Em um relato de resistência impressionante e determinação, duas escaladoras, Fay Manners e Michelle Dvorak, enfrentaram uma grave adversidade durante sua tentativa de se tornarem as primeiras a conquistar o pico de Chaukhamba III, localizado no majestoso Himalaia. Após um infortúnio que resultou na perda de equipamentos essenciais, as alpinistas ficaram presas por três dias em condições climáticas extremas, sem alimentos e com recursos limitados. Sua história, marcada pelo susto, resiliência e a coragem de pedir ajuda, trouxe à tona não apenas a dureza do alpinismo, mas também a solidariedade que se manifesta em momentos de crise.
No dia 27 de setembro, Manners, uma britânica residente na França, e Dvorak, uma americana, iniciaram sua ambiciosa jornada para escalar esta montanha de quase 7.000 metros. O percurso em direção ao montanha foi cheio de desafios, incluindo gelo, rocha e trechos estreitos. Com uma escolha consciente de um caminho complicado, que contornava um labirinto de profundas fendas e precários pontes de neve, elas enfrentaram o que consideravam obstáculos quase intransponíveis. A escalada, que exigiu treinamento rigoroso e preparação meticulosa, levou três tentativas apenas para que elas conseguissem atingir a base da montanha.
Durante a escalada, a degradação do equipamento foi implacável. Um incidente particularmente angustiante ocorreu quando uma rocha em queda cortou a corda que sustentava a mochila de Manners, fazendo com que todos os suprimentos vitais, incluindo barracas, fogão, alimentos e equipamentos de escalada, fossem perdidos. “O que eu realmente lembro é de ver a mochila descer a montanha e ficar em choque”, contou Manners em uma postagem no Instagram posteriormente. Ao invés de medo pela proteção de suas vidas, a reação inicial das escaladoras foi de devastação pela interrupção de um sonho que estavam tão perto de atingir.
Sem o equipamento necessário e com a perspectiva de retornar pela trilha de difícil acesso tornando-se quase impossível, as duas decidiram acionar os serviços de emergência. No entanto, a gravidade da situação se intensificou quando os helicópteros enviados para localizá-las não conseguiram encontrar as escaladoras nos vastos flancos da montanha nos dias seguintes. Ravindra Singh Negi, responsável pela comunicação do distrito de Chamoli, em Uttarakhand, confirmou que a operação de resgate envolveu a Força Aérea Indiana e a Força de Resposta a Desastres do Estado, além do Instituto Nehru de Montanhismo. Apesar dos esforços, a busca não foi bem-sucedida.
Durante os três dias aguardando resgate, a situação se tornou crítica. As escaladoras conseguiram se alimentar apenas de duas barras de energia que tinham. Sem um fogão para derreter neve, e portanto, sem acesso à água, elas enfrentaram situações desesperadoras para se manter hidratadas. A condição climática, já desfavorável, se deteriorou ainda mais, culminando em uma tempestade de neve, granizo e até mesmo uma avalanche. As temperaturas noturnas atingiram até –15 graus Celsius, levando Manners a descrever que estava próxima da hipotermia, com a sensação de frio sendo tão intensa que se viu obrigando sua companheira a segurar suas pernas para tentar aquecê-la.
Diante de um cenário iminente de morte e ao perceber a necessidade de agir para salvar suas vidas, Manners e Dvorak começaram a descer pela montanha na manhã seguinte, mesmo que seus corpos estivessem enfraquecidos e desorientados. Conhecendo os riscos de lesões sérias ou quedas em fendas, as duas mulheres avançaram com cautela através de uma densa névoa. Ao final da descida, avistaram um grupo de montanhistas franceses, que não estavam apenas em busca da mesma conquista, mas que também foram acionados pelos serviços de resgate indianos após o insucesso nas tentativas de localização das alpinistas.
O emocionante encontro com a equipe francesa trouxe um alívio inexplicável para os corações aflitos de Manners e Dvorak. Ao reconhecerem que foram resgatadas, Manners expressou a liberação emocional que sentiu naquele instante. Com a ajuda dos franceses, as duas conseguiram chegar ao acampamento base, onde se alimentaram da comida que seus salvadores trouxeram. Finalmente, a Força Aérea Indiana as transportou para um hospital em Joshimath, onde foram avaliadas e puderam se recuperar do trauma vivido. Até o momento, ambas estão a salvo e sem ferimentos significativos, prontas para retornar ao conforto de seus lares.
A experiência, embora aterradora, não diminuiu o desejo de Manners de continuar explorando as montanhas. Ela ainda pretende tentar escalar Chaukhamba III novamente no ano seguinte e, possivelmente, ao lado da equipe francesa que as ajudou. Manners deseja que a história delas inspire outras mulheres a se envolverem no montanhismo, ressaltando a força e a resiliência que demonstraram em meio a grandes dificuldades. Ela espera que as pessoas vejam em sua experiência o retrato de mulheres que podem superar desafios e sobreviver em situações extremas, reafirmando a importância da coragem e da solidariedade em momentos de crise.