Em meio a um dos desastres naturais mais devastadores da região, o presidente francês Emmanuel Macron se viu no olho do furacão ao visitar Mayotte, um território ultramarino da França, após a passagem do ciclone Chido. Durante sua visita, Macron declarou aos locais que, se não fossem franceses, a situação deles seria “10 mil vezes pior”, o que provocou gritos de descontentamento e críticas acentuadas sobre suas declarações insensíveis. O potencial para o agravamento da situação social e estrutural em Mayotte, um local que já enfrenta dificuldades, foi intensificado pela tempestade que atingiu a ilha com ventos que ultrapassaram 220 km/h.
A invasão de Chido, classificada como uma tempestade de categoria 4, resultou em destruição comparável a uma bomba atômica. Não apenas as infraestruturas foram severamente afetadas, mas também os serviços básicos, como água e eletricidade, foram interrompidos, deixando os residentes em uma situação alarmante de vulnerabilidade. A destruição foi tão extensa que muitas áreas da ilha, que já lidavam com desafios econômicos e sociais antes, agora estão literalmente em ruínas. Marcados por um sentimento de abandono, os moradores demonstraram sua frustração diante de Macron, que tinha a intenção de ouvir e dialogar, mas rapidamente se viu em um cenário de hostilidade.
Os opositores de Macron não perderam tempo em criticar a administração dele, alegando que o governo francês falhou em preparar e proteger o arquipélago contra desastres naturais, especialmente dada a crescente influência das mudanças climáticas. Eles argumentam que Mayotte, que há muito luta com questões de imigração ilegal e infraestrutura deficiente, não recebeu o suporte necessário para se fortificar contra eventos climáticos extremos. Registros divulgados indicam que 77% da população local vive abaixo da linha de pobreza, o que acarreta grandes desafios na mobilização de recursos e ajuda rápida em momentos de crise.
A tempestade, que também afetou parte da costa norte de Madagascar antes de se intensificar, chegou a ser descrita pela Météo-France como a pior que atingiu a região nos últimos 90 anos. E se a catástrofe por si só já era motivo de preocupação, as respostas, ou a falta dela, por parte do governo francês levantaram ainda mais críticas. As imagens das escolas, hospitais e da torre de controle do aeroporto danificadas vieram acompanhadas de uma onda de indignação popular, que exigia que alguém se responsabilizasse pela calamidade.
Ouvir as vozes de quem enfrenta a crise foi um desafio político para Macron, que viu sua disposição para o diálogo se transformar em um momento tenso. Residentes questionaram: “Após seis dias, é normal que não tenhamos água ou serviços básicos?”, trazendo à tona a frustração acumulada por anos de descaso e falta de infraestrutura adequada. Uma mulher, em desespero, cravou que “tudo foi demolido”. O apelo por ajuda se tornou um refrão em um contexto de apelo coletivo por socorro.
Enquanto isso, o governo francês está em processo de relatar os danos e mobilizar a assistência necessária. Um serviço de ar bridge entre Mayotte e a ilha da Reunião, também sob controle francês, foi estabelecido para facilitar a entrada de suprimentos essenciais. Mesmo com as operações em andamento, muitos já lamentaram perdas, dado que o último relatório detalhou 31 mortes confirmadas e 1.373 feridos, sendo que o número total de vítimas pode aumentar à medida que um levantamento mais detalhado é realizado. As autoridades locais se concentram na segurança dos sobreviventes, cientes de que a recuperação a longo prazo exigirá mais do que ajuda temporária e uma resposta emergencial aos danos.
Frente a essa situação desoladora, proclamou Macron, que haverá uma observância nacional de luto e mais apoio governamental, indicando que o governo francês reconhece a gravidade do ocorrido e está disposto a agir, mesmo que com atraso. O desafio para o governo francês agora é garantir que Mayotte não apenas receba ajuda, mas que os cidadãos sintam que essa ajuda é dura, eficiente e direcionada às suas necessidades reais. Novos olhares devem ser lançados sobre a situação em Mayotte, que continua a ser a parte mais pobre da União Europeia e enfrenta um profundo ciclo de pobreza e incertezas.
Notavelmente, o cenário em Mayotte reflete questões maiores que afetam muitos territórios ultramarinos: a intersecção entre pobreza, imigração e vulnerabilidade a desastres naturais. O desafio é construir uma resposta que se extenda além da emergência, criando um resiliência real em um território que precisa de muito mais do que simples promessas. Com o olhar sobre a França, a responsabilidade agora parece recair sobre Macron e seu governo à medida que o futuro de Mayotte aguarda uma resposta efetiva e respeitosa às suas necessidades urgentes.
Além disso, a situação em Mayotte é um microcosmo do impacto que as mudanças climáticas têm sobre as comunidades mais frágeis do mundo, evidenciando a necessidade de um diálogo mais profundo sobre políticas de mitigação e adaptação. O que a tempestade Chido nos ensina, além do lamento, é a urgência de se estruturar uma abordagem que não apenas atenda as crises, mas que realmente respeite a dignidade e as necessidades das populações afetadas.