente insanos e visando funcionários em atividades protegidas ou em razão de suas características.” Essa afirmação enfoca uma necessidade crítica de a empresa reavaliar seu código de conduta e a maneira como ela age frente a denúncias de assédio.

Com denúncias adicionais de assédio sexual e discriminação dentro da empresa, somando-se a casos resolvidos recentemente, como a ação de Angela Betancourt, que alega não ter seu assédio abordado adequadamente pelo departamento de RH, fica claro que a Rivian precisa urgentemente abordar suas políticas internas. Mesmo após várias tentativas de mediar os casos para a arbitragem, a empresa acabou por chegar a um acordo com Betancourt, o que levantou questionamentos sobre a eficácia de suas iniciativas para estabelecer um ambiente digno para seus colaboradores.

No geral, estes relatos geram uma reflexão sobre como as empresas, especialmente no setor automotivo, precisam não só aspirar a reivindicações de inovação e crescimento financeiro, mas também à criação de ambientes de trabalho justos e equitativos. À medida que a Rivian avança em suas operações, será imprescindível que a empresa não apenas reconheça as questões apresentadas por seus colaboradores, mas que implemente mudanças significativas para assegurar que cada empregado se sinta seguro e respeitado em seu ambiente de trabalho.

Contudo, enquanto a Rivian avança para um futuro de mobilidade elétrica e inovação, as lições aprendidas a partir desses casos deverão servir como um lembrete da importância inegável de preservar uma cultura de respeito e ética nas relações profissionais.

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