A recente visita do Vice-Presidente Kamala Harris e do ex-Presidente Donald Trump ao estado de Michigan, ocorrida na sexta-feira passada, evidencia a importância desse território nas eleições presidenciais de 2024. A luta por Michigan, que conta com 15 votos do Colégio Eleitoral, revela-se acirrada, uma vez que ambos os candidatos buscam conquistar o suporte de uma população que se tornou cada vez mais diversificada e politicamente ativa. A estratégia de ambos os lados foca principalmente na mobilização em condados populosos e com significativos índices de votação, como o Condado de Oakland, localizado ao noroeste de Detroit, onde uma mistura de eleitores educados e trabalhadores da classe média sublinha um desafio particular para o ex-presidente Trump.
Kamala Harris, durante seu discurso em Waterford Township, criticou Trump, afirmando que ele é “cheio de grandes promessas, mas sempre falha em cumpri-las” e o acusou de ser “um dos maiores responsáveis pela perda de empregos de manufatura na história americana.” Com seu discurso voltado para a classe trabalhadora, a vice-presidente enfatizou seu compromisso em apoiar sindicatos e ressaltou a necessidade de adaptar as ofertas de trabalho, visando aumentar as oportunidades para pessoas sem diploma universitário. Essa abordagem foi também levada a cabo em sua apresentação em Grand Rapids, cidade que, nas eleições de 2016, havia favorecido Trump, mas que em 2020 se alinhou a Joe Biden, assim como em Lansing, onde atacou a gestão do ex-presidente em questões industriais e afirmou que ele “não é amigo da classe trabalhadora.”
Por outro lado, Trump, que se apresentou em Oakland County antes de encerrar o dia com um comício em Detroit, adotou uma retórica de revitalização da indústria automotiva americana, propondo a implementação de tarifas elevadas sobre veículos importados. Durante sua visita, Trump assegurou que a palavra “tarifa” é, em sua visão, mais apreciada do que o amor, refletindo sua convicção de que a proteção ao setor nacional impulsionará o crescimento econômico. Michigan, Wisconsin e Pensilvânia, frequentemente referidos como o “muro azul”, são estados cruciais que tiveram um papel determinante nas eleições anteriores. Embora Michigan tenha apoiado Biden por uma margem de aproximadamente 154.000 votos em 2020, sua vitória de Trump em 2016, que foi por menos de 11.000 votos, não pode ser esquecida, já que quebrou a sequência de vitórias democratas que existiram ali desde 1992.
A movimentação em Michigan está sendo acompanhada de perto, com mais de 944.000 votos antecipados já contabilizados, correspondendo a 13% do eleitorado registrado ativo. Ambas as campanhas centram esforços em grupos eleitorais específicos, incluindo trabalhadores de sindicatos, eleitores negros, moderados suburbano e a comunidade árabe-americana, um grupo que expressa descontentamento com a forma como a administração Biden tem lidado com o conflito em Gaza.
Trump, em sua incursão a Hamtramck, cuja população é predominantemente muçulmana e árabe-americana, fez questão de se reunir com o prefeito da cidade, Amer Ghalib, que recentemente declarou seu apoio ao ex-presidente. Em resposta a preocupações sobre imigração levantadas pelo prefeito, Trump desqualificou as alegações de que ele estaria ameaçando deportar imigrantes, chamando-as de “fake news”. Além disso, ao falar sobre suas interações com a política externa, Trump elogiou as ações do Primeiro-Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, criticando Biden por supostamente tentar restringir a capacidade de Netanyahu de agir no cenário internacional. Esse tipo de retórica busca angariar apoio entre os eleitores árabes-americanos, que frequentemente se sentiram marginais no debate político mais amplo.
A tarde de Harris, em Waterford Township, incluiu menções ao impacto que os recentes conflitos em Gaza tiveram sobre a comunidade árabe-americana. Ela reconheceu as dificuldades enfrentadas por este grupo e reafirmou o apoio de líderes árabe-americanos, enquanto propunha uma nova abordagem à diplomacia e sugere que a morte do líder do Hamas, Yahya Sinwar, pode abrir espaço para negociações que levem a um cessar-fogo. Como parte de sua retórica, Harris argumentou que é crítico aproveitar a oportunidade para fomentar a paz e acabar com o sofrimento em Gaza, um tema que ressoa fortemente entre membros da comunidade árabe-americana que desejam ver uma solução para o conflito na região.
No entanto, a estratégia de Trump de conquistar a classe trabalhadora em Michigan contrasta com os discursos de Harris, que aproveitaram as palavras do ex-presidente para criticar seu tratamento dos trabalhadores. Ao exibir vídeos de Trump menosprezando os trabalhadores automotivos, Harris buscou reverter o apoio que alguns eleitores de classe trabalhadora poderiam ter para o ex-presidente, enfatizando a complexidade e o valor do trabalho dos funcionários do setor automotivo. Durante seu discurso, ela deixou claro que os trabalhadores não fazem parte do “clube” de Trump e que seu valor e reconhecimento são fundamentais para a reconstrução da imagem da classe trabalhadora.
O retorno de Trump a Detroit também foi marcado por polêmicas, já que em sua visita anterior ele havia menosprezado a cidade, que chamou de “nação em desenvolvimento”, e alertou que uma vitória de Harris poderia levar a um estado ainda pior para o desempenho econômico da cidade. Em resposta, o PAC Fight Like Hell da Governadora democrata Gretchen Whitmer lançou um anúncio no rádio destacando as falas depreciativas de Trump sobre Detroit, ressaltando que esta cidade e seus cidadãos sempre demonstraram resiliência e não se dão por vencidos.
Com a proximidade das eleições, ambos os candidatos tentam fortalecer suas mensagens e conquistar eleitores cruciais em uma batalha que promete ser uma das mais disputadas da história recente. As dinâmicas complexas envolvendo questões raciais, de classe e políticas externas em um estado tão emblemático como Michigan não só moldarão o futuro político do local, mas também poderão influenciar decisivamente o resultado da eleição nacional de 2024.