No cenário tecnológico atual, as plataformas de código aberto enfrentam desafios complexos, muitas vezes relacionados à liderança e à governança. Recentemente, uma disputa entre Matt Mullenweg, co-criador do WordPress, e o WP Engine — um provedor de hospedagem web — acendeu um acalorado debate sobre o futuro da plataforma. Este conflito resultou em uma liminar preliminar em favor do WP Engine, o que levou Mullenweg a anunciar uma pausa nas operações do WordPress.org, o portal que oferece acesso a plugins, temas e outros recursos da comunidade. O assunto não pode ser ignorado, uma vez que afeta milhões de usuários e desenvolvedores que dependem do WordPress como seu CMS favorito.

De acordo com o comunicado de Mullenweg, o WordPress.org interromperá temporariamente a oferta de serviços gratuitos, incluindo registros de novas contas, novas publicações de plugins e temas, submissões para diretórios de fotos e revisões de plugins. Este anúncio gerou reações dentro da comunidade, levando o ex-CEO do Yoast, Joost de Valk, a escrever um post, onde defendia uma abordagem federada e independente para o WordPress. O CEO da consultoria de web Crowd Favorite, Karim Marucchi, também se juntou ao coro, apoiando a ideia em uma postagem separada.

A essência da proposta de de Valk destaca a necessidade de uma discussão sobre a liderança dentro da comunidade do WordPress. Ele questionou se a comunidade estava disposta a ser liderada por uma única pessoa que poderia tomar decisões que nem sempre seriam do agrado de todos. “Para um projeto cujo lema é ‘Democratizando a publicação’, temos estado muito aquém dessa expectativa”, afirmou de Valk. Ele propôs a criação de uma entidade semelhante à WordPress Foundation para liderar o projeto e sugeriu que todos os ativos da comunidade, como temas e plugins, fossem transferidos para essa nova entidade. Além disso, ele propôs que a marca WordPress fosse cedida ao domínio público, uma proposta que certamente provocaria debates acalorados entre os membros da comunidade.

Um dos pontos cruciais levantados por de Valk diz respeito à necessidade de que todos os espelhos de plugins sejam federados, permitindo a troca de dados entre esses servidores. A situação que levou à criação de uma nova versão do plugin “Advanced Custom Fields” — agora chamado de “Secure Custom Fields” — foi um exemplo de como não se deve proceder, uma vez que ocorreu após a proibição do WP Engine de acessar o WordPress.org. A complexidade que surge quando o controle é centralizado só reforça a visão de de Valk sobre a necessidade de descentralização.

Em resposta ao post de de Valk, Mullenweg comentou que um projeto envolvendo essa nova abordagem deve ser realizado sob um nome diferente de WordPress. Ele enfatizou a importância de começar do zero em termos de marca e percepção pública, o que indica que um rebranding poderia ser um passo necessário para a viabilidade do projeto proposto.

A tensão entre Mullenweg e o WP Engine não surgiu do nada; desde setembro, quando as disputas começaram, muitos na comunidade questionaram a estrutura de governança do WordPress. Mais recentemente, um grupo de 20 signatários, incluindo contribuidores chave do WordPress, publicou uma carta aberta criticando as ações de Mullenweg e clamando por “soluções voltadas à comunidade”. A defesa rigorosa de Mullenweg do modelo atual de funcionamento da comunidade contrasta com as vozes que clamam por mudanças estruturais.

Para os próximos passos, de Valk afirmou que conversaria com líderes da comunidade do WordPress em janeiro, com a intenção de traçar um caminho a seguir. O WP Engine acolheu essa iniciativa, afirmando seu compromisso em colaborar com outros líderes do setor. “O sucesso do WordPress como o CMS mais utilizado não é a conquista de uma única pessoa ou um único pedaço de código aberto. É o resultado de uma comunidade global — milhares de desenvolvedores, agências, empresas e outros — que investiram seu tempo, talento, confiança e recursos na advocacia, apoio e construção do ecossistema global do WordPress”, afirmou a empresa.

As discussões e propostas em torno da governança do WordPress revelam um momento decisivo para a comunidade. A maneira como serão abordadas as questões de liderança e estrutura tem potencial para moldar o futuro da plataforma e, consequentemente, o da internet como um todo. Permitir que a comunidade tome as rédeas pode ser o caminho para um WordPress mais democrático e inclusivo, onde todos os seus membros se sintam verdadeiramente representados.

Aguardaremos os desenvolvimentos nas conversas de janeiro, enquanto a comunidade do WordPress reflete sobre a sua identidade e o papel que cada um pode desempenhar no futuro dessa plataforma que revolucionou a forma como publicamos conteúdo online.

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