Em um dia marcado por eventos trágicos da história, especificamente no dia 30 de abril de 1945, Kate Winslet trouxe à tona a intrigante história de Lee Miller, uma talentosa fotojornalista que, na mesma data em que Adolf Hitler cometeu suicídio em seu bunker em Berlim, capturou uma imagem de si mesma nu em uma banheira no apartamento abandonado do Führer em Munique. Este momento é apenas um dos muitos que compõem a narrativa da biografia cinematográfica “Lee”, dirigida por Ellen Kuras e estrelada por Winslet, que se debruça sobre a vida corajosa e muitas vezes desafiadora da icônica fotojornalista.
A história de Winslet em relação a esta produção começa de forma inusitada. O interesse pela vida de Miller surgiu após a atriz adquirir uma mesa que pertenceu à irmã de Roland Penrose, o marido artista de Lee. À medida que Winslet foi se aprofundando na história de vida da fotojornalista, sua paixão por contar essa narrativa se intensificou, vindo a se tornar um projeto de vida, com o apoio de Antony Penrose, filho de Lee.
A jornada para trazer “Lee” à vida não foi fácil. A produção durou mais de oito anos, um período repleto de desafios. Pelas dificuldades financeiras enfrentadas, Winslet chegou a cobrir do próprio bolso os custos de duas semanas de trabalho para todo o elenco e a equipe, demonstrando não apenas comprometimento, mas também sua crença no poder da narrativa que estava sendo desenvolvida. O longa não só captura a essência de Miller, mas também reflete o ambiente do cinema independente que pode ser tão desafiador e exigente.
Além de interpretar Lee, Winslet desempenhou um papel-chave na seleção do elenco. Ela fez diversas ligações para amigos atores, como Andy Samberg, Alexander Skarsgård e Marion Cotillard, afim de formar um time que pudesse dar vida a essa emocionante história. O time criativo, que incluiu profissionais renomados, como o diretor de fotografia Pawel Edelman, conhecido por seu trabalho em “O Pianista”, e a figurinista Michael O’Connor, responsável por “Jane Eyre”, se dedicou meticulosamente a restaurar a autenticidade da narrativa, até mesmo na reconstrução precisa das roupas que Miller usou.
Lee Miller nasceu em Nova Iorque em 1907 e, após uma carreira como modelo para revistas icônicas como Vogue e Vanity Fair, decidiu se lançar na fotografia em Paris sob a tutoria de Man Ray. Com o passar do tempo, sua vida deu uma guinada quando conheceu Roland Penrose em Cairo e o seguiu para Londres, onde começou a trabalhar como correspondente de guerra para a British Vogue. O filme destaca este período crucial de sua vida, durante a Segunda Guerra Mundial, quando Lee usou seu talento para documentar e capturar imagens impactantes que revelariam o horror do conflito e o sofrimento humano.
Winslet, em sua interpretação de Lee, está recebendo uma grande quantidade de reconhecimento e elogios, com uma nomeação ao prêmio de Melhor Atriz no Golden Globe por seu desempenho notável. Em uma entrevista com The Hollywood Reporter Roma, ela discutiu os desafios enfrentados durante a realização deste filme independente e destacou como a história de Lee Miller continua a inspirar mulheres a terem sucesso em um mundo dominado por homens.
Uma das questões que permeou a entrevista foi a necessidade de contar a história de Lee na atualidade. Winslet destacou: “Lee Miller foi uma mulher que contribuiu enormemente para a documentação visual das verdades sobre o regime nazista. Ela foi uma das primeiras fotojornalistas e, apesar de ser mulher, conseguiu abrir seu caminho em ambientes dominados por homens.” Essa declaração enfatiza a relevância do legado de Miller e a necessidade corriqueira de refletir sobre a luta das mulheres em média e seu impacto histórico.
Além de refletir sobre a importância de Miller, Winslet também destacou os desafios que as mulheres ainda enfrentam hoje em relação ao empoderamento. “É importante lembrar que, há 80 anos, Lee Miller já estava redefinindo a feminilidade. Ela personificava resiliência, força e determinação, e isso é algo que devemos ensinar às próximas gerações.” As palavras de Winslet soam como um chamado não apenas para a apreciação da luta de figuras como Miller, mas também para a continuidade dessa batalha por igualdade em nossos dias.
Levantando questões contemporâneas, Winslet concluiu observando: “Precisamos olhar para pessoas como ela para inspiração e liderança. A coragem dela em confrontar os horrores da guerra e sua determinação em fornecer uma narrativa autêntica é algo do qual todos podemos aprender. Criar este filme foi uma verdadeira honra.”
A produção “Lee”, que já se anticipa como uma forte concorrente na temporada de premiações, certamente deixará um impacto duradouro na representação da vida e legado de uma das mulheres mais influentes na fotografia do século XX. Em tempos em que a narrativa feminina ainda luta por espaço nas telas, a história contada por Winslet e Kuras é uma prova de que vozes ousadas e histoires poderosas devem continuar sendo celebradas.