Nota da editora: Mary Frances Ruskell é uma estudante do último ano na Heathwood Hall Episcopal School, em Columbia, Carolina do Sul.
A busca por uma vaga em uma universidade tem se tornado um desafio crescente para os estudantes do ensino médio. Essa pressão é exacerbada por um ambiente repleto de informações, especialmente nas redes sociais, que criam expectativas muitas vezes irreais sobre o que é necessário para se destacar em um processo de admissão já competitivo. Uma aluna do último ano compartilha suas reflexões sobre as pressões que jovens enfrentam nessa jornada. A cada dia, mais adolescentes são atraídos pela ideia de que devem realizar feitos extraordinários para serem notados pelos comitês de admissão. O que leva uma estudante de 14 anos a sentir que seu tempo está se esgotando? A resposta, segundo Mary Frances Ruskell, não é apenas uma questão de ambição, mas é profundamente enraizada na influência da cultura moderna e das redes sociais.
Durante seu primeiro ano de ensino médio, Mary Frances se viu desesperada por não ter criado um coração humano sintético, fundado uma startup de tecnologia, escrito uma ópera ou arrecadado dez milhões de dólares para caridade. Embora estivesse envolvida em atividades como atletismo, coral de catedral e ensinando crianças pequenas a praticar caiaque, a pressão para ser excepcional era palpável. O que a motivou a acreditar que deveria estar fazendo algo a mais? Esse tipo de comparação social, alimentada pelas mídias sociais, não é apenas um jogo de egos, mas uma armadilha que pode causar ansiedade e palpitantes crises emocionais.
Muitos jovens são bombardeados com o que Mary Frances descreve como “atividades extracurriculares exageradas”. Essa pressão não vem apenas de pais ou professores, mas de mídias sociais que se tornaram uma plataforma para compartilhar as realizações, fracassos e tudo mais exibido em vídeos que detalham processos de admissão em universidades. Os vídeos que mostram históricos de estudantes, notas e atividades semelhantes são atraentes e viciantes, mas normalmente retratam uma realidade distorcida — as histórias de sucesso costumam começar com uma longa lista de rejeições, apresentada em caixas vermelhas que destacam o que não funcionou antes de revelar as aceitas em letras verdes.
Um exemplo notável é o de um estudante que se ofereceu para ter sua história compartilhad desde a apresentação de seu conteúdo em formatos que viralizam, descrevendo todos os feitos notáveis ao mesmo tempo em que revelava suas rejeições de escolas prestigiadas como Harvard e Yale. Essa prática não conta apenas a história dos triunfos, mas também a narrativa do fracasso, o que cria uma atmosfera de pânico. Como se não bastasse, os comentários recheados de desespero põem em dúvida as chances de muitos alunos, que se questionam sobre seus próprios potenciais e esperanças.
Além das redes sociais, o ambiente escolar também é um lugar de comparação constante. Mary Frances relata que muitos de seus colegas hesitam em se candidatar a universidades de prestígio ao perceber que outros com quem competem se consideram “estudantes melhores”. Dessa forma, olhares atentos às realizações dos outros resultam em sentimentos de inadequação. Curiosamente, muitos estudantes que conseguiram ingressar em Ivy League ou outras instituições respeitáveis nunca foram reconhecidos por suas conquistas extraordinárias, mas pela dedicação em aulas rigorosas e um envolvimento equilibrado em atividades que não necessariamente precisam ser grandiosas para serem significativas.
Com o aumento das taxas de ansiedade entre os jovens, o papel das redes sociais no que se refere à autoimagem está se tornando cada vez mais crítico. Elementos como o investimento constante em conteúdos que promovem comparações ascendentes são particularmente danosos. Um estudo publicado no Journal of Behavioral Addictions, observou que esse tipo de comparação está relacionado a baixa autoestima e depressão. Portanto, é compreensível que jovens se sintam pressionados, especialmente em um ambiente onde toda e qualquer informação sobre programas de aceitação e estatísticas escolares estão disponíveis com apenas um clique.
A realidade é que, agora, os estudantes do ensino médio podem comparar-se não apenas com os colegas na sala de aula, mas com o mundo todo. A evolução tecnológica oferece acesso a perfis de classes admitidas, faixas de pontuação do SAT, e as taxas de aceitação que moldam a maneira como as escolas se comunicam com seus futuros estudantes. Esta ilusão de que existe uma fórmula mágica para o sucesso nas admissões acaba deixando muitos adolescentes ansiosos e desanimados.
Alguns jovens optaram por uma abordagem mais saudável, decidindo afastar-se dos conteúdos que consideram prejudiciais à sua autoconfiança. Como Mary Frances, que eliminou da sua vida aqueles vídeos no YouTube que a deixavam nervosa, enquanto priorizava um uso de redes sociais que não incluísse seguir criadores que amplificavam a pressão cultural. Segundo Kyungyong Lim, um criador de conteúdo que posta sobre admissões universitárias, sua intenção nunca foi gerar ansiedade. Ele sugere que os estudantes bloqueiem seu conteúdo se ele se mostrar negativo.
‘Nós nos sentimos compelidos a assistir’, ela conclui, ‘mas é essencial lembrar que não somos apenas números. Cada um de nós tem sua própria história e o que pode funcionar para um pode não se aplicar a outro.’ Mary Frances reflete sobre o quanto as coisas eram diferentes para seus pais em sua época e questiona até que ponto as redes sociais moldam o futuro dos jovens.
No final, a mensagem é clara: enquanto a pressão por padrões elevados pode parecer insuportável, é crucial lembrar que cada jornada é única. Na busca por um futuro melhor, o mais importante é a capacidade de cada um de se autoavaliar sem as lentes distorcidas que as redes sociais oferecem, reafirmando que a busca por identidade é tão válida quanto a busca pela aceitação.
Leia Também: Assine a nossa newsletter “Stress, But Less” para estratégias de mindfulness que ajudam na gestão da ansiedade.