Na cena contemporânea do cinema chinês, um novo filme tem chamado a atenção tanto por seu sucesso de bilheteira quanto por sua provocante mensagem social. “Her Story” estreou em 22 de novembro e rapidamente se tornou um dos maiores sucessos da indústria cinematográfica do país. Com uma arrecadação superior a 680 milhões de yuan (aproximadamente 93 milhões de dólares), o filme foi aclamado não apenas por seu enredo envolvente, mas também por sua representação ousada do empoderamento feminino e suas críticas às normas de gênero enraizadas na sociedade chinesa. Contudo, nem todos estão satisfeitos, e a recepção do público, especialmente entre os homens, revela um choque cultural em meio às inovações criativas do filme.

A trama se desenrola na vibrante cidade de Xangai e é centrada na vida de três mulheres, que incluem uma mãe solteira independente, sua filha curiosa de nove anos e uma nova vizinha que se define como uma “romântica sóbria”. O filme não hesita em abordar questões que muitas vezes são evitadas em discussões abertas, como a menstruação e a responsabilidade masculina. Uma cena marcante apresenta uma garotinha que, em uma conversa à mesa, destaca que “mais da metade da população mundial menstruou”. Essa atitude franca tem sido amplamente celebrada nas redes sociais chinesas, onde o filme é frequentemente comparado a “Barbie” por seu retrato do empoderamento feminino.

A resposta do público tem sido intensa e apaixonada. No site de críticas de filme Douban, “Her Story” alcançou uma impressionante classificação de 9,1 em 10. As críticas destacam não apenas o humor do filme, mas também sua capacidade de abordar questões sociais críticas com leveza e inteligência. A crítica social, embutida nas entrelinhas das cenas, faz menção à dura realidade do isolamento durante os lockdowns da pandemia e ao declínio do jornalismo, questões que ressoam fortemente com os espectadores que vivenciaram esses eventos.

Entretanto, o sucesso do filme não é compartilhado por todos. Nas redes sociais, alguns homens expressaram indignação, chamando “Her Story” de provocador de “antagonismo de gênero”. As reações adversas não são surpreendentes, visto que o Partido Comunista Chinês tem uma história de repressão ao ativismo feminino e discursos críticos, especialmente aqueles que não se encaixam em sua ideologia. Nos últimos anos, várias ações contra feministas foram tomadas, incluindo a detenção de ativistas por tentativas de protesto contra o assédio sexual, além de sentenças que visam silenciar vozes críticas ao patriarcado.

O debate que surgiu em torno de “Her Story” não se limitou apenas ao desempenho do filme nas bilheteiras, mas também incitou discussões mais profundas sobre as tensões de gênero existentes na sociedade chinesa. Enquanto o filme é amplamente elogiado por mulheres que se identificam com os personagens e suas lutas, muitos homens têm criticado o que consideram uma representação distorcida de suas experiências. Um espectador masculino que assistiu ao filme comentou que, apesar de a trama parecer ofensiva para muitos homens, ele a achou “objeto e suave”, expressando uma visão mais moderada que diverge de atitudes mais extremas observadas em plataformas como Hupu, onde o filme recebeu baixas classificações.

Além da crítica de gênero, “Her Story” também traz sutilezas que foram notadas por membros da comunidade LGBTQ+. Durante o filme, detalhes discretos, como a inclusão de bandeiras arco-íris em segundo plano, foram celebrados como uma vitória dentro da indústria cinematográfica que frequentemente energeticamente censura essas representações. Um dos muitos comentários que giraram em torno do filme ressaltou a dificuldade de ver questões de diversidade e inclusão abordadas de modo tão delicado em um cinema que muitas vezes se ajusta rigidamente aos padrões tradicionais.

A polarização nas reações às cenas do filme é um reflexo do que ocorre em outras partes do mundo, e eventos semelhantes foram observados com o lançamento de “Barbie” nos Estados Unidos. Tais semelhanças levam muitos a questionar se o cinema realmente pode ser uma ferramenta para promover mudança social ou se é apenas um espaço para discussão temporária de questões mais profundas. Em uma sociedade que está lentamente começando a desafiar suas normas de gênero, “Her Story” se destaca como uma obra que, mesmo em sua leveza, provoca discussões necessárias.

Em conclusão, “Her Story” não é apenas uma resposta a “Barbie”; é um marco no movimento cinematográfico feminino na China, que não apenas diverte, mas também empodera e provoca reflexão. A luta por igualdade de gênero e a luta contra normas sociais antiquadas são temas universais que atravessam fronteiras, e a recepção de “Her Story” pode muito bem ser um reflexo do estado atual das relações de gênero em diferentes partes do mundo. Resta agora observar como o impacto deste filme pode moldar a discussão sobre feminismo e masculinidade no futuro próximo, tanto na China quanto globalmente.

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