Data: 17 de dezembro de 2024
Autor: Kendall Daniels
No cenário atual da medicina, o alívio da dor crônica continua sendo um desafio significativo, afetando milhões de pessoas em todo o mundo. Agora, uma equipe de pesquisadores da Escola de Medicina da UNC (Universidade da Carolina do Norte) trouxe uma nova esperança para os pacientes, apresentando uma terapia gênica inovadora que pode interromper os receptores da dor. Essa pesquisa, liderada por Bryan L. Roth, MD, PhD, e Grégory Scherrer, PharmD, PhD, representa um avanço significativo no tratamento de condições que envolvem dor neuropática e crônica.
Dentre os pilares da pesquisa contemporânea, a dor é encarada como um mecanismo de defesa essencial. Essa sensação intensa nos alerta sobre lesões, danos nervosos ou infecções, permitindo que tomemos ações para evitar danos adicionais. Entretanto, em muitos casos, essa dor se torna crônica, afetando profundamente a qualidade de vida do indivíduo. A capacidade de simplesmente desligar os receptores de dor, proposta por essa nova pesquisa, poderia revolucionar o tratamento da dor crônica, transformando a forma como os médicos abordam esse problema complexo.
A inovação apresenta-se através da utilização de uma ferramenta que foi desenhada por Roth nos anos 2000, resultando em um sistema que reduz significativamente a dor inflamatória induzida por lesões em modelos de camundongos. Os pesquisadores conseguem realizar esse feito utilizando um agente quimogenético com a capacidade de desligar os neurônios que sentem dor. Dentre as potencialidades deste sistema, Roth menciona que, ao ser administrado através de um vetor viral, o paciente poderia ingerir um comprimido inerte que desativaria os neurônios responsáveis pela dor, resultando em um alívio instantâneo.
A jornada pela quimogenética e sua aplicação em terapias
A quimogenética é um campo que busca mapear e manipular os múltiplos tipos de células e circuitos neurais do cérebro humano, o que é crucial para o desenvolvimento de tratamentos eficazes para condições neurológicas. Roth, durante sua trajetória acadêmica, buscava por soluções farmacológicas que garantissem tratamentos efetivos sem causar efeitos colaterais indesejados. Foi nesse contexto que ele utilizou a técnica de evolução molecular dirigida, criando um receptor artificial que poderia ser ativado apenas em presença de uma substância inerte.
A partir de 2005, Roth refinou as bases da quimogenética, criando receptores que operam como uma “chave e fechadura” moleculares. Isso permitiu uma manipulação precisa de neurônios, possibilitando que cientistas realizassem modificações seletivas no sistema nervoso eleita, uma solução revolucionária para os problemas neuropsiquiátricos. O uso dessa tecnologia se expandiu entre os pesquisadores de neurociência, tornando-se essencial para o diagnóstico e intervenção em diversas condições, como depressão, abuso de substâncias, epilepsia e esquizofrenia.
A nova esperança no tratamento da dor periférica e terapias gênicas
Focando agora na dor periférica, que envolve a resposta física e sensorial do corpo, os pesquisadores enfrentaram desafios técnicos devido à complexidade da interligação entre o sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico (SNP). Cada neurônio do corpo humano que não pertence ao SNC é parte do SNP, e este último é responsável pela comunicação sensorial e pelo controle de processos involuntários. O desafio, conforme destacado por Scherrer, surgiu da necessidade de desenvolver uma abordagem focada o suficiente para impactar apenas o SNP, isolando os receptores e compostos que atuam exclusivamente nessa área.
Após um período de pesquisa de sete anos, Roth e Scherrer lograram êxito em adaptar os receptores HCA2, que geralmente são ativados pela vitamina B3, de modo que agora se ligam somente ao composto FCH-2296413, que possui efeito exclusivo no SNP. Com isso, o sistema quimogenético, nomeado mHCAD, interfere na capacidade dos nociceptores, tornando mais difícil a transmissão das informações de dor para a medula espinhal e cérebro. Essa descoberta abre portas para um novo entendimento sobre como a dor é processada pelo corpo e, quem sabe, um futuro em que dores crônicas possam ser tratadas de maneira eficaz.
Perspectivas futuras e o papel das iniciativas em neurociência
Com a tecnologia de Roth sendo integrada à Iniciativa BRAIN (Brain Research Through Advancing Innovative Neurotechnologies®), que visa mapear cada célula do cérebro humano e cada circuito neural, a aplicação de quimogenética em estudos de neurônios do SNP promete enriquecer nosso conhecimento sobre como a dor e outras sensações são experimentadas. O potencial para descobrir novos alvos celulares que podem ser manipulados para tratar doenças é evidente, e essa descoberta impactará de maneira significativa o campo da somatossensorial.
O que antes parecia ser uma utopia científica, agora se firma como uma realidade promissora que, futuramente, pode transformar o tratamento de dor crônica. A importância dessas tecnologias inovadoras não apenas ilumina o caminho para novas terapias, mas também exemplifica o poder da investigação científica em oferecer soluções para problemas que afetam muitos em todo o mundo. E quem sabe um dia, essa técnica possa se transformar na chave para um mundo sem dor — um desejo que todos nós podemos compartilhar.
Contato com a mídia: Kendall Daniels Rovinsky, Especialista em Comunicação, UNC Health | UNC School of Medicine
Categorias: Neurologia, Notícias, Farmacologia, Pesquisa, Sinais Vitais
Tags: Neurociência, Farmacologia, Comunicados de Imprensa, Centro de Câncer UNC Lineberger, Escola de Medicina UNC