Para mais informações sobre o senador Joe Manchin da Virgínia Ocidental, assista ao “Inside Politics com Manu Raju” da CNN, que vai ao ar às 8h e 11h ET.
O senador Joe Manchin, conhecido por seu papel como um importante voto de equilíbrio no Senado, prepara-se para deixar o Congresso após quase 15 anos de serviço, enquanto se distancia ainda mais de seu antigo partido, o Partido Democrata, ao qual se desvinculou e registrou como independente no início deste ano. Em uma entrevista abrangente concedida a Manu Raju da CNN, Manchin não se conteve ao descrever a marca do partido como “tóxica”, uma avaliação que não apenas reflete seu descontentamento pessoal, mas também parece ecoar o descontentamento de muitos eleitores moderados, que se sentem cada vez mais desconectados das diretrizes progressistas que dominaram as discussões políticas recentes.
“A marca dos democratas foi tão desfigurada que é, simplesmente, tóxica”, afirmou Manchin na referida entrevista, destacando o motivo pelo qual decidiu deixar o partido. Ele atribui essa transformação à crescente influência de figuras progressistas que, segundo ele, perderam a conexão com a maioria dos americanos. Essa percepção tem ganhado força, especialmente em um momento em que os cidadãos se preocupam com questões mais fundamentais do dia a dia, como empregos e economia, em oposição a assuntos sociais mais sensíveis onde os democratas parecem ter focado sua atenção.
Manchin descreveu a atual direção do Partido Democrata como uma tentativa de controlar a vida dos cidadãos, culpando os progressistas por essa mudança. Em suas palavras, os democratas se tornaram mais sobre “dizer às pessoas o que podem e o que não podem fazer”, algo que ele considera um afastamento das raízes do que os democratas costumavam representar. Durante o auge de sua carreira política, Manchin sempre acreditou que os desafios a serem enfrentados no Congresso deveriam girar em torno de questões que impactam o cidadão comum, como segurança no emprego e responsabilidade fiscal, e não sobre debates polarizadores que apenas reforçam as divisões entre liberais e conservadores.
Embora critique o seu antigo partido, Manchin também não poupou os republicanos de suas críticas. Ele alegou que estes também não assumem a responsabilidade necessária, especialmente sobre a questão da dívida nacional, e acredita que é preciso ter senso comum em questões como controle de armas. Para ele, é essencial não atacar indiscriminadamente direitos dos cidadãos, mas também promover uma responsabilidade maior na maneira como as armas são adquiridas. “Não vou proibir você de comprá-las, mas você deve mostrar responsabilidade”, acrescentou. O senador mencionou também que a polarização extrema não beneficia o eleitorado e que os candidatos devem buscar um equilíbrio ao abordar questões importantes.
Esse cenário de oposição não acaba por aqui. Durante a entrevista, Manchin comentou sobre o desentendimento que se formou dentro da própria estrutura dos democratas, especialmente em relação às visões sobre liderança e estratégia nas próximas eleições. Em resposta a um comentário do novo presidente do Caucus Progressista da Câmara, Greg Casar, que sugeriu que os democratas teriam uma chance melhor nas eleições se fossem mais parecidos com os progressistas e menos como Manchin, o senador respondeu de forma contundente, chamando isso de “completamente insano”. Ele destacou que as pessoas nos Estados Unidos já tiveram a chance de votar e elas já fizeram sua escolha, sugerindo que o resultado das eleições é um reflexo de um país que se sente nostálgico pelas suas raízes centristas.
A visão de Manchin vai além apenas de críticas. Ele vê a possibilidade de criar um espaço para candidatos moderados na política americana, tendo inclusive considerado a ideia de um terceiro partido que ele chamaria de “Partido Americano”, que serviria como um abrigo para democratas e republicanos moderados que se sentem deslocados por posições extremas de ambos os lados. Apesar de não querer liderar esse projeto, Manchin acredita que existe um desejo por uma alternativa viável. “A votação moderada decide quem será o presidente dos Estados Unidos. E quando eles chegam ao poder, eles não governam dessa maneira. Ambos os lados se afastam para seus respectivos cantos”, disse ele, enfatizando que uma voz centrista poderia ajudar a criar um ambiente político mais colaborativo.
Enquanto Manchin reflete sobre sua carreira, ele se despede da política com um olhar nostálgico, reconhecendo que teve a honra de servir o povo da Virgínia Ocidental e contribuir para seu país. No entanto, a sua saída do Senado acontece em um momento em que o partido republicano assume a maioria na câmara, o que pode alterar o curso de muitas discussões políticas nos próximos anos. “Não acho que sentirei falta do Senado”, disse Manchin, que foi claro em sua frustração com o sistema político atual. Ele ainda comentou que se sente um pouco triste pela situação do Congresso, fazendo um paralelo com a Câmara, que ele considera “ainda pior” em termos de funcionamento e eficiência. Com um misto de desejo por mudança e um lamento por suas experiências, Manchin se despede da política, mas suas observações e críticas ressoam entre muitos que sentem a falta de um espaço para diálogo moderado e construtivo no cenário político atual.
A CNN agradece ainda aos colaboradores dessa reportagem: Manu Raju, Aaron Pellish, Clare Foran e Matt Holt.