UFO 50, uma ambiciosa coleção de 50 jogos retro-inspirados, é muito mais do que uma simples nostalgia direcionada; ela é uma celebração do espírito experimental dos videogames. Lançada em 22 de dezembro de 2024, por Grace Benfell, a coletânea se destaca por oferecer uma diversidade extraordinária de experiências, misturando jogos de ação intensa, quebra-cabeças inteligentes e até mesmo um RPG narrativo completo. Essa compilação não se limita a relembrar o passado, mas também respira uma nova vida ao design de jogos, revelando um vasto potencial criativo que vai além da simples evocação dos clássicos.
Logo de cara, pode parecer estranho afirmar que uma coleção tão recheada de jogos desafiadores e inspiradores não carrega consigo um peso nostálgico. Contudo, UFO 50 é uma compilação que transforma essa nostalgia em uma busca pela experimentação. As influências são evidentes; jogos como Magical Garden lembre o clássico Snake, enquanto Valtress se assemelha a uma fusão entre Kid Icarus e Downwell. No entanto, o que realmente se destaca é o foco na cultura de game jams dos anos 2000, que serviu de ponto de partida para o desenvolvimento desses jogos. Ao contrário de uma simples reinterpretação de títulos retro, UFO 50 se aprofunda em uma busca por limitações criativas, onde a simplicidade de cada jogo serve não apenas para entreter, mas para expandir as possibilidades de uso de cada pixel.
Essa mentalidade de minimalismo permite que os jogos apresentem densidade mecânica e complexidade, enfatizando o fator replay, derivado de um design cuidadoso, em vez de depender de uma grande quantidade de conteúdo. Em UFO 50, menos é mais: cada jogo oferece somente os controles essenciais, muitas vezes sem tutoriais explícitos, um tributo aos jogos de arcade clássicos, que não precisavam de uma folha de dicas para prender a atenção do jogador. Essa abordagem resulta em uma sensação de espaço aberto, como se a experiência de videogame pudesse ser qualquer coisa que o jogador desejasse. É um sopro de ar fresco em um mercado que muitas vezes busca imitar o que é popular, ao invés de explorar o que é possível. O visual retro serve a dois propósitos principais dentro dessa coleção: primeiro, mantém os jogos leves e diretos, e segundo, concentra-se nas decisões e ideias individuais de cada título, apresentando diferentes mundos e experiências dentro da mesma estrutura.
Dentre as joias da coletânea, um dos jogos mais notáveis é Mooncat, um desafiador quebra-cabeça de plataforma que utiliza apenas dois botões. Logo no início, o jogador deve decifrar como controlar a creatura protagonista, que se move de maneiras não convencionais, provocando uma sensação de descoberta e inovação a cada nova jogada. O charme visual é inegável, e o design artístico combina elementos bizarras e sombrios, criando atmosferas que vão de campos verdes a tumbas antigas intercaladas com esqueletos gigantes. Esta é uma experiência que seria inimaginável como um produto comercial até mesmo nos anos 80, e demonstra claramente que UFO 50 é uma coleção dedicada à experimentação.
A narrativa metajogo de UFO 50 contribui ainda mais para sua singularidade, proporcionando uma experiência de ‘escavação’ ao invés de um mero retorno ao passado. A introdução se desenrola com a equipe fictícia do UFO 50 descobrindo uma antiga console em uma unidade de armazenamento, e essa escolha deliberada de ambientação reflete o propósito do jogo: não revisitar clássicos, mas explorar o inesperado. Ao navegar por jogos cobertos de teias de aranha, o ato de selecionar um título não jogado se transforma em um momento de descoberta, um convite a essa nova experiência, o que radicalmente contrasta com outras coleções retro que apelam a memórias nostálgicas. Em vez de oferecer uma viagem no tempo, UFO 50 nos sugere que devemos olhar para o futuro dos jogos através da lente desse passado escondido.
Contudo, enquanto UFO 50 se destaca como uma experiência rica e diversificada, não deixa de ressoar uma certa melancolia. A crítica Liz Ryerson descreve o jogo como uma reflexão sobre a “inocência perdida dos jogos e o que poderiam ser antes de se tornarem uma indústria cultural dominante.” Neste cenário atual, os jogos mainstream costumam se restringir a um conjunto estreito de gêneros, enfatizando tarefas repetitivas e megasorvimentos de conteúdo. Enquanto jogos como Call of Duty e experiências de mundo aberto da Ubisoft dominam o mercado, a essência experimental tem sido deixada de lado, e UFO 50 é um raro lembrete de que a inovação e a audácia ainda têm um lugar no mundo dos videogames.
Por fim, UFO 50 é uma celebração do potencial criativo e da curiosidade no universo dos videogames. É uma obra-prima que não só respeita o passado, mas que também estimula a exploração e a descoberta. O desejo de encontrar novos caminhos por meio de uma abordagem respeitosa às raízes do design de jogos nos leva a uma nova (e necessária) reflexão sobre o futuro da indústria. Em um mundo saturado de sequências e reinvenções superficiais, UFO 50 é um passo ousado e refrescante que promete expandir a relação do jogador com os videogames. Assim, a experiência que essa coletânea proporciona não deve ser apenas observada, mas celebrada e, acima de tudo, explorada. É um tributo a todos os que se lembram das raízes do jogo, ao mesmo tempo que convida novos jogadores a descobrir um mundo de possibilidades que ainda estão por vir.