No clima festivo de Natal, o Papa Francisco dirigiu uma mensagem contundente aos funcionários da Cúria Vaticana, instando-os a abandonar a prática de fofocas e críticas destrutivas entre si. Durante a sua tradicional saudação de Natal, realizada no último sábado, o pontífice, agora com 88 anos, apresentou não apenas uma chamada à unidade, mas também uma reflexão profunda sobre os desafios éticos que permeiam o ambiente de trabalho no Vaticano.
Com uma voz evidentemente debilitada, mas cheia de fervor, o Papa enfatizou a importância da **harmonia e da fraternal convivência** entre os membros da Igreja, propondo que todos realizem uma introspecção sobre suas próprias ações. “Uma comunidade eclesial vive em alegre e fraternal harmonia na medida em que seus membros caminham na vida da humildade, renunciando ao pensamento maligno e a falar mal dos outros”, afirmou o Papa. Ele admoestou seus colaboradores de maneira direta, afirmando que o **”gossip é um mal que destrói a vida social, adoece os corações das pessoas e não leva a lugar algum.”** Para ele, a sabedoria popular que diz que “gossip é zero” é extremamente pertinente e deve ser levada a sério. “Cuidado com isso”, acrescentou com um tom de advertência.
Esta mensagem não é apenas mais uma de suas típicas exortações, mas um reconhecimento de que o ambiente dentro da **Cúria Vaticana** pode ser, às vezes, tóxico, onde as expressões de descontentamento são frequentemente sussurradas nos corredores, mas raramente confrontadas diretamente. As interpelações do Papa, ao longo dos anos, frequentemente ressaltam a necessidade de uma atmosfera de trabalho saudável e colaborativa. Em ocasiões anteriores, ele já abordou o que chama de **”15 doenças da Cúria,”** nas quais critica a busca desenfreada por poder e riqueza entre os eclesiásticos.
Em um contexto mais amplo, este chamado à reflexão e à mudança de comportamento também se alinha a uma preocupação que o Papa tem demonstrado frequentemente: a de que o **diabo** se infiltra nas instituições, promovendo divisões e más atitudes. Em edições passadas de seus discursos, ele não hesitou em afirmar que o demônio que reside entre eles é elegante e se aproveita de seus modos rígidos e moralistas de viver a fé católica. Este ano, o Papa retornou à temática da **fofoca** e do comportamento negativo que se propaga nas relações cotidianas dentro do Vaticano.
Ainda que Francisco tenha expressado suas críticas, ele também se mostrou sensível ao sofrimento e à devastação causada por problemas globais, como a guerra em Gaza, mencionando em sua fala que **”ontem, crianças foram bombardeadas. Isso é crueldade, isso não é guerra.”** Tal observaçãotransmite a tristeza e a urgência de um apelo à paz, especialmente em um período festivo que deveria ser celebrado com alegria e unidade.
Esta saudação de Natal é apenas o início de uma agenda intensa de festividades que o Papa terá ao longo da temporada, especialmente com o início do **Ano Santo** que ocorrerá na véspera de Natal. Espera-se que o jubileu traga cerca de 32 milhões de peregrinos a Roma ao longo de 2025, o que tornará a programação do Papa ainda mais complexa e exigente.
Após seu discurso para os prelados da Cúria, o Papa Francisco também fez um pronunciamento menos crítico para os funcionários leigos do Vaticano, que se reuniram no salão principal do estado da cidade junto com suas famílias. Ele agradeceu a esses colaboradores por seus serviços e os encorajou a aproveitarem momentos de lazer com suas crianças e visitar os avós. “Se você tem algum problema específico, fale com seus chefes. Nós queremos resolvê-los”, acrescentou ao final. “Você faz isso através do diálogo, não se calando. Juntos, tentaremos resolver as dificuldades.”
Essa afirmação foi uma referência clara ao mal-estar crescente que tem sido relatado entre a força de trabalho do Vaticano, como evidenciado pela **Associação dos Funcionários Leigos do Vaticano**, a qual emerge como a única representação de trabalhadores na Santa Sé. Nas últimas semanas, a associação expressou preocupações sobre a saúde do sistema de aposentadorias do Vaticano e os temores de cortes orçamentários ainda mais profundos, pedindo que a liderança da instituição ouvisse as preocupações dos funcionários.
Em um caso mais crítico, em 2023, 49 funcionários dos Museus Vaticanos, que representam a principal fonte de receita da Santa Sé, ajuizaram uma ação coletiva no tribunal do Vaticano, reclamando sobre problemas laborais, horas extras e condições de trabalho. Diferente da Itália, onde as leis trabalhistas são sólidas e oferecem proteção aos direitos dos trabalhadores, os funcionários do Vaticano frequentemente se encontram em uma posição vulnerável, enfrentando menos recursos legais quando surgem problemas. No entanto, trabalhar no Vaticano é considerado altamente desejável por muitos católicos italianos, devido ao sentido de serviço à Igreja, além de benefícios isentos de impostos e acesso a habitação a preços abaixo do mercado.
Portanto, a mensagem de Natal do Papa não se limita a exortar seus colaboradores a evitarem fofocas, mas se expande para um chamado à **solidariedade, diálogo e respeito**, características essenciais que deverão prevalecer tanto dentro quanto fora das portas da Santa Sé, especialmente em tempos tão tumultuosos e desafiadores.