A autora sul-coreana Han Kang recebeu o prestigioso Prêmio Nobel de Literatura em 2024, uma conquista que ressalta não apenas seu talento literário, mas também sua capacidade de abordar temas profundos e complexos relacionados à fragilidade da vida humana e aos traumas históricos. O prêmio, que foi anunciado na Suécia, destaca a prosa “poética intensa” de Han, elogiada por sua habilidade em confrontar questões de grande relevância social e emocional que reverberam na condição humana. Han, aos 53 anos, fez história ao se tornar a primeira escritora da Coreia do Sul a receber esse reconhecimento, além de ser a décima oitava mulher a ser laureada ao longo dos mais de 120 anos de existência do Prêmio Nobel de Literatura.
A Carreira Literária de Han Kang e Seus Principais Trabalhos
A trajetória literária de Han teve início em uma revista sul-coreana, onde publicou uma coletânea de poemas. Desde então, seu desenvolvimento como escritora foi marcado pela produção de obras em prosa, tendo feito sua estreia significativa em 1995. O seu livro mais notável, “A Vegana”, publicado originalmente em coreano, ganhou destaque internacional após ser traduzido para o inglês por Deborah Smith. Esta obra, que em 2016 conquistou o Man Booker International Prize, captura a jornada de uma jovem mulher que, após ser atormentada por pesadelos envolvendo a crueldade humana, busca uma existência mais “vegetal”. A narrativa destaca os dilemas existenciais e a busca pela identidade em meio a tais conflitos internos.
Além de “A Vegana”, outro trabalho-chave de Han é o romance “Human Acts”, publicado em 2014, que reflete sobre o levante de Gwangju em 1980, um episódio sombrio da história sul-coreana em que mais de 100 civis foram mortos durante manifestações pro-democráticas. Por meio de uma prosa que revela a interconexão entre os vivos e os mortos, Han oferece uma visão profunda sobre como as memórias de violências históricas atravessam gerações. Essa narrativa não só explora o impacto do trauma, mas também serve como um testamento da resiliência diante da brutalidade que a sociedade enfrenta.
Reconhecimento da Academia Sueca e Importância de Seus Temas
O comitê da Academia Sueca elogiou a obra de Han Kang por sua “consciência única das conexões entre o corpo e a alma, os vivos e os mortos.” Através de seu estilo poético e experimental, Han se estabeleceu como uma inovadora na prosa contemporânea. Anna-Karin Palm, membro do comitê, recomendou aos leitores que não estão familiarizados com sua obra que comecem por “Human Acts”, do qual ela salientou a profundidade com que aborda as marcas deixadas por traumas coletivos em uma população.
Palm observou também que a escrita “intensa e lírica” de Han funciona quase como um consolo frente à violência histórica, apresentando uma prosa “tender e precisa” como uma contraparte ao que descreveu como “ruídos brutais do poder”. Essa nuance em sua escrita faz com que as obras de Han ressoem não apenas no âmbito literário, mas também no social, capturando a atenção de leitores que buscam compreender as complexidades da existência humana e as lições do passado.
Os Bastidores da Decisão e a Celebração da Vitória
Antes do anúncio do prêmio, Ellen Mattson, outra membro do comitê, detalhou o processo meticuloso que envolve a seleção do laureado em literatura. Este processo inclui a consideração de uma lista inicial com cerca de 220 nomes, que é progressivamente reduzida a aproximadamente 20, antes de se chegar a um shortlist com cinco autores. Durante essa fase, os membros do comitê são responsáveis por ler integralmente a obra dos candidatos, um trabalho que exige dedicação e rigor analítico para identificar o vencedor.
Na cerimônia de divulgação do prêmio, Mats Malm, secretário permanente da Academia Sueca, revelou que Han Kang estava em um dia comum, tendo acabado de jantar com seu filho, quando teve a notícia da premiação. Ele destacou que, embora ela não estivesse totalmente preparada para tal reconhecimento, começaram a discutir os preparativos para a cerimônia de entrega do prêmio, que ocorrerá em Estocolmo no dia 10 de dezembro, em comemoração ao legado de Alfred Nobel, falecido em 1896. A premiação de Han não apenas celebra sua singular contribuição à literatura, mas também amplifica a voz de uma autora cujas obras têm ressoado profundamente nas discussões contemporâneas sobre a experiência humana.