O Natal, uma época de celebração e reflexão, revela-se em 2024 como um momento de incertezas e desafios para as comunidades cristãs do Oriente Médio. Enquanto os fiéis se reúnem para as festividades, o contexto de instability política e guerra paira sobre suas celebrações, especialmente em países como Síria, Libano e nas terras palestinas. A celebração do Natal, que tradicionalmente simboliza esperança e renovação, é marcada por um ambiente de temor e adaptação, refletindo a realidade de um povo que anseia por paz em meio a um cenário tumultuado.
Recentemente, a vida da comunidade cristã na Síria tornou-se ainda mais complexa com a presença do grupo rebelde islâmico Hayat Tahrir Al-Sham, que assumiu o controle de grande parte do território. Após a bem-sucedida campanha para derrubar o regime de Bashar al-Assad, os cristãos sírios vivem uma nova era de incertezas. Apesar de promessas de proteção às igrejas e propriedades, muitos ainda hesitam em se envolver plenamente nas festividades, temendo ataques de elementos armados não alinhados com o HTS. George, um católico residente de Damasco, expressa seu receio: “Hayat Tahrir Al-Sham não anunciou nada que impeça nossas celebrações, mas há cristãos que preferem não sair por medo de ataques.” Esta declaração revela o profundo impacto que a insegurança tem na psique das comunidades locais.
Entretanto, mesmo com a preocupação constante, as tradições de Natal perseveram. Árvores de Natal e decorações festivas adornam os bairros cristãos de Damasco, e as celebrações, embora reduzidas, continuam. Hilda Haskour, uma residente de Aleppo, é uma das muitas que se preparam para a celebração, mas não sem uma pitada de apreensão. “Só queremos viver em paz e segurança”, ela afirma, refletindo o sentimento de muitos que anseiam por um tempo de tranquilidade em meio ao caos que os rodeia.
A Triste Realidade em Belém: Um Natal sem Festividades Plenas
No entanto, a situação não é melhor em Belém, onde a ausência de festividades completas se torna uma dor emocional para muitos. Após a eclosão do conflito em Gaza, que começou com um ataque do Hamas em 7 de outubro, a cidade, considerada o berço de Jesus, enfrenta severas restrições. O prefeito de Belém, Anton Salman, comentou sobre a situação, destacando que a cidade sofreu uma “severa isolação” e que a economia local, antes vibrante durante as festividades de Natal, está estagnada, com uma perda de receitas estimada em pelo menos 600 milhões de dólares e uma taxa de desemprego que supera os 36%.
Este Natal, a celebração será estritamente religiosa, de acordo com Salman, “em solidariedade com o povo palestino em Gaza e por um repúdio à opressão e injustiça que enfrentam.” As celebrações nas comunidades cristãs se transformaram, portanto, em momentos de oração e reflexão, em vez da festividade comum que a época normalmente traz.
A Resiliência Continua nas Comunidades Cristãs
Embora a realidade de Belém se apresente sombria, a mensagem de esperança ressoa em meio à dor. Durante uma missa no fim de semana, o cardeal Pierbattista Pizzaballa confortou os fiéis, afirmando: “A guerra vai acabar, e nós iremos reconstruir novamente, mas devemos guardar nossos corações para sermos capazes de reconstruir. Nós amamos vocês, então nunca tenham medo e nunca desistam.” Um testamento à resiliência de um povo que, embora sobrecarregado pela adversidade, mantém a fé em dias melhores.
O Natal em Líbano: Um Sopro de Esperança e Alegria
Enquanto isso, no Líbano, as festividades natalinas estão tomando forma em meio a um novo clima de otimismo, impulsionado por um recente cessar-fogo entre o Hezbollah e Israel. As ruas de Beirute se enchem de luzes e decorações festivas, e as famílias estão entusiasmadas para se reunir. “Meu irmão está voltando de Nova Iorque só para celebrar com nossa mãe”, compartilha Tony Batte, um católico armênio que destaca o desejo da comunidade de se reconectar e celebrar a vida, mesmo diante das adversidades significativas que o país enfrentou recentemente.
Embora o Líbano tenha sido afetado pela guerra e pela instabilidade, existe um desejo intrínseco entre os residentes de encontrar um caminho para a paz e estabilidade. O sentimento de exaustão com o conflito é palpável, como menciona Tony: “Queremos estabilidade, estamos cansados. Cada libanês está cansado, não apenas os cristãos.”
Conclusão: O Natal como Símbolo de Esperança
O Natal desta ano no Oriente Médio não é apenas uma celebração, mas um ato de resistência e esperança. Em cada oração, em cada tradição mantida, os cristãos na Síria, na Palestina e no Líbano demonstram uma determinação inabalável de celebrar suas crenças e sua cultura, mesmo quando enfrentam o mais profundo dos desafios. Cada voz que se eleva em celebração se torna um testemunho de que, apesar da adversidade, o espírito do Natal—de amor, solidariedade e renovação—perdura, oferecendo um vislumbre de esperança em tempos tumultuosos.